Fico sempre para o encanitado quando, a propósito ou sem propósito, um qualquer entrevistador pergunta a um cidadão porque é que joga golf.
Já em si própria a questão é irritante. Por muito que puxe pela memória não me lembro de ver ninguém perguntar a um tipo que gosta de jogar futebol, xadrez, chinquilho, hóquei em patins ou outro jogo qualquer, porque é que o pratica. Mas o que me faz mesmo perder a cabeça é o tom com que a pergunta é feita.
A coisa é sempre posta como se fosse preciso um acontecimento extraordinário para levar um homem ou uma mulher a jogar golf. Dá a ideia que o perguntador espera que nós digamos que foi uma espécie de revelação, uma epifania ou então que batemos com a cabeça em alguma coisa.
Recordo-me de ter respondido, quando me fizeram a peregrina pergunta, que não era preciso nenhuma razão especial para começar a jogar, que se começa a praticar o jogo como se inicia uma outra qualquer actividade. Aí, com um sorrisinho irónico, o jornalista resolveu contestar dizendo que não era bem assim. Segundo ele, não era muito normal pegar nuns tacos e numa bolinha e tentá-la meter num buraco pequenito a umas centenas de metros de distância. Pois claro, normal, normal, é um tipo calçar uns sapatos com rodinhas, pegar num bocado de madeira e tentar meter uma bola numa baliza onde está um tipo vestido de astronauta. Também não há a quem não apeteça atirar uma bola enorme para um cesto de papéis colocado a metros de altura ou vestir um robe e começar a gritar yaaaaas enquanto tenta atirar um outro cavalheiro ao chão.
Não me custa nada entender as pessoas que acham estes desportos fantásticos, e tenho a certeza que são capazes de tecer os mais rasgados elogios a essas actividades. Eu é mais golf.
Era capaz de perder umas horas a explicar a minha paixão pelo jogo e todas as lições que me tem dado, mas da próxima vez que me questionarem porque jogo, vou responder: comece a jogar, e daqui a dois anos veja lá se tem vontade de me fazer a mesma pergunta.
Para a Golfe Magazine de Outubro