A cada dia cresce o clima de difamação, injúria e insinuação.
Este ambiente que vem crescendo com o beneplácito dos moralistas de serviço está a transformar o nosso país num local em que a honra pode ser destruída por um post de um qualquer ressabiado, a dignidade está nas mãos de um jornalista mal intencionado ou simplesmente ignorante e a reputação pode ser posta em causa por quem quer que tenha acesso a um microfone ou câmara. Vale tudo.
Querida vamos construir um lar
Mesmo que o teu pai me queira matar
Querida vamos construir um lar
Querida vamos constituir família
Mesmo que não haja dinheiro para a mobília
Querida vamos constituir família
Querida vamos contrair matrimónio
Mesmo que te digam que sou o demónio
Querida vamos contrair matrimónio
O prof. Vital Moreira fez mais pelo PSD em duas semanas que a direcção dos social-democratas num ano.
A escolha de Sócrates que parecia apenas um pequeno erro político transformou-se num pesadelo para os socialistas.
Há gente irresponsável que opta por não votar. É coerente. Há gente com responsabilidade pública que não só não vota, como apela à abstenção. Estas pessoas, entre eles alguns opinadores, desprezam o voto. Têm-lhe uma raiva incontida, dão-lhe um significado diminuto. São, por outras palavras, uns ingratos de merda.
Poucos portugueses lutaram para que muitos pudessem votar um dia. O mínimo que estes milhões poderiam fazer era honrar essa conquista. Infelizmente não o fazem. Depois não se queixem.
Conferência Internacional
IPRI-UNL
The US, Europe and Asia: From a Transatlantic towards a Transpacific System?
3 Junho
Museu do Oriente
(info)
Não há melhor forma de pôr toda a gente a dizer disparates do que um qualquer desacato num bairro social dito problemático. A ausência de um discurso estruturado e pensado sobre políticas de combate à pobreza e ao crime é, infelizmente, uma constante na sociedade portuguesa.
Não se pode falar no desemprego e nas condições sociais como fonte, também, de problemas ligados ao crime porque estamos a desresponsabilizar o cidadão e estamos logo ali a exibir derivas de esquerda. Não se pode pedir firmeza às forças de segurança, pois estamos a ter um discurso securitário e somos uns perigosos direitistas. Entre o discurso da esmolinha e do cassetete - de alguma direita - contra qualquer - e a paixão "contextualizadora" de alguma esquerda, vamos encharcando estes problemas de ideologia desnecessária.
Recentemente, num jantar em Estrasburgo, apercebemo-nos, incrédulos como os comensais dos países bálticos, integrados ainda na União Soviética, tinham percorrido menos quilómetros para ali chegar do que nós. Ficámos a hesitar entre saber se é a Europa que se está a estreitar ou se é a aproximação do Leste que nos distancia de novo.
Em qualquer caso, a distância é um custo e uma separação psicológica que explica, aliás, o soberano isolamento com que algumas vezes desafiámos o mundo. No início do Programa Erasmus, os estudantes portugueses eram os que aproveitavam menos e, em parte, porque sentiam ainda a deslocação para outros países europeus como "emigração". E, no entanto, tratava-se só de frequentar um curso semestral ou anual lá fora.
Francisco Lucas Pires, in "O Que é a Europa", 1994.
Apesar disto, julgo que não valerá muito a pena ruminar um processo negocial que durou quase uma década e que vale, sobretudo, pensar em termos de futuro. A verdade é que a Europa não nos irá ser dada. A verdade é que não será apenas mais um "facto político". E seria uma vergonha que nos contentássemos na Europa em ser um "país assistido", condição em que não seríamos aliás capazes de desempenhar qualquer das funções políticas autónomas que ainda nos podem caber.
Francisco Lucas Pires, in "Democracia e Liberdade", Julho/Agosto/Setembro 1985.
Para além da questão mais geral da "transferência" ou "partilha" da soberania numa futura Europa federal, um dos aspectos mais descurados no processo de integração é o dos seus efeitos sobre o nosso sistema político e constitucional. [...]
Tem, por exemplo, inevitáveis consequências o Governo e o Presidente da República serem, respectivamente, os órgãos de soberania com mais e com menos competências em matéria de integração. O Governo é mesmo parte do órgão mais importante da CEE, o Conselho Europeu, o Presidente da República, ao invés, não só não participa de qualquer mecanismo de decisão comunitária, como não tem, também ao contrário do Governo, qualquer competência de execução ou transposição interna das directivas e outras decisões comunitárias. O Primeiro-ministro, por sua vez, tem ocasião de ombrear, não apenas com outros chefes de Governo, mas com outros Chefes de Estado, sempre que têm lugar as, cada vez mais frequentes e importantes, cimeiras dos Doze.
Francisco Lucas Pires, in "Expresso", Dezembro 1990.
[...] A Europa não será um Estado federal, porque não há um povo europeu, não há um território europeu. Mas aceito a palavra "federar" porque a Europa é muito uma federação cooperativa. Assim como os pequenos e médios empresários têm que se unir para maximizar recursos, também os pequenos e médios países, que são todos os países europeus, têm que se unir para se maximizarem.
Expresso - Só que alguns desses médios países, na realidade, são demasiado grandes e fortes para haver equilíbrio entre todos.
Lucas Pires - A Comunidade é a única forma de reduzir o excesso de poder desses países em relação aos pequenos. Quando havia guerra na Europa, os pequenos países não valiam nada. Quanto mais de direito for uma comunidade, mais protege os pequenos, quanto mais política for mais eles terão uma voz. Por outras palavras, a única forma de dissolver o poder económico dos alemães é a únião política, a única forma de dissolver os próprios extremos irracionais da soberania é a democratização das relações entre os países da Comunidade.
Francisco Lucas Pires, in "Expresso", Junho 1994.
A verdade é que, se como disse um dia um dos meus mestres (Raymond Aron), Marx e Tocqueville foram as duas grandes apostas de futuro do séc. XIX, e hoje já está à vista que foi Tocqueville quem ganhou, a verdade é que se Tocqueville viesse visitar a Comunidade Europeia como um dia visitou os Estados Unidos ainda não poderia escrever "a democracia na Europa" como um dia escreveu "a democracia na América"...
Francisco Lucas Pires, in "A Europa após Maastricht", 1992
Hoje abrimos uma excepção. É uma homenagem a um grande português. Um grande português na Europa. Ele chama-se Francisco Lucas Pires e dispensa apresentações.
Todos os textos aqui transcritos estão compilados em "Revolução Europeia", uma antologia editada em Outubro de 2008. Agradeço à Milái, irmã de Francisco Lucas Pires, a simpática oferta deste livro.
É Marinho Pinto, Marinho e Pinto ou Marinho & Pinto?
Parece que o Dr. Vital defende um imposto europeu. O tema não é novo. Já Mário Soares o defendeu em tempos idos, e Jorge Sampaio fez questão de ir pelo mesmo caminho. Portanto, há todo um roteiro socialista pela asfixia fiscal. Não sei quem aconselhou o Dr. Vital sobre esta matéria, mas o tema abre uma frente nova para as oposições. Vamos ver se a aproveitam.
Haverá um direito à não opinião? Às vezes perguntam-me o que acho sobre isto e aquilo. Eu respondo normalmente o mesmo: "não acho nada. Se me der pelo menos seis meses para formular uma opinião depois dou-lha. É que hoje não tenho nada a acrescentar de interessante ao tema".
Lembro-me bem quando o Dr. Cavaco andava em campanha eleitoral para chefe de governo e as ruas eram inundadas de propaganda laranja. Nessa altura havia até uns autocolantes por todo o lado com a cara do actual presidente. Na altura, o país devia ter muito, mas muito dinheiro, para estas práticas. Hoje, o Dr. Cavaco apela à contenção na campanha. Podia ter apelado à mesma quando no país entravam milhões por dia. Não o fez. Agora acho que já não o levo a sério.
Sou insuspeito quanto a afectos rossoneri, até porque a última vez que vi um jogo ao vivo em Itália, o Milan espetou quatro à minha Roma, no Olímpico, na final da Coppa 2002-2003.
Mas Maldini é mais do que o Milan. Paolo Maldini é aquilo que mais gosto num jogador: raça, amor à camisola, recusa em sair por uns milhões de libras, respeito pelos adversários, sangue, suor e lágrimas em todos os campos. A única vez que me lembro de ter Maldini como ídolo foi quando o Milan ganhou ao Benfica na final da Taça dos Campeões, com golo do Rijkaard. Tinha o seu cromo em todos os meus cadernos da escola.
Ontem o que se viu em San Siro foi triste. Não apenas pela despedida de Don Paolo depois de 25 épocas consecutivas a titular, mas pelo que a curva sul lhe fez. É também por isso que "o meu coração só tem uma cor": o giallorosso. Em Itália, claro.
É tão engraçado ver Sócrates ao lado de Zapatero a jurar amor eterno aos valores de esquerda e à necessidade de os implementar na Europa e depois recordar que apoia Durão Barroso.
Pois, pois, diz que são eleições europeias.
O legado que recebe Obama não é de facto famoso, mas alguns dos problemas internacionais existiam antes, continuaram com e manter-se-ão depois de Bush. A questão nuclear da Coreia do Norte é uma delas. O que Obama mostra em dois meses é uma certa desorientação em lidar com esta "ameaça", como ele bem a descreveu. E é, sobretudo, uma ameaça para o Japão e Coreia do Sul, (os dois maiores aliados dos EUA na região), o que gerará, eventualmente uma escalada ao armamento nuclear regional. Não vale a pena negar esta hipótese. Quando Obama diz que é preciso uma acção da comunidade internacional para resolver este caso, reconhece duas coisas simples: primeiro, que já foram esgotadas todas as soluções sem grandes resultados (sanções, negociações a seis, negociações directas, isolamento), embora nunca um ataque directo e cirúrgico às instalações nucleares; segundo, que a "comunidade internacional" afinal se chama China. E só ela pode resolver isto. Custa, mas é a verdade.
Uma das actividades paralelas na política portuguesa que mais me intriga é a da ronda pelos comentários partidários. Já repararam de certeza que por cada declaração, por exemplo, do dr. Cavaco, todos os partidos se pronunciam em fila indiana sobre as ditas palavras, sejam elas num green de golf, à entrada da Mesquita Azul, ou a bordo do avião ao lado da dra. Maria.
No caso concreto das declarações vindas de Belém, existem três tipos de comentários nessa ronda partidária. Os que estão contra, mas dizem-no de forma suave, só apertando o cerco mais em cima de eleições; os que estando contra conseguem fazer-nos crer que concordam com as declarações ou com certa acção política (o veto, por exemplo); e os que estão invariavelmente a favor por uma questão de cumplicidade política. Neste último caso, o feitiço vira-se contra o feiticeiro, uma vez que não havendo margem para demarcações, também não há folga para depois recusar o ideia de que essa oposição é frágil e precisa de Belém para sobressair. A minha sugestão é muito simples: acabe-se com as rondas pelas reacções dos partidos. Quem quiser pronunciar-se sabe muito bem como, quando e onde o fazer.
De quando em vez, um certo tipo de jornalismo moralista, vem a jogo dizer o que os políticos e os portugueses em geral devem ou não fazer. Por exemplo, devem discutir a "Europa" e não "Portugal". Ou devem falar dos poderes do Parlamento Europeu e deixar-se de guerras partidárias. Por quê? Porque já todos estamos fartos delas e o que queremos é toda uma comunhão entre pares, abraços prolongados de amizade entre políticos e ausência de confronto. Ou seja, tudo menos política, essa grande porca.
Eu gosto sempre deste tipo de moral aplicada aos outros. Pena é que este jornalismo se esqueça, no resto do ano e nos períodos entre as eleições, de fazer o que ardentemente deseja que os outros façam. Pena é que esgotem alguns editoriais a vangloriar artigos e opiniões que estão nas páginas seguintes e se esqueçam, por exemplo, de dedicar algumas linhas ao que os partidos fazem de bom em Portugal. A não ser que nada se aproveite e que tudo o que lá anda seja uma corja de aldrabões e corruptos. Nesse caso entramos no dominio do universo taxista. O jornalismo ficará para outra altura.
A sad fact widely known
The most impassionate song
To a lonely soul
Is so easily outgrown
But don't forget the songs
That made you smile
And the songs that made you cry
When you lay in awe
On the bedroom floor
And said : "Oh, oh, smother me Mother..."
Não concordo com o que o Vasco Pulido Valente escreve em muitas ocasiões. Acho até que quando escreve sobre assuntos internacionais a escrita foge-lhe sempre para o olhar de historiador e menos para o de analista político (não tenho nada contra historiadores, calma!). Talvez seja por isso que o vejo falhar normalmente nos alvos. Gosto quase sempre quando escreve sobre política nacional. Não gosto de o ver e ouvir na televisão. Das poucas vezes que compro o Público é para o ler. Agora que penso nisto, acho que só compro o Público por causa dele. A apresentação do livro é já no próximo dia 2 de Junho.
Parece-me claro que Paulo Rangel é um candidato corajoso. Tão corajoso que não tem problemas em afirmar-se federalista e, num recente questionário à Lusa, de propor o federalismo como bandeira do actual PSD. Eu não sei se o PSD se revê nesta linha. Não é isso que me interessa abordar. O que me parece relevante é que Paulo Rangel não se distingue da tradição soarista do PS sobre esta matéria e voltou a trazer um tema ao debate que os próprio europeus tinham posto na prateleira com o chumbo do tratado constitucional em França e Holanda. Sem ninguém lhe pedir, Paulo Rangel acabou de abrir uma frente à direita.
Eu queria mesmo era falar sobre as coisas boas do Brasil. E de como é bom ver tudo pela TV. Mas meu tempo acabou.
Nos anos de 1950, um tio meu tinha que esperar duas horas para que a central telefônica pudesse completar uma ligação para Cachoeiro de Itapemirim, cidadezinha no sul do estado do Espírito Santo. E para conseguir uísque, Deus do céu, o sujeito tinha que ter um contrabandista pessoal e gastar uma fortuna. Até o início de 1990 o brasileiro que gostava de uísque tinha que ter um contrabandista de confiança.
Bruno Garschagen