Esta foi a década da blogosfera e muitos de nós devem-lhe quase tudo. Não sou um blogger típico: evito polémicas, não ando aqui a vasculhar intrigas e mexericos, escrevo umas coisas e vou à minha vida. Se repararem, este blog nem links para outros blogs tem. Também, por isso, não será um blog típico. De qualquer forma, para mim, esta década é marcada pela bloga. Pela renovada liberdade de escrever, pelos inúmeros talentos que se descobriram, pelos debates que aí se geraram, pelas amizades que daí resultaram. Não é perfeita, às vezes mete um nojo do caraças, mas sempre é melhor existir mais este espaço de liberdade e criatividade do que não existir absolutamente nada.
Por isto, deixo aqui dois abraços a dois bons amigos, neste último dia de uma década para mim inesquecível: o Paulo Pinto Mascarenhas, que criou a minha bloga, e o Pedro Marques Lopes, que a partilha diariamente comigo. Bom 2010!
Há três anos atrás percebi um pouco mais do que era a política internacional. Não foram precisos livros ou artigos, palestras ou reportagens. Bastou juntar diariamente à volta de uma mesa durante três meses um sérvio, uma albanesa, um romeno, um bósnio, um mongol, uma ucraniana, um cazaque, um azeri, um norte-americano, um russo, um tajique e uma checa. Duas horas por dia a debater e em simulações de crises internacionais com processos de decisão distribuídos por todos rigorosamente. Valeu por todos os livros que me chegaram a casa desde então.
Hoje, na Edição Internacional (RR/23.30h), uma antevisão de 2010: principais problemáticas, acontecimentos, protagonistas, actos eleitorais.
Seguindo as pisadas do meu amigo Pedro Adão e Silva, deixo aqui os dez discos que mais me acompanharam durante esta década.
Queens of the Stone Age - Songs for the Deaf
Pearl Jam - Riot Act
Artic Monkeys - Whatever People Say I am, That's What I am Not
Arcade Fire - Funeral
At the Drive-in - Relationship of Command
The Strokes - First Impressions of Earth
Deus - Pocket Revolution
Kings of Convenience - Riot on an Empty Street
LCD Soundsystem - Sound of Silver
Kings of Leon - Youth & Young Manhood
A terrific rock n' roll band...
Syria's state of play (Aaron David Miller)
Erratic diplomacy (Manuel Almeida)
Assad phase II (Stephen Glain)
A Token of Friendship (Saeed Al-Lawendi)
The Pains of Being Pure at Heart (2009)
The Pains of Being Pure at Heart
parece que estão 40 grauzitos...
You can take Shakira out of Colômbia but you can´t take Colômbia out of Shakira.
Quantos de nós pensámos que por cada ataque terrorista assinalado na televisão, umas dezenas podem estar a ser preparados na internet sem qualquer mediatismo? Quantas vezes olhámos para a proliferação de sites e chats de troca de informação como os novos campos de treino terrorista espalhados pelo mundo? Na última década estes sites passaram de uma centena para cima de cinco mil, de acordo apenas com os dados conhecidos. Em dez anos, o terrorismo islamita sobretudo, assentou arraiais na web, criou redes, comunicou propósitos, gerou imagens apetecíveis para muitos e mostrou resultados - raptos, decapitações, ameaças. Acreditem que ainda não estão satisfeitos.
Na próxima década todo este cenário pode agravar-se. Os estados que combatem o terrorismo conhecem cada vez melhor as suas práticas e é exactamente para fugir a este conhecimento que a plataforma online é trabalhada por profissionais. Tal como os cérebros do 11 de Setembro eram universitários integrados nas sociedades europeias, também a qualificação tecnológica define este tipo de terrorismo.
De acordo com um estudo da comissão internacional sobre não-proliferação nuclear e desarmamento, citado pelo "The Guardian" o Verão passado, o próximo patamar da ambição terrorista pode bem ser um ataque nuclear com origem na internet. O ciber-terrorismo já ensina a fabricar bombas, treinar recrutas, monitorizar ataques à distância ou captar financiamentos dos quatro cantos do mundo para pagar a massa cinzenta. Pode vir a ter, na próxima década, meios que lhe permita até não precisar do armamento nuclear do Paquistão para levar a sua avante. Talvez não fosse mau começar a pensar nisto a sério.
Hoje no i
Vai uma aposta que nenhum dos honrados e independentes opinadores, que ficaram em estado de choque com o trabalho da Sábado sobre investimentos governamentais em publicidade, dirá o que quer que seja sobre o que hoje aparece no DN?
Se a opinião choca contra os factos, são os factos que estão errados. Como é evidente. Aliás, quem não disser que o estudo da Marktest é uma aldrabice pegada e o da Sábado de uma transparência cristalina, é um apoiante do Governo e está a soldo de uns bandidos.
Então não é que o grande impulsionador das directas, Pedro Santana Lopes, parece já não gostar do sistema?
A proposta de Congresso extraordinário seria risível se não servisse para mostrar o grau de desespero e descontrole de quem ainda manda no PSD.
Discutir o país e o partido? Então não nos foi vendido que o Instituto Sá Carneiro tinha feito um levantamento exaustivo dos problemas e que tinha elaborado várias propostas? Servirá este congresso para humilhar a direcção cessante, mostrando que afinal não fizeram rigorosamente nada e deixaram o partido num estado pré-comatoso? O que será que ainda falta discutir sobre o país e o partido?
Tudo isto é demasiado patético para ser levado a sério.
Não seria mais fácil dizer que se quer inventar um congresso para atrasar ainda mais o processo de escolha do novo líder? Que se quer ganhar mais tempo para ver se há um cidadão social-democrata com coragem suficiente para concorrer com o único candidato que já anunciou a sua vontade?
Já não via o Porto jogar de uma maneira tão miserável há muitos, muitos anos.
Não quero saber se foi o Guarin ou o Hulk que não jogaram a ponta dum chavelho, foi a mariquice que me envergonhou.
Está na hora de mostrar aqueles rapazes a nossa sala de troféus e de lhes mostrar uns vídeos do João Pinto, André, Lima Pereira, Jorge Costa, Frasco e da rapaziada que fez do F.C. Porto o melhor clube de futebol português.
O José Manuel Fernandes, num pequeno intervalo entre tweets, ouviu o “Bloco Central”. Não gostou. Diz que vai ter mais cd´s no carro para evitar ouvir o programa.
Já suspeitava que o programa estava a correr bem.
Há coisa de meia dúzia de anos atrás, num qualquer pavilhão de Roma, dei por mim no backstage a beber uns canecos com estes gajos. Boa gente.
Cookin (1956)
Miles Davies
Estamos em Dezembro, está a chover, faz frio, as pessoas andam com cachecóis, gorros, casacões, vejam lá que até neva, há uns quantos despistes nas estradas molhadas, enfim, um mês maldito para se fazer uma conferência sobre alterações climáticas.
Para quando uma manifestação no Camões contra aqueles que, por exemplo, na Somália, são apedrejados até à morte depois de porem os palitos à mulher ou ao marido? Eu sei, agora não que está "de chuva".
Aos estados com responsabilidades no caso resta, aparentemente, uma de duas soluções perante a capacidade nuclear do Irão: perpetuar o inconsequente regime de sanções ou agir preventivamente contra as instalações do regime. Nenhuma delas é perfeita num processo que fugiu das mãos de todos, foi incentivado por uns quantos e acompanhou o descrédito do regime de não proliferação nuclear, aliás subscrito inicialmente por Teerão. Comecemos por aqui, até porque os factos são importantes para ilustrar o argumento.
Desde 1990, 22 países iniciaram ou reavivaram os seus programas nucleares - uns para fins energéticos, outros nem tanto -, sendo oito deles no Médio Oriente. Escuso de vincar a relação de desconfiança que existe entre Estados, etnias políticas e religiosas ou a influência que a guerra Irão-Iraque tem na doutrina de defesa nacional em Teerão: os aiatolas querem distância da surpresa e de uma mudança de regime com ou sem patrocínio externo. Reparem ainda na aceleração que esta ambição nuclear teve desde que Teerão tremeu com manifestações: recusaram fornecimento energético externo, anunciaram dez novas centrais e testaram mais um míssil com alcance de 2000 Km, o terceiro em apenas doze meses.
Ou seja, a sustentabilidade deste regime depende da sua capacidade nuclear para fins militares. Este é o princípio que nos conduz ao cenário dantesco: uma feroz corrida ao armamento nuclear na região (e não só), desestabilizando-a ainda mais e ameaçando as suas zonas de vizinhança: a Europa e a Ásia Central. Pior é impossível.
Hoje no i
Acabo de ouvir o Dr. Pacheco Pereira muito preocupado com as pessoas que andam a ser vilipendiadas por atacarem o governo. Muito gostava de saber quem são, mas ele, de certeza, que não diz.
Também gostava de saber o que é que ele entende por ataques ao governo, mas ele também não deve dizer.
Leio que morreu Yegor Gaidar, ex-Primeiro-ministro russo logo após a implosão da União Soviética. Tive a oportunidade de o entrevistar em Junho último, quando passou pelas conferências do Estoril, para a Edição Internacional da Renascença. Digamos que não transbordava saúde, embora com um sentido de humor apurado, um contraste com as actuais elites russas com quem mantinha uma tensa relação. Dedicou-se ao ensino depois de ter ensaiado um modelo económico talvez demasiado brusco para a Rússia de então. Agradeço à Renascença tê-lo conhecido.
O Pedro Lomba acha que o que aqui escrevi é dedicado a ele. Confesso não ter percebido bem se chegou a essa conclusão por ele próprio ou se lhe foi “soprado”. Dos muitos homens e mulheres que poderiam encaixar na minha “desonesta” teoria, eu teria de me lembrar obrigatoriamente do grande, do incontornável Pedro Lomba. Quem mais poderia ser? Mais, ele acha que o seu retrato está lá em linhas fortes. Eu cá não gostava de me identificar com o que escrevi mas ele lá sabe.
O Lomba queria que eu o identificasse. Aqui temos um pequeno problema. apesar de eu dever saber que devia obedecer ao Lomba, tenho a mania de só obedecer a quem me apetece. Às tantas o Lomba queria que eu lhe dedicasse um artigo ou, quem sabe, um programa de televisão. Tenho pena mas já tenho a agenda preenchida. Pode ser que o correr dos anos lhe faça bem – não está a correr nada bem mas tenho esperança – e eu me dê ao trabalho de analisar, não da maneira que ele fala dos outros, claro está, a personalidade do rapaz.
O Lomba também queria que eu seguisse as convenções – as dele, que são óbvias, podia lá ser de outra maneira – sobre polémicas. Cá vamos nós outra vez. Falha minha.
O Lomba diz que eu tenho um estilo “recadista”. Mais, diz que esse estilo em mim é uma constante. Esperava, confesso, uma longa lista reveladora desse estilo. Não deveria ser difícil: escrevo semanalmente para dois jornais, escrevo quase todos os dias neste blog e participo num programa de televisão e noutro de rádio todas as santas semanas – dou-lhe de barato as intervenções esporádicas noutros espaços. Mas, não, ao Lomba bastam-lhe dois artigos. Para cúmulo do azar fala do Pacheco Pereira que cito abundantemente em todos os espaços já referidos. É muito azar mesmo.
Ah, ia-me esquecendo. Parece que quem manda nos meios de informação onde trabalho gosta daquilo a que chamas estilo recadista. Mas, nós sabemos porquê, não é? As minhas posições agradam aos poderosos e aos maus governantes – definição com trade mark Lomba. Vai daí, essa malandragem mete-me em todo o lado e eu rapaz obediente, mal preparado e bronco (esta, ofereço-ta) faço tudo para lhes agradar.
O Lomba sabe bem que as minhas opiniões caem bem no círculo dos medíocres e prevaricadores. As coisas que ele sabe. O Lomba não só sabe quem são aqueles malandros – e como sabe de fonte seguríssima quem eles são, denuncia-os – como sabe que eles gostam de mim. É mesmo muito bom, o Lomba.
Pena que o Lomba esteja manifestamente confuso. Fica muito indignado – ele parece ser um rapaz muito dado à indignação, presumo que seja por ter passado a sua vida inteira a lutar contra os que lhe querem tirar a sua liberdade de expressão – com o meu texto e depois diz que não demonstro nada. E, desta forma, também me conseguiu confundir. Então eu não demonstrei nada e depois diz que a minha posição é das posições mais reaccionárias sobre a liberdade de expressão?
Eu gostava imenso de polemizar com o Lomba apesar de temer as suas imbatíveis capacidades, a sua imensa preparação, o seu conhecimento vastíssimo sobre as problemáticas da liberdade de imprensa, a sua inigualável sabedoria sobre o estilo “recadista” e a sua enormíssima experiência de vida – responsabilidades familiares, empresas, cargos públicos, viagens etc etc etc.
Para ele seria fácil. Além de eu não fazer ideia nenhuma do que ando para aí a dizer, de não estar preparado, de ser frágil (presumo que se esteja a referir às minhas capacidades intelectuais), de ser um ignorante – a dada altura chega à conclusão que afinal sei aquilo que pretendo, mas deve ter sido engano –, não sei as regras dum debate.
Era engraçado discutir a problemática da relação entre poder politico e investimentos em publicidade (quando escrevi sobre o assunto o Lomba devia estar distraído); sobre o que é batalha política e ofensas pessoais; o que são factos conhecidos, noticiados ou demonstráveis sobre os quais se emitem opiniões; o que são argumentos políticos e ataques à personalidade; as estratégias de condicionamento de opinião; o que é jornalismo e o que é opinião.
De toda a forma não me parece que o magnífico, o puro, o homem que sabe quem são os maus e os bons, o homem que sabe a quem se deve agradar e a quem se deve desagradar, o homem que sabe o que é a liberdade de expressão, esteja disposto a discutir com alguém que ele acha um covarde desonesto. Confesso, também não quero conversas com um deslumbrado armado ao pingarelho.
Eduardo, aprecio e agradeço a preocupação que demonstras pelas minhas crónicas. Se tiveres interesse nisso, passo-te a mandá-las antes de as mandar para o jornal para que me digas se estão coxas ou não. Até esse dia serei apenas eu o julgador da mais que provável incapacidade delas. Bom, eu e quem me paga para as escrever, esse tem sempre a possibilidade de correr comigo.
Eu vejo o que vejo, ouço o que ouço, leio o que leio e tiro as minhas próprias conclusões.
Desculpar-me-ás, mas quem descobriu a “percepção geral das coisas” não fui eu. Quem falou de comentários de café que sustentam opiniões mui doutas foste tu.
Mas vamos imaginar que – apesar do que já escrevi no post anterior – eu tenha chegado à minha teoria através dos tais comentários de café. O café que frequentas tem gente mais esclarecida do que o lugar onde eu vou beber a bica? Ou será que só tu é que tens capacidade de aferir da “percepção geral das coisas”? Aliás, já muitas vezes, ao vivo e a cores, chegamos à conclusão que temos uma percepção geral das coisas diferente.