Este é o meu último post no União de Facto. A evolução dos tempos na blogosfera e a falta de tempo para nos dedicarmos devidamente ao blog assim o ditaram. Muito obrigado ao Bernardo Pires de Lima e ao Pedro Marques Lopes pelo convite que me fizeram há alguns anos para me intrometer na sua união e um abraço também para o Francisco Teixeira. Foi um prazer escrever entre amigos. Estou certo que as jantaradas em família continuarão, mas a escrita de cada um de nós terá que voar para outros paragens. Por fim, um especial agradecimento a todos os que me leram, comentaram, crititicaram e até insultaram.
Até breve!
Foram quatro anos e meio, talvez o blog onde escrevi que mais durou. Hoje, no meu último post neste União de Facto, que começou a dois e terminou a quatro, quero agradecer aos milhares que aqui passaram, criticaram, gostaram e, quem sabe, reproduziram noutros sítios. Há alguns anos que não faço ideia do que se passa na blogosfera e é também esse desinteresse que levou ao fim deste blog. Ficam, mais uma vez, as amizades. Como dizia o filósofo, vou andar por aí.
Ser o terceiro maior exportador mundial, o terceiro maior vendedor de armamento, ter uma relação autónoma forte com a Rússia e a China e sobretudo ter renacionalizado a sua política externa dão-lhe a confiança necessária no meio da crise europeia. Foi o "BRIC europeu" quando se absteve na intervenção na Líbia ao lado de Nova Deli, Brasília, Pequim e Moscovo; não chorou pelo Mali, está cansada do Afeganistão e quer distância de Damasco. Merkel está confortável com isto, porque ser autónoma na Europa é pouco para ela. Resta saber se esta estratégia é sustentável sem a diluição total do já frágil poder da UE.
Hoje no Diário de Notícias
"Sr. Presidente, Srs. Deputados: Ao terminar a votação sobre o capítulo sobre revisão constitucional, queremos declarar que, na nossa concepção, o povo está acima da Constituição e, nessa medida, a Constituição não pode ser mitificada. Na medida em que o povo está acima da Constituição, e não é a Constituição que está acima do povo, nós consideramos que é tão democrático o mecanismo de revisão constitucional que preveja a possibilidade na próxima legislatura da revisão da própria Constituição como o próprio mecanismo que levou à constituição da Assembleia Constituinte.
Nessa medida, o nosso espírito, ao votar este capítulo, é o de continuarmos a considerar que não é prática democrática aceitável fechar às maiorias que se vão formando através do processo eleitoral a possibilidade, dentro do bom senso e da estabilidade, de lograr alterações na Constituição, de forma que ela corresponda à vida das Portugueses e não seja o espartilho autocrático desfasado da realidade e das exigências do povo que mandatou os constituintes para fazerem uma Constituição, mas não um dogma nem um cânone para a vida eterna".
2 Abril 1976, aprovação parcelar da Constituição da República Portuguesa.
Porque é que houve sintonia entre um republicano (Bush) e um trabalhista (Blair) e uma aparente distância entre um democrata (Obama) e um conservador (Cameron)? Desde logo porque os últimos têm na experiência do Iraque um reforço no pragmatismo que faltava aos outros dois. Diferente é também o momento internacional que se vivia em 2002/2003: a superpotência agredida em casa, a resposta musculada no Afeganistão, a agenda idealista e voluntarista que aliava uso da força à "expansão da democracia".
Sábado no Diário de Notícias
Mas se a intervenção punitiva não resolve a guerra civil, o que resolve, afinal? Só vejo uma resposta: pôr termo ao insustentável peso na consciência dos interessados por terem deixado chegar a Síria a este estado.
Hoje no Diário de Notícias
Não será inconstitucional?
Há coisa de mês e meio tive uma das conversas mais memoráveis da minha vida com um jovem de 94 anos chamado Timuel Black. No museu DuSable, zona sul de Chicago, Black contou-me como foi o dia que amanhã faz 50 anos. Nascido na racista Alabama, neto de escravos, filho da primeira grande migração sulista para Chicago, combatente na Normandiae um dos primeiros a ver Buchenwald, Tim Black tornou-se no homem forte de Martin Luther King em Chicago. Liderou duas mil pessoas até Washington e abraçou para sempre o seu eterno discurso. Nessa manhã, disse-me: "Enquanto for vivo, não vou parar de lutar."
Hoje no Diário de Notícias
Ouvimo-lo menos do que merecia. Fez mais do que reconhecemos. Acontece aos ímpares.
A libertação de Mubarak é o prego que faltava no caixão de Tahrir. A transferência de Tora para um hospital militar, o adiamento da sentença e o timing da decisão são muito mais que simbólicos: pintam a correlação de forças de um Egito que viveu dois anos e meio embriagado com uma revolução que nunca existiu.
Hoje no Diário de Notícias
O PS acusa o Governo de ser eleitoralista porque não apresenta o OE/2014 antes das autárquicas de 29 de Setembro. P...S... Sim, o P-S. O mesmo partido que governava em 2009, ano de legislativas e autárquicas. O mesmo PS que, em 2009, aumentou a função pública em 2,9%, ganhou as legislativas a 27 de Setembro contra os derrotistas do PSD que queriam travar obras públicas, PPP rodoviárias e outras obras decisivas e emblemáticas, perdeu as autárquicas a 11 de Outubro e apresentou o OE/2010 a 15 de Outubro.Sim, a 15 de Outubro. Seguro estava na última bancada do Parlamento.
Merkel, ao contrário do que se diz, é mais herdeira de tudo isto, não tanto o seu motor. Herdeira da vitalidade de uma grande Alemanha - demasiado grande e forte para a Europa, como escreveu A. J. P. Taylor -, da condução reunificadora de Kohl, mas também da sua decadência e da crise da CDU no início do milénio, e sobretudo das reformas de Schröder, que deram a robustez necessária para a Alemanha suportar a crise financeira desde 2008. A verdade é que foi um governo de centro-esquerda a fazer as reformas sociais e laborais mais duras. Com a devida destrinça, Schröder foi para Merkel o que Thatcher foi para Blair.
Hoje no Diário de Notícias
Acontece que a estratégia da força bruta tem um risco enorme e incalculável. Por estar entre conflitos mais ou menos evidentes (Líbia, Síria, Iémen, Iraque) e perante uma Irmandade transnacional, nada impede que às suas facções políticas se juntem tribos jihadistas que olhem para o Cairo (mas sobretudo para o Sinai) como mais uma batalha sagrada. Não há muito tempo, entrevistado num café do Cairo, Mohammed al-Zawahiri, irmão do líder da Al-Qaeda e chefe do Movimento da Jihad Salafista no Egito, dizia que não desencorajava ninguém a combater na Síria, mas que os jovens tinham uma jihad egípcia por fazer.
Hoje no Diário de Notícias
"A Tunísia não é o Egito", disse o inefável ministro dos Estrangeiros alemão, Westervelle, ao visitar Tunes. Já estamos habituados à cadeia de pensamento para afastar os maus espíritos. Acontece que muitas vezes são mesmo os maus espíritos que se encontram e Westervelle, sobre isso, não tem rigorosamente nenhum poder para inverter a situação. Não tem Westervelle, a Sra. Ashton ou John Kerry, que numa habilidade muito própria resolveu há dias saudar de viva voz a "restituição democrática pelos militares egípcios".
Hoje no Diário de Notícias
A questão é se os EUA saem prejudicados com o afastamento, quando precisam da ajuda russa no Afeganistão, com o Irão ou numa inversão do caos na Síria. O asilo a Snowden é o menor destes problemas e, nesse sentido, apenas confirmou uma relação em declínio, não a alterou. O Paquistão é mais importante na retirada americana do Afeganistão e Moscovo, na verdade, também reza para que o caos não regresse às suas fronteiras, o que pode ser agravado pela espiral síria. Não será o cancelamento de um encontro a diluir tudo isso. Prova, apenas, que nada mais sobra entre os dois do que um distanciado interesse pragmático e casuístico.
Hoje no Diário de Notícias
Prestígio permite bocas? Li: Isabel dos Santos tem fortuna martelada com dinheiro do País que o pai Governa. Ok. Já o tinha ouvido. No café. Nos comentários. Provas? ZERO. Na Forbes? Sim. Pois, até os arranha-ceús caem. Como baralhos de cartas.
Parabéns aos empresários, parabéns aos exportadores de bens e serviços, parabéns aos derrotistas (motivam), parabéns ao PM que disse há um ano o que poucos ou muito poucos acreditavam, parabéns à AICEP e a todos os que nela trabalham. Parabéns Pedro Reis. São poucos, os distintos, que remam. Mesmo contra marés, correntes e agueiros.
A guerra síria é o teatro por excelência do sectarismo étnico-religioso no Médio Oriente: o vizinho Iraque tem sido a sua extensão perfeita. Terceira, o governo xiita iraquiano de Maliki tem promovido a humilhação sunita. Perseguições políticas e legislação sectária são práticas correntes. A perceção da influência do Irão sobre Maliki dá o toque que faltava à reação zarqawista: uma hegemonia xiita é incompatível com o velho sonho de Al-Zarqawi, a criação da "Grande Síria", um vasto e histórico território "limpo" que agrupa Síria, Líbano, Iraque, Jordânia e Israel. O Iraque vai alimentando esse sonho.
Hoje no Diário de Notícias
Política externa não se define só pelo que dizem os diplomatas e fazem os militares, mas pelo que um país está disposto a representar. Em vez de se entreter com danças de cadeiras ou definir-se pela presença em eventos e lugares de topo, Lisboa precisa de aliar criatividade com visão estratégica. Há anos que não se ouve um grande discurso sobre Portugal no mundo vindo das Necessidades e se há momento em que precisamos de nos reencontrar é este.
Hoje no Diário de Notícias
Assessores de Sócrates quiseram swaps de Pais Jorge:"São operações que não configuram medidas extraordinárias e que se inserem nas estratégias normais de redução de risco e melhoria da performance da gestão da dívida pública, sendo executadas com regularidade pelo IGCP".
Há, nos últimos meses, uma dinâmica a acompanhar. A Al-Qaeda concentrou ações na península arábica e no Norte de África, atacando instalações energéticas que são o sustento de Iémen, Líbia e Argélia. Está ativa na guerrilha síria e no Sinai. Libertou mil presos no último mês no Iraque, Líbia e Paquistão e inspira células e "lobos solitários". É uma chaga que vai e vem. Não será por isso extinguível. Apenas anulável e por tempo indeterminado.
Hoje no Diário de Notícias
O jornalista tem o dever de o fazer sempre que a fonte o engana de forma consciente e deliberada. A RR fe-lo em Dezembro de 2000, quando Armando Vara disse em off que se ia demitir e, mais tarde, em on que era tudo mentira.
...quem foi o manipulador?
Uma das minhas regras de análise é desconfiar de raciocínios deterministas. Um deles, muito em voga nos últimos anos, traçou uma linha recta entre o crescimento económico chinês e uma meta geopolítica: "Em dois mil e troca o passo o PIB da China ultrapassará o dos EUA", logo "o mundo será chinês", vergado ao seu "capitalismo de estado". E concluíam, sem reservas: os EUA e a Europa já eram, longa vida para Pequim. Ora, nem os EUA e a Europa implodiram, nem a economia chinesa é foguete imparável. Se dado interessante estes anos mostraram é o crescente impacto das dinâmicas internas entre estes três colossos.
Hoje no Diário de Notícias
Um verdadeiro cheque sem cobertura.