Eleito em 2004, Hamid Karzai cumpriu um mandato repleto de insucessos. O terrorismo estendeu-se no território, os Talibans reorganizaram-se, a al-Qaeda continuou activa na fronteira com o Paquistão, a corrupção e o tráfico de ópio dispararam. Neste quadro negro e pouco depois de Obama ter traçado uma estratégia distinta da de Bush - cruzando soluções militares, políticas e económicas; cooperação regional com Paquistão, Irão e Rússia –, era preciso reforçar a legitimidade política e ontem realizaram-se eleições presidenciais. Para muitos, elas são erradas, inconsequentes, falsas. Para mim, são essenciais.
Esvaziar o calendário eleitoral era, desde logo, reconhecer uma derrota política face ao terrorismo. Mais: seria dizer a todas as forças de segurança afegãs que se prepararam nos últimos anos que o seu esforço não serviu para nada, nem mesmo para guardar uma urna. Além disso, se se confirmar a vitória de Karzai – surpreendente, face ao mandato e à vontade dos EUA em reforçar outra liderança – ela mostra que a escolha foi dos eleitores e não das “forças de ocupação”. Mais: muitas mulheres votaram. Houve mesmo duas candidatas a presidente e mais de 300 para os conselhos de província. Muitas vestiram-se de homem e armaram-se até aos dentes para poderem votar. Isto há-de demonstrar alguma coisa, não? Uma delas, e talvez a mais importante, é que estas eleições são bem mais importantes para os afegãos do que para os ocidentais. Eis uma boa lição para o nosso egocentrismo.
Sábado no i