Ainda não percebi bem o súbito interesse dos media nacionais pelas Honduras. Não há por aí assuntos mais interessantes e com implicações mais graves por esse mundo fora? Assim de repente lembro-me da encruzilhada afegã e das centrais nucleares no Irão. Eu sei, já cansa falar disto. É sempre bom variar. Ainda por cima mete homens com chapéus de cowboy e malta meio exótica. Tipo Sinhozinho Malta.
Esta espécie de passeata das américas lembra aquelas histórias de época: os homens ficam a fumar charuto na sala e as mulheres dedicam-se aos bordados.
As crónicas sobre memórias são sempre sobre solidão; um envio de um SOS ao mundo (obrigadinho senhor Sting); uma conversa entre velhos amigos que a vida separou; entre amigos que o seriam se o espaço ou as circunstâncias os tivesse juntado.
Dizemos frases, contamos episódios, descrevemos experiências, na esperança, consciente ou inconsciente, de sentir um suspiro nostálgico do nosso ouvinte, um sussurro de “eh pá, pois foi”, uma palmada nas costas de “não me digas que também lá estiveste”, um abraço silencioso sentido e lacrimejante.
Não sei se ao remexermos nas nossas memórias buscamos algo que nos aproxime dos outros ou se andamos à procura de nós próprios. Sentimo-nos simplesmente perdidos ou muito sós.
Fifticomanóin, fifticomafunft, numa mensagem via computador, transforma-se numa pontezinha para uma memória comum. Patinagem artística. Manhãs, tardes e noites passadas a ver uns tipos e tipas vestidos de fatos de lantejoulas colados ao corpo a deslizar no gelo. Não me lembro dum único nome dos artistas, da designação de um passo, de uma dança gloriosa ou fracassada.
Vejo, vagamente, na minha memória, quedas e saltos; uns miúdos arquejantes e ansiosos sentados, acompanhados pelos, imagino, seus treinadores esperando as sentenças dos juízes da competição.
Fifticomanóin, fifticomafunft, isso ouço, ainda hoje, claramente na minha cabeça. Vinte ou trinta anos depois, o ritmo sincopado das notas técnicas e artísticas leva-me para outro tempo. Só meu, julgava eu.
A passagem do tempo foi-me convencendo que as memórias eram só minhas ou que só eu era o nobre guardião dum património que os outros tinham deitado fora.
Os biliões de zeros e uns, necessários àquela transmissão cibernética, transformaram-se num ténue laço que durante alguns minutos nos fazem sentir parte de um passado comum. De um mundo, se calhar, melhor que era o nosso, quando as coisas eram mais simples, a implicação do que dizíamos ou defendíamos só a nós diziam respeito, quando nem percepcionávamos um mundo longe das bandas que idolatrávamos, das roupas que nos definiam, dos valores absolutos que não discutíamos mas utilizávamos na definitiva luta contra um inimigo real ou imaginário.
Aquelas palavras foram a prova de que há momentos que podem estar perdidos no tempo mas não estão perdidos na nossa memória e que é esta, no fundo, que nos salva da solidão e do desencanto.
Fifticomanóin, fifticomafunft.
A Neo-Ottomanism: entrevista ao conselheiro para a política externa do Primeiro ministro turco, Erdogan.
The Turkish Puzzle, do Ricardo Borges de Castro.
The Political Internet, de Yussef Al-Dini.
Olha, aquele programa com o Medina Carreira. Ao menos poupavam-me à hora de almoço, não?
Ainda não há conclusões sobre os atentados na Rússia. De qualquer forma, parece que não me enganei muito se se confirmar o renascimento das actividades radicais islâmicas.
A cerimónia do Prémio Ângelo d' Almeida Ribeiro 2009 é dia 10 de Dezembro, na Ordem, às 18h. (aqui)
In the first instance the record itself was absolutely tuneless. One can have great concern for the people of Ethiopia, but it's another thing to inflict daily torture on the people of England. It was an awful record considering the mass of talent involved.
Morrissey
É pá, não consigo arranjar nenhum vídeo ao vivo. O Interiors é um dos melhores discos da segunda metade dos anos 90.
Bande à Part (2006)
Nouvelle Vague
Põe-te a pau, Luciano. Não tarda estão-te a chamar Passista, depois passas a sócratista e, sem que percebas como, és um vendido aos sinistros poderes instituídos (é uma coisa que mete palmadinhas nas costas, o amigo Oliveira, a PT, a On-Going, a Maçonaria, o PGR, o STJ e outros que tais e outros que tais).
Nada na tua opinião será livre e honesto, irás ser um terrível táctico ao serviço de um grande plano.
Foge enquanto podes.
Não digo isto para "condenar" o jornalismo que chega um pouco atrasado ao debate ou a alguns "preciosismos" - até porque se limita a citar o inquérito em curso no Reino Unido -, mas a aparente "novidade" que esta notícia parece querer transmitir vem com pelo menos uns seis anos de atraso. Claro que quem sai menorizado é o próprio inquérito, não a jornalista. Primeiro, porque John Kampfner (2003) e o próprio embaixador em Washington - citado na peça do JN - já tinham mencionado nos seus livros a posição definida do gabinete de Blair sobre a inevitabilidade da intervenção militar no Iraque.
Christopher Meyer, inclusivé, cita nas suas memórias (2006)uma Cabinet Office note de Julho de 2002, onde recordava o compromisso de Blair com Bush, após o encontro em Crawford de Abril desse ano: "a Grã-Bretanha iria apoiar uma acção militar para trazer uma mudança de regime, desde que algumas condições fossem cumpridas - tinham de ser feitos esforços para construir uma coligação que molde a opinião pública; a crise israelo-palestiniana travada; e as opções esgotadas para eliminar o programa de armas de destruição maciça iraquiano pelos inspectores." (DC Confidential, pp. 245-246 e por mim citado em Blair, a Moral e o Poder, p. 180). A questão já não era, nesta altura, se iria haver guerra, mas em que termos ela iria ser travada.
Se calhar ler mais livros ajudaria a chegar a horas aos debates.
A candidatura de Jorge Bacelar Gouveia à distrital de Lisboa do PSD conta com apoiantes de peso: António Preto, Helena Lopes da Costa e Pacheco Pereira.
Cedo se percebeu a intenção de Gordon Brown: passar a imagem justicialista sob a decisão mais polémica da década governativa do New Labour, a tempo das eleições de 2010, sabendo que do inquérito não resultaria nenhuma decisão juridicamente vinculativa. Por outras palavras, o escrutínio público seria realizado e a Brown, mesmo que membro do executivo, nunca cairia a acusação de pretender esconder o que quer que fosse. O comité nomeado por Brown é presidido por um histórico civil servant, John Chilcot, e mais quatro reputados membros, incluindo Lawrence Freedman - autor da doutrina de intervenção humanitária de Blair e base do seu comportamento internacional - e Martin Gilbert, biógrafo de Churchill e confesso admirador de George W. Bush e Blair.
Este é aliás o quinto inquérito sobre o mesmo tema, com consequências políticas conhecidas: Blair venceu três eleições seguidas, a última das quais em 2005. Mas desde 2003 que Londres gastou no Iraque qualquer coisa como 500 milhões de libras. Milhares de militares e civis foram enviados para o terreno dando corpo ao projecto de "expansão democrática" desenvolvido por Washington e seguido por Londres, embora com algumas nuances importantes, como a estratégia de regime change.
Se a ideia é encontrar responsáveis, então dê-se força jurídica ao inquérito. Se é para perceber como o governo levou a cabo um processo de decisão complexo, que se deixe passar o tempo histórico habitual nestes casos e se delegue aos académicos essa tarefa. Até parece que Brown quer desviar as atenções de outros problemas.
Hoje no i.
A reportagem do Gonçalo Venâncio no Afeganistão. (aqui)
dddd
E que tal uma comissão para acompanhar quem acompanha os que acompanham o conselho de prevenção da corrupção e outra para acompanhar os que acompanham os processos sobre corrupção nos tribunais?
Tenho muito orgulho em ter tido o prof. Germano Marques da Silva como meu professor.
De acordo com alguns espíritos inquietos com a barbárie actual, parece que se juntarmos estes dois sambistas com o Ahmadinejad fazemos uma "nova ordem internacional". Depois não se queixem.
califone - funeral singers from Califone on Vimeo.
O I, no último fim de semana, garantia que Marcelo Rebelo de Sousa seria candidato à liderança do PSD. Mais, o seu director até fez um editorial aconselhando o professor nas suas futuras tarefas. Era assim certa a candidatura e, claro está, a vitória nas eleições internas. Entretanto ignoravam-se olimpicamente as outras candidaturas.
Domingo, Rebelo de Sousa reafirmou que não seria candidato. Os jornais de segunda-feira, ou não acreditaram ou não viram a alocução do professor e continuaram a dizer que ele seria candidato.
Consta que amanhã o antigo Presidente do PSD vem, de novo, dizer que não é candidato.
Espero ansiosamente a reacção das pessoas que garantiram que o Prof. Marcelo seria candidato. É que isto levanta uma série de questões que dizem respeito à actividade jornalística e para as quais não tenho resposta. Por exemplo: se um cidadão diz claramente que vai fazer uma coisa, o que leva um jornalista a dizer que irá fazer outra?
Como é evidente não estou a falar de opinião – nesse caso está-se apenas a chamar mentiroso a alguém. Nada disso. Estou a falar de uma notícia em que se diz que alguém vai fazer aquilo que disse que não faria.
Não sei...
Na semana em que Obama viu ser recusado o pacote negocial proposto ao Irão e em que a NATO e Israel se aproximaram em exercícios no Mediterrâneo, as forças armadas iranianas começaram intensos treinos militares com vista à "defesa das instalações nucleares", enquanto Ahmadinejad iniciou visita ao Brasil e à Venezuela. O que nos dizem estes factos? Primeiro, que o regime de sanções não resultou, o regime não colapsou e a ameaça perdura. Segundo, estes exercícios querem alertar a região, em especial Telavive e Riade, sobre as intenções do regime caso seja alvo de ataque .
Terceiro, Israel sedimenta a aproximação à Aliança Atlântica obtendo, assim, alguma amplitude internacional perante a opção militar contra as bases nucleares: é uma resposta ao relatório Goldstone da ONU e uma forma de se assumir como parceiro credível da NATO contra o tráfico marítimo, poucos dias depois de terem interceptado um carregamento de armas em águas cipriotas, ao que tudo indica com origem no Irão e como destino ao apetrechamento do Hezzbollah. Por fim, o presidente do Irão procura apoios internacionais no eixo do carnaval. O uso da força não tem estado no debate com a pertinência que eventualmente justificaria. Esse debate também não existiu quando Israel, em 2007, de forma cirúrgica e categórica, destruiu uma instalação nuclear na Síria. Lembram-se? Provavelmente, já não.
Hoje no i.
Arab Facebook (Caryle Murphy)
Juhayman's Sins (Khaled Al-Mushawah)
The nosy neighbour (Manuel Almeida)
O meu lado infantil obriga-me a isto: cada vez que o Francesco Totti é protagonista em Itália eu, aqui em Portugal, sinto-me uma criança deslumbrada em frente ao ídolo. Um jogador genial como ele, há 16 anos consecutivos a levar uma cidade como Roma às costas, inclusivamente ao scudetto (2001) é, para qualquer pessoa que vibra com o calcio e já teve a sorte de viver naquela cidade, o resumo daquele fantástico país: todas as emoções, boas e más, estão com alguém, são culpa de alguém, devem-se a alguém. Roma é Totti e Totti é Itália.
Em 2002 tive a sorte de assistir ao derby com a Lázio, na mítica curva sud do Olímpico. Um estádio a rebentar pelas costuras, uma tarde repleta de confrontos fora do estádio (entrei de gatas, sob uma chuva de petardos) e duas equipas que vinham de títulos recentes: a Lázio em 99-00 e a Roma em 2001-2002. Além disso, na época anterior os giallorossi tinham feito história no derby, com os célebres 5-1, o tal dos quatro golos de Montella. No aquecimento já dava para perceber o que aí vinha. Toda a bancada que já foi dos cucs em pé e a celebrar com cânticos cada um dos seus guerreiros. Totti foi o primeiro a entrar em campo e o último a sair terminado o aquecimento. Nesse momento, Panucci já tinha entregue a sua camisola aos adeptos. Tão diferente de cá, não é? Cada parte é vista de pé e a cantar ininterruptamente. O barulho é tal que quase não se ouve quem está ao nosso lado e muito menos o que vem da superior contrária. Ao intervalo, zero a zero. No final, 2-2, com um penalty falhado pela Lázio a poucos minutos do fim e com um golo de Gabriel Omar Batistuta celebrado nas minhas barbas . Muito mais que um jogo de futebol, era Roma inteira que ali estava.
Ontem, depois de inúmeras operações e lesões, Totti marcou mais três golos no campeonato. É o melhor marcador do calcio. A Roma está nesta altura em 11º na classificação. Roma é Totti. Totti é Itália.
Lá vai uma, lá vão duas. Esperamos ansiosamente pela terceira onda.
Pois claro, uma maçada esta história de se ter de ir a votos.