O Pedro Lomba acha que o que aqui escrevi é dedicado a ele. Confesso não ter percebido bem se chegou a essa conclusão por ele próprio ou se lhe foi “soprado”. Dos muitos homens e mulheres que poderiam encaixar na minha “desonesta” teoria, eu teria de me lembrar obrigatoriamente do grande, do incontornável Pedro Lomba. Quem mais poderia ser? Mais, ele acha que o seu retrato está lá em linhas fortes. Eu cá não gostava de me identificar com o que escrevi mas ele lá sabe.
O Lomba queria que eu o identificasse. Aqui temos um pequeno problema. apesar de eu dever saber que devia obedecer ao Lomba, tenho a mania de só obedecer a quem me apetece. Às tantas o Lomba queria que eu lhe dedicasse um artigo ou, quem sabe, um programa de televisão. Tenho pena mas já tenho a agenda preenchida. Pode ser que o correr dos anos lhe faça bem – não está a correr nada bem mas tenho esperança – e eu me dê ao trabalho de analisar, não da maneira que ele fala dos outros, claro está, a personalidade do rapaz.
O Lomba também queria que eu seguisse as convenções – as dele, que são óbvias, podia lá ser de outra maneira – sobre polémicas. Cá vamos nós outra vez. Falha minha.
O Lomba diz que eu tenho um estilo “recadista”. Mais, diz que esse estilo em mim é uma constante. Esperava, confesso, uma longa lista reveladora desse estilo. Não deveria ser difícil: escrevo semanalmente para dois jornais, escrevo quase todos os dias neste blog e participo num programa de televisão e noutro de rádio todas as santas semanas – dou-lhe de barato as intervenções esporádicas noutros espaços. Mas, não, ao Lomba bastam-lhe dois artigos. Para cúmulo do azar fala do Pacheco Pereira que cito abundantemente em todos os espaços já referidos. É muito azar mesmo.
Ah, ia-me esquecendo. Parece que quem manda nos meios de informação onde trabalho gosta daquilo a que chamas estilo recadista. Mas, nós sabemos porquê, não é? As minhas posições agradam aos poderosos e aos maus governantes – definição com trade mark Lomba. Vai daí, essa malandragem mete-me em todo o lado e eu rapaz obediente, mal preparado e bronco (esta, ofereço-ta) faço tudo para lhes agradar.
O Lomba sabe bem que as minhas opiniões caem bem no círculo dos medíocres e prevaricadores. As coisas que ele sabe. O Lomba não só sabe quem são aqueles malandros – e como sabe de fonte seguríssima quem eles são, denuncia-os – como sabe que eles gostam de mim. É mesmo muito bom, o Lomba.
Pena que o Lomba esteja manifestamente confuso. Fica muito indignado – ele parece ser um rapaz muito dado à indignação, presumo que seja por ter passado a sua vida inteira a lutar contra os que lhe querem tirar a sua liberdade de expressão – com o meu texto e depois diz que não demonstro nada. E, desta forma, também me conseguiu confundir. Então eu não demonstrei nada e depois diz que a minha posição é das posições mais reaccionárias sobre a liberdade de expressão?
Eu gostava imenso de polemizar com o Lomba apesar de temer as suas imbatíveis capacidades, a sua imensa preparação, o seu conhecimento vastíssimo sobre as problemáticas da liberdade de imprensa, a sua inigualável sabedoria sobre o estilo “recadista” e a sua enormíssima experiência de vida – responsabilidades familiares, empresas, cargos públicos, viagens etc etc etc.
Para ele seria fácil. Além de eu não fazer ideia nenhuma do que ando para aí a dizer, de não estar preparado, de ser frágil (presumo que se esteja a referir às minhas capacidades intelectuais), de ser um ignorante – a dada altura chega à conclusão que afinal sei aquilo que pretendo, mas deve ter sido engano –, não sei as regras dum debate.
Era engraçado discutir a problemática da relação entre poder politico e investimentos em publicidade (quando escrevi sobre o assunto o Lomba devia estar distraído); sobre o que é batalha política e ofensas pessoais; o que são factos conhecidos, noticiados ou demonstráveis sobre os quais se emitem opiniões; o que são argumentos políticos e ataques à personalidade; as estratégias de condicionamento de opinião; o que é jornalismo e o que é opinião.
De toda a forma não me parece que o magnífico, o puro, o homem que sabe quem são os maus e os bons, o homem que sabe a quem se deve agradar e a quem se deve desagradar, o homem que sabe o que é a liberdade de expressão, esteja disposto a discutir com alguém que ele acha um covarde desonesto. Confesso, também não quero conversas com um deslumbrado armado ao pingarelho.