Quando todos os olhares se concentram no Afeganistão e no Paquistão, o Iraque voltou a dar prova de existência para a insegurança internacional. Este foi o maior ataque terrorista desde que os EUA transferiram a responsabilidade de segurança para as autoridades locais – e o segundo em moldes semelhantes em apenas dois meses: carros-bomba sincronizados, desta vez na Zona Verde, junto ao ministério da Justiça. A primeira ideia é que os métodos suicidas não se evaporaram do Iraque, mesmo que mais estável do que há quatro anos atrás. Os primeiros indícios apontam para ramificações talibãs, grupos patrocinados por desestabilizadores regionais, como a Síria. Tudo revelador da fragilidade da segurança iraquiana.
Uma outra linha de análise prende-se com o timing dos ataques e com os alvos. Por um lado, entrámos numa fase decisiva de combate aos talibãs e al-Qaeda no Paquistão e Afeganistão, o que pressiona a administração Obama e a sua cadeia de comando militar face a dois cenários de guerra estratégicos e simultâneos. Por outro lado, este foi um ataque deliberado às instituições do Estado iraquiano. Para quem ainda não percebeu – ou não quer perceber – o projecto de terrorismo que deu à estampa a 11 de Setembro é profundamente ideológico, envia sinais políticos claros à escala global e alicerça uma teia de organizações que opera com liberdade de movimentos. Bagdade foi apenas mais um aviso, mas outros se seguirão. Bem-vindos ao mundo cruel.