O meu artigo hoje no Diário Económico.
A primeira leitura sobre a nomeação de John Kerry como secretário de Estado diz respeito à força do Senado na política externa. Não é só como aprovador ou travão de nomeações, como se viu com Susan Rice, mas pela posição determinante que tem na formulação e decisão da política externa dos EUA: na ajuda financeira (Paquistão e Egito, para não ir mais longe), na assinatura e rejeição de tratados, na monitorização de assuntos quentes com audições a especialistas (académicos e membros de think tanks), ou na subida à agenda da Casa Branca de temas atirados para as calendas (casos, no início dos anos 90, da Bósnia e alargamento da NATO). Os presidentes do seu Comité para as Relações Externas são políticos experientes, com projeção mediática e dos que têm a network interna e externa mais bem montada.
Hoje no Diário de Notícias
Podes enganar todos durante pouco tempo, alguns durante muito tempo, mas não podes enganar todos durante todo o tempo.
O Reino Unido perderia dimensão mundial, afastar-se-ia do processo de decisão europeu e, na busca do desejado "modelo norueguês" com Bruxelas, chegava à conclusão que o mesmo acarreta altas contribuições para o orçamento comunitário. Só que sem direito a voto. A ilha pode ter razões nas críticas à UE, mas a retirada seria ponto sem retorno: ao peso que conquistou na Europa e ao interesse de Washington na mitificada "relação especial".
Hoje no Diário de Notícias
O ANC está transformado num partido-estado. Com uma base negra e pobre (50% da população que vive com menos de dois dólares por dia é negra; 2% é branca) e uma corte poderosa e rica, a Presidência de Zuma tem sido incapaz de inverter o arrefecimento económico dos últimos anos, travar a queda do investimento estrangeiro (muito exposto à crise europeia), parar a proliferação de greves, autonomizar-se dos sindicatos e promover a integração social. Hoje, dois terços dos eleitores não têm memória direta do apartheid. Amanhã, sem Mandela, ninguém pode garantir que as feridas não se abrirão. Pelo trajeto feito, Zuma não é fator de união. A África do Sul merecia melhor.
Hoje no Diário de Notícias
Ouvi um amigo meu a fazer a lista das suas músicas de Natal. Também me apeteceu. Aí vão as primeiras cinco.
Edith Piaf "Le Noel de la Rue"
João Gilberto "Presente de Natal"
Ryuichi Sakamoto "Merry Christmas Mr. Lawrence"
Tom Waits "Christmas card from a hooker in Minneapolis"
Um tipo espera um ano e tal, escreve o que toda a gente disse, e convence as pessoas que descobriu a pólvora.
Aparentemente resulta.Vivendo e aprendendo.
AB’deki mevcut yaklaşımının nedeni de budur. Acho que está tudo dito.
Mas o regresso a Abe e ao PLD diz mais sobre o medo do desconhecido do que sobre a comodidade do rotativismo bipartidário. Mais: temos assistido ao teste do algodão no que toca ao determinismo entre interdependência económica e acalmia nas relações diplomáticas. Esta tese tem sido posta em causa exatamente na zona que mais cresce no mundo e cuja dinâmica de mercado regional mais tem acelerado: são constantes as disputas e a agressividade entre líderes. Ou seja, sem o primado da política responsável não há interdependência económica que valha à paz. É difícil acreditar que Abe faça o pleno.
Hoje no Diário de Notícias
Isto de se andar a elogiar o inefável Álvaro é a gozar, não é? Ou será que está, de facto, tudo doido?
Que América é esta que prefere a livre compra de armas à liberdade de uma inocente criança? Que outro país passa por tantos massacres permanentes em escolas? Em que outro país o fascínio por armas é constitucional e politicamente protegido? Em que outro país, de cada vez que um massacre como o de Connecticut acontece, os políticos dizem que não é hora para falar da lei, mas de chorar e rezar pelos mortos? Os EUA têm uma doença que se revela como nenhuma outra e ela não é nem a saúde mental dos monstros que tiram a vida a crianças numa escola nem é a cultura de violência com a qual os adolescentes crescem.
Hoje no Diário de Notícias
No final, o que conta para os opositores é muito mais quem fez o texto do que o seu conteúdo. O que leva a uma conclusão: não é a Constituição que está a levar o Egito à beira do abismo (e do FMI), é a batalha por poder entre forças políticas irreconciliáveis. Os militares estão à espreita.
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Um mês após a invasão do Iraque (2003), o embaixador suíço em Teerão levou uma carta do Governo iraniano até Washington, na qual era lançado um princípio negocial interessante: em troca do levantamento das sanções, Teerão aceitava uma monitorização ao seu programa nuclear e pararia o apoio militar ao Hamas e Hezbollah. Ao ver Saddam derrubado num abrir e fechar de olhos e com a economia em reforma, o Governo de Khatami temeu o colapso do caminho do regime. Mas quando Rumsfeld e Cheney souberam da iniciativa, confirmaram que a administração "não falava com o mal". Podia ter sido a oportunidade para tornar uma guerra maldita nas opiniões públicas num efeito colateral de resolução da proliferação nuclear na região e do apoio a movimentos que minam a segurança de Israel.
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Todas as 5ª feiras penso o mesmo: ficámos a conhecer a nova ambição de António Costa, que é controlar o PS.
E os freedom fighters, os combatentes pela liberdade de expressão de branco vestidos que garbosamente se manifestaram em frente à Assembleia da República, quando se vão manifestar?
Se a ideia é fazer o balanço da integração, não era preciso chegar à maior crise existencial da história europeia recente para o fazer. Ou, então, é mesmo por isso que se faz: para pôr dramatismo no momento. Ou arrumamos a casa ou ela desfaz-se. E é preciso um Nobel da Paz para sublinhar tamanha evidência? 900 mil euros não tinham melhor destino num laureado anónimo e lutador num desses sítios inóspitos espalhados pelo mundo, sem holofotes e bem-estar típicos de qualquer dirigente europeu privilegiado? Só dá relevância ao Nobel da Paz quem quer. O comité norueguês vai, a espaços, vincando essa mesma irrelevância. O resto do mundo segue dentro de momentos.
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Escutas em directo no telejornal. Processos em segredo de justiça debatidos em horário nobre. Histórias de velhinhas violadas no Prós e Contras. Um qualquer triste e invejoso pulha a difamar e a inventar histórias sobre pessoas a troco dumas festinhas na bronca cabeça. Abaixo assinados a favor de qualquer disparate. "Notícias" a pedido. Taxistas a debitar ódio. Lindo, vai ser lindo.
Os parlamentares noruegueses parecem embevecidos com o Nobel que atribuíram à União Europeia. Pena que nunca tenham feito nada para pôr a Noruega lá dentro.
Entende-se que alguém que partilhou a gestão do Benfica com Vale e Azevedo esteja preocupada com a criminalização do enriquecimento ilícito. Já se entende pior que uma Ministra da Justiça resolva mostrar um desprezo absoluto pelo Tribunal Constitucional e insista numa lei estúpida, até na sua própria formulação, e violadora dum principio fundamental do Estado de Direito.
Trabalhar a relação com os EUA para lá das Lajes devia estar a ser feito há muito. Mas como não há pensamento estratégico em Portugal - como tem alertado Miguel Monjardino - nem no MNE, acrescentaria eu, vivemos sob a ditadura das decisões alheias. Neste vazio, podia ser criado um conselho estratégico para a política externa e desenvolver nos Açores um polo de excelência em investigação e desenvolvimento, captando investimentos americano, brasileiro, angolano e da nossa diáspora nos EUA (mais de um milhão), promovendo este eixo central da nossa política externa e trabalhando as dimensões da relação transatlântica moderna: económica (é o maior bloco comercial do mundo), energética (ligando Atlântico Norte e Atlântico Sul no momento em que expandimos a nossa plataforma continental), securitária (tecnologia militar, política internacional), científica (medicina, engenharia). O Atlântico está bem vivo e tem um potencial enorme. Não pensar isto é tornar irrelevantes os Açores e mirrar ainda mais Portugal no mundo.
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Primeira, onde há défice e excesso de atenção americana? Washington despende recursos financeiros, políticos e militares em excesso no Médio Oriente e devia concentrar mais esforços na Ásia. Não é a segunda parte da resposta que é nova, é a ligação estratégica à primeira. É que se, por um lado, a administração procura um rumo que dê sentido ao fim da década Afeganistão/Iraque, por outro olha para o projeto de autonomia energética como fator determinante para racionalizar recursos no Médio Oriente.
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Portanto, só vamos beneficiar das novas condições de financiamento da Grécia quando estivermos como a Grécia.
Está tudo dito sobre o manifesto. Infelizmente, tudo.
Ou seja, o SPD é em casa o que Hollande é na Europa: uma enorme desilusão para quem acreditava poder representar uma alternativa às políticas de Merkel. Como aqui referi na altura, Hollande tinha tudo para ser o candidato preferido da chanceler, por ser impotente para a travar e ter, em sede europeia, de ir validando as suas teses. Não me enganei muito. A esta distância, só um cataclismo europeu tirará Merkel do cargo. Quem quiser o primeiro, terá a segunda de bandeja.
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