O país está a ferro e fogo e as eleições presidenciais não trazem grande esperança: os dois principais candidatos (Malam Bacai Sanhá e Kumba Ialá) juram que já ganharam e a sangria pode regressar em breve perante a espera na divulgação dos resultados oficiais.
Enquanto a maioria dos decisores internacionais vão fechando os olhos à costa ocidental africana, Bissau entrou à força na lista dourada da insegurança internacional. Esta plataforma do narcotráfico Atlântico irá alimentar, mais tarde ou mais cedo, a insaciável gula das redes terroristas. Foi assim no Afeganistão, Kosovo, Paquistão ou Somália. A geometria variável em que estas redes actuam permite-lhes recrutar à escala global, sugar recursos em locais sem autoridade e fomentar a subversão em sociedades desestruturadas. Nos últimos vinte anos, mais de dezena e meia de golpes de estado com sucesso e quase uma vintena de outras tentativas viram ali um caldeirão de oportunidades.
Oportunidade esta que a ONU devia transformar numa opção válida: fazer da Guiné-Bissau um protectorado para que um dia não seja obrigada a tomar uma decisão tardia e invariavelmente frouxa. Não seria a primeira vez.
Mário Lino não é certamente o único governante que gosta de me fazer de parvo. E não será certamente o último. O pior é que não foi apenas a mim: foi a todos os portugueses que andam nesta cantilena do aeroporto há quatro anos. Ota, não-Ota, esta legislatura, na próxima legislatura, contradições e mais contradições, milhões e mais milhões. E responsabilidade política? Zero. Em qualquer país onde esta existisse jamais (ou jamé) um ministro como Lino passaria do primeiro ano de mandato.
publicado por Bernardo Pires de Lima às 12:20 | link do post
É uma expressão que sempre me irritou: "como eu costumo dizer". Um gajo começar por responder a uma pergunta citando-se a si mesmo é todo um programa. Costuma dizer a quem? Onde? Por que raio? É quase tão patético, arrogante e por via deste mix, profundamente tuga, como aqueles que agora começam os diálogos por "é assim". Mas é assim por quê? Porque não é de outra forma? Só pode ser assim? Vão mamar.
ps: post escrito depois de três dias de náuseas com a análise à morte de Michael Jackson. Já não ouvia falar dele para aí desde que o Jorge Pêgo apresentava o "viva a música". Foi um belo intervalo.
publicado por Bernardo Pires de Lima às 12:12 | link do post
“O grande problema português é a Economia. A Economia não cresce”. Como é que ninguém ainda se tinha apercebido disto? Genial.
A frase é da autoria de Medina Carreira, génio incompreendido que sempre que acorda se surpreende por Portugal ainda existir.
Tirando ele, é tudo um bando de incompetentes, nojentos e imbecis.
Se o programa dele fosse implementado o país floresceria. O problema é que ninguém sabe qual é.
Adenda: Medina Carreira teve a amabilidade de me esclarecer sobre as suas ideias e no que acredita ser o melhor para o país. A humildade com que o fez e a simplicidade da abordagem foram uma lição que não esquecerei e que jamais agradecerei o suficiente.
Posso concordar ou discordar do professor mas fiquei com a prova de que é um grande senhor. Mais uma vez, obrigado pela enorme lição de vida que me deu.
P.S. não sei quem o informou do meu texto, mas quem o fez mostrou que é alguém que é meu amigo e a quem também estou agradecido. Um grande obrigado também para ele.
O governo vai vetar o negócio da PT. Parece que foi preciso o caso ter passado para o domínio político para que o governo tivesse conhecimento de um negócio que deveria ter acompanhado desde a primeira hora. A conclusão parece-me evidente.
publicado por Bernardo Pires de Lima às 11:11 | link do post
Este processo em volta do Provedor de Justiça foi absolutamente surreal. Primeiro, pela pouca vergonha a que foi sujeito Nascimento Rodrigues. Depois, pela pura partidarite em redor de nomes atrás de nomes que não reuniam nem reunem a maioria exigida no Parlamento. Por fim, pelo triste espectáculo a que se sujeitaram os candidatos a Provedor. Eu pensei que um tipo chegava a um determinado estatuto e tinha dois dedos de testa para evitar esta palhaçada pública. Afinal enganei-me. Há gente bem mais nova com mais cabeça.
publicado por Bernardo Pires de Lima às 10:17 | link do post
As europeias trouxeram uma semi-surpresa, a vitória de Paulo Rangel. Surpresa, porque as sondagens nos garantiam a vitória do PS. Não surpresa, porque Vital se revelou um tremendo erro de casting e porque só miraculosamente Sócrates passaria incólume à crise e ao clima de contestação social. E agora? Sócrates será sempre preso por ter cão e por não ter. Se persistir na atitude sobranceira, arrogante, pouco dialogante e por vezes autista que caracterizou o seu mandato – apesar de várias boas medidas – não conseguirá seduzir o eleitorado descontente. Se ceder e apostar num timbre benevolente, as suas palavras não deixarão de soar a cedências eleitoralistas. No fundo, o primeiro-ministro está preso no labirinto autoritário que ele próprio criou.
Neste momento, a maioria absoluta não é mais de que uma quimera, um desejo nascido da utopia de quem não quer ver nem sentir o país. E mesmo a vitória socialista já não é um dado adquirido. Só vos peço, senhores ilustres políticos, que esqueçam o Bloco Central. Guerras de bastidores já as há nos corredores de São Bento, o país não precisa delas debaixo da mesa dos conselhos de ministros. E, se os políticos não fossem crianças birrentas que fazem um esforço titânico para estar sempre em desacordo mesmo que estejam de acordo, seria perfeitamente possível governar com estabilidade em maioria relativa. Cresçam, caros deputados – obviamente que há muitos que já são adultos. Não sejam crianças. Não interessa de quem é a bola, como nos tempos do futebol de bairro. O país é um bocadinho mais importante do que as vossas birras e esforços para parecerem diferentes uns dos outros.
José Fialho Gouveia
publicado por Bernardo Pires de Lima às 17:15 | link do post
Sarkozy advoga que o uso da burka não é bem-vindo em França - e parece que o mesmo poderá ser proibido. Como é mais do que óbvio, os Direitos Humanos devem ser um valor sagrado. Mas, como liberal que sou, não me agrada a interferência do Estado nos comportamentos privados. Posto isto, é claro que me repugna que uma mulher seja obrigada a tapar-se contra a sua vontade, mas também me faz alguma comichão que um Estado decrete sobre o que os cidadãos devem ou não vestir. Se uma mulher, no seu livre arbítrio, quiser cobrir cabelos, rosto, braços, tronco e pernas, está no seu direito. Tape-se. Cubra-se. Enfrente o calor sem deixar respirar os poros. Se quiser transpirar que transpire. Até o suor em liberdade cheira bem. Se, por outro lado, o fizer coagida por um homem, por um Estado, ou por uma religião – seja ela qual for – que insista em discriminar cromossomas, então revolta-me. Proibir a burka nas ruas parisienses significará de facto uma melhoria nos direitos dessas mulheres? Quem tiver a resposta atire a primeira pedra.
José Fialho Gouveia
publicado por Bernardo Pires de Lima às 16:30 | link do post
Está aí a época das touradas. Algo que não consigo deixar de considerar como um resquício medieval inconcebível num país europeu. O argumento da tradição é no mínimo ridículo. A segregação racial também era tradição e hoje quem a defender torna-se indefensável. Beleza do espectáculo? Não, não quero um espectáculo cuja beleza dependa de areia tingida de sangue. Não, não quero um bailado de morte para gáudio do público. O Circo de Roma sucumbiu à civilização. As touradas devem seguir o mesmo caminho. Não existe – ou não deveria existir -, e não me tentem convencer do contrário, qualquer beleza ou arte no facto de espetar ferros num animal assustado que, em pânico, luta pela vida. Se não fossem as touradas a espécie correria risco de extinção? Duvido sinceramente deste argumento, mas – e se quiserem espetem-me uma bandarilha nas costas – prefiro o fim de uma espécie à sua tortura. Entre Guantánamo e os ‘Campos Pequenos’ a diferença está no simples facto de que nos segundos todos os torturados são inocentes. Não se pode comparar a vida humana à de um animal? E pode torturar-se um animal e agitar lenços a pedir orelhas e rabos? Estranha civilização esta.
José Fialho Gouveia
publicado por Bernardo Pires de Lima às 15:12 | link do post
Chego de Istambul – Maravilhosa mistura de monumentalidade com feira a céu aberto cheia de lixo. Cidade fascinante. E nisto não há qualquer ironia – e aterro nesse sempre remodelado, embora com os pés para a cova, Aeroporto da Portela. Pouco passa da meia-noite. Hesito. Pondero. Penso. Repenso. Penso mais uma vez. Reflicto. Por fim encho-me de coragem. ‘Sou um homem ou sou um rato?’, volto a pensar. E, confiante, caminho para a fila dos táxis. Procuro encenar o sorriso mais simpático, enquanto o motorista me coloca a mala na bagageira. Ainda sem desfazer o sorriso e num timbre amistoso-submisso, explico que o meu destino é Alvalade. Depois de uma cara de poucos amigos do meu condutor nocturno e já sentado no banco traseiro, foi perfeitamente audível um ‘foda-se’. Lá se tinha ido a longa corrida pela cidade. Tento abrir a janela, pois a noite lembra que o Verão está a chegar. «Isso não funciona», diz o homem, num tom que não admite resposta, e continua a girar o volante de forma revoltada. É tão bom regressar a Lisboa.
José Fialho Gouveia
publicado por Bernardo Pires de Lima às 13:11 | link do post
Algo me deixou deveras espantado nos últimos dias. Não, não foi o acelera e trava do TGV, mas sim a extraordinária qualidade dos estudantes portugueses, para quem todas as provas de avaliação são «fáceis». Depois de inúmeras reportagens em que foi dada voz aos liceais alunos, ainda há alguém que ouse levantar a voz contra o nosso sistema de educação? Se houver, só se for por má fé e oportunismo político. Ninguém me convencerá de que os exames eram, de facto, fáceis. Acredito sim que a exigência de todas as nossas escolas e o interesse dos estudantes sobre os insondáveis bastidores do português e da matemática, prepararam a ‘nossa’ prole para a gramática da vida e para a geometria da aprendizagem. Exames demasiado acessíveis? Facilitismo na Educação? Não, certamente que não. Que brilhantes alunos – isso sim - temos em Portugal.
José Fialho Gouveia
publicado por Bernardo Pires de Lima às 11:10 | link do post
O blog hoje pertence ao Zé Fialho Gouveia, jornalista do Sol e apresentador do melhor programa de entrevistas da televisão portuguesa, o Bairro Alto (canal 2).
Mas ele prefere apresentar-se assim:
Benfiquista até à raiz dos cabelos. Liberal porque acredito que mais Estado significa pior Economia. Libertário porque não me agrada a agenda moral da Direita. Jornalista por paixão, embora os amores tenham altos e baixos. Caranguejo, ainda que os signos nada me digam. E religiosamente ateu. Não tenho fé (e a história do menino que nasceu da Virgem e do carpinteiro sempre me pareceu um argumento muito pouco realista).
publicado por Bernardo Pires de Lima às 10:07 | link do post
Quando há dias o aiatola Khamenei escolheu um dos lados que divide a sociedade iraniana, estava implicitamente a sentenciar o início do fim daquela teocracia tal como a conhecemos. O seu “poder divino”, ao declarar o vencedor, exasperou não só aqueles que há onze dias se manifestam nas ruas pelo reconhecimento do seu voto e da sua importância no destino do Irão, como afectou as diversas sensibilidades que compõe os complexos órgãos do regime (Khatami, Montazeri, Larijani, Rafsanjani). Por outras palavras, foi posta em causa a legitimidade hierárquica da teocracia: os mais novos, sobretudo as mulheres, querem política terrena, não divina; querem respeito e relevância, não desprezo nem o controlo do seu telemóvel; preferem a imagem externa do “seu Irão” ao populismo trauliteiro de Ahmadinejad.
Mas não é só por dentro que o regime pode ter encontrado o seu beco. No plano externo, as principais potências optaram por uma conduta perfeitamente realista e contida. Confesso que aplaudo a iniciativa e espero que Obama, Brown ou Merkel não entrem numa espiral lacrimejante de recados para Teerão. Soa a cinismo realista? Ainda bem. Se permitir prolongar no tempo uma mudança do regime vinda do seu interior, melhor: a impulsividade nunca foi boa conselheira. Mais: aqueles que agora querem patrocinar uma mudança de regime são os mesmos que criticaram Bush pelas suas aventuras idealistas. Convinha, hoje, manter alguma coerência e deixar que Obama continue a mostrar que não é mais do que um realista clássico. Bem-vindo ao clube.
O PSD foi o único partido a defender uma data simultânea para as autárquicas e legislativas revelando alguns erros políticos.
O primeiro mostra vontade em colocar a poderosa máquina autárquica do partido ao serviço das listas ao Parlamento. Ao misturar os assuntos, o PSD fará ao mesmo tempo campanha contra o CDS e defenderá as suas coligações quando precisar. Parece-me que se pode chegar ao poder sem gula e com coerência.
O segundo parte da análise aos custos em altura de crise económica grave. Se assim é, talvez a solução seja terminar de vez com as eleições ou até com as subvenções às campanhas partidárias. Mas se é isso que defende, então o PSD deve assumir-se e não beneficiar de verbas públicas.
O terceiro não esconde a colagem ao Presidente Cavaco. É verdade que Belém marca as legislativas (não as autárquicas), mas a posição isolada do PSD coloca pressão a Cavaco para fazer uma de duas coisas: contrariar o partido que o apoia ou contrariar a maioria dos partidos apoiando os argumentos do PSD. Daqui resultará, provavelmente, o apoio do PS à candidatura de Alegre perdendo Cavaco o centro político. O professor acaba por ter a primeira volta das presidenciais já depois do Verão.
publicado por Bernardo Pires de Lima às 10:06 | link do post
A estratégia do PSD passou, até este momento, por dois eixos fundamentais: contestação às politicas governamentais e exaltação das supostas qualidades pessoais da líder.
Sabemos razoavelmente o que o PSD não quer, mas continuamos sem saber o que os social-democratas desejam para o país.
Não parece compreensível que só a tão pouco tempo das eleições seja constituída uma comissão para elaborar um programa que diga claramente qual o caminho que o PSD defende para Portugal. O debate interno, a auscultação da sociedade civil e a recolha de propostas não vão ser, como é evidente, feitas.
Era essencial que o programa fosse amplamente debatido para percebermos se o PSD tem de facto uma alternativa. Será que nos vai continuar a pedir que acreditemos num novíssimo conceito político chamado verdade que nada esclarece sobre aquilo que se quer para Portugal e que é próprio de políticos populistas?
O PSD tem de recentrar o debate político. O que está em jogo é uma visão para o país e não uma escolha entre personalidades.
Quer um país menos dependente do Estado? Quer um país onde cada um possa escolher a educação a dar aos seus filhos? Quer um país onde se possa escolher a protecção na doença? Quer um país virado para a Europa? Quer um país onde o Estado decide quem as empresas podem despedir? Um Portugal mais livre?
O debate tem de ser em função do que se quer e não daquilo que não se quer.
O Dr Mário Soares, além de todas as suas inquestionáveis qualidades, é também uma espécie de guardião da moral e dos bons costumes.
Os mais velhos recordam-se de um célebre comício em Braga onde, na companhia da legítima família e com a bênção da sempre elogiada Igreja Católica, questionou a moralidade de Francisco Sá Carneiro.
Dentro da sua coerente linha, resolveu agora arengar contra o Primeiro-Ministro italiano chamando-lhe, nem mais nem menos, moralmente desaforado.
Pena é que a moral do antigo Primeiro-Ministro e Presidente da República português sirva só para questões da mais estrita vida privada relacionadas com sexo e festas mais ou menos libertinas.
A difamação nada deve ter a ver com os seus rigorosos padrões morais. Para os mais desmemoriados convém lembrar que a segunda campanha negra feita em Portugal foi durante a campanha de Soares/Freitas.
Corrupção, nepotismo e atentados à liberdade também não são casos que, pelos vistos, encaixem na concepção de moralidade do Dr Soares.
Giulio Andreotti e Hugo Chávez são, sem sombra de dúvida, respeitabilíssimos cidadãos. O fundamental é que não andem com umas raparigas jeitosas nem consumam drogas ilegais.