Leio "O Sal na Terra", livro de marítimas crónicas do meu amigo Pedro Adão e Silva, e dá-me vontade de finalmente me fazer às ondas - eu que já fiz vários tentames, sobretudo cronístico-literários, para passar a zona da arrebentação e nunca consegui erguer-me numa prancha. É fácil escrever sobre essa arte maior de domar ondas que é o surf. O difícil é mesmo enfrentar o bicho. Diz o Pedro a dada altura e diz bem: "(.) Nós, que fazemos surf, demos um passo em frente. Passámos uma linha de fronteira e experimentámos no corpo o mar e as ondas que os românticos se limitaram a descrever. Faz toda a diferença". Ah pois faz. Poeminhas sobre a causa é para meninos. E é fácil. A palavra "mar" salva muitos parágrafos em terra.
Nuno Costa Santos
Em cada esquina e tertúlia há um novo Miguel Braga de Macedo. Penso nisso de vez em quando. Sim, há muito adiantamento mental à solta. Continuo a achar que as novas, novíssimas gerações cultas e civilizadas, são muito adiantadas mentais e demasiado atrasadas emocionais. Há muito boa gente articulada, lida e com rasgo. Mas há pouca gente a assumir que se emocionou a ler um livro, a ouvir uma musiqueta, a ver uma peça ou a fazer o moonwalking no bar da junta. Acho que a malta devia toda sair e tomar um pifo.
Nuno Costa Santos
Sabem o que é que, mais do que a cartilha de elogios vagos, sem rigor, me chateou nisto das reacções à morte de Michael Jackson? O jornalismo frouxo e preguiçoso. Quase todos os jornais limitaram-se a trazer na capa o epíteto "Rei da Pop". "Rei da Pop" é assim fraquito. Desprestigia a monarquia e não dignifica a pop. Antes "Rei dos Frangos" do que "Rei da Pop". Estava à espera de ter encontrado um jornaleco qualquer com um título arrojado, editorializado: "Morreu o Homem que Queria Viver para Sempre". Um perfil arriscadote do género: "Era o Rei da Pop Mas a sua Tragédia era Rock" - sim, sabemo-lo, Michael era tudo menos levezinho e está biograficamente mais próximo de Kurt Cobain do que dos Beatles. Da jornalada, apenas me surpreendeu uma entrada do "El País" que informava o mundo de que umas horas antes de morrer Michael tinha dançado, etéreo e feliz. De resto, pouca coisa. O jornalismo, essa arte que precisa de mais rasgo e menos burocracia, ficou satisfeito com fotografias de passitos cliché e cognomes banais, tão adequados a Jackson como a Marante. É, digamos, poucochinho.
Nuno Costa Santos
Nuno Costa Santos: Quando era novo lia Antero e Shelley à beira mar. Agora frequenta a Loja do Cidadão.
Por isso e por muito mais razões, tenho a certeza.
Se achas que 18 milhões chegam pelo Lucho, óptimo.
Se achas também que bato palmas a Ronaldos, Figos e outros que já vestiram a minha camisola, estás enganado. Nunca o fiz e nunca o farei. Aliás, tenho muitas coisas que me orgulho de não ter feito, uma delas é nunca ter festejado um golo do joão pinto quando por lá passou.
Mas o teu post diz tudo: como adepto do clube devias concordar que 18 milhões por um jogador como ele é um mau negócio. Às tantas pensas que foi bom. Desculpa lá, então. Julguei que o Lucho era muito melhor que o Cissokho. Afinal é só um bocadinho melhor.
O Lucho foi embora. A partir do momento em que assinou o documento que o vincula a outro clube é-me absolutamente indiferente o seu destino. As nossas contas estão feitas: ele jogou, nós pagamos. O próximo jogador a que dermos a honra de vestir a camisola 8 terá o mesmo carinho que dispensamos ao Lucho.
Eu sou adepto do clube, não dos jogadores do clube.
Sabes Bernardo, ao contrário de outros clubes, nós, no Porto, entusiasmamo-nos com as nossas vitórias e não com os feitos de uns rapazes que jogaram , em tempos, na nossa equipa. No Dragão, ninguém aplaude jogadores que cuspiram na cara dos adeptos como um rapaz com nome de fruta e muito menos batemos palmas a rapazitos bilionários que nos marcam golos.
Se calhar é por isso que somos os melhores. Ás tantas....
Contam-se pelos dedos de uma mão as vezes em que elogiei um jogador de outro clube que não fosse o meu. Mas desta vez vou fazê-lo porque acho que o Porto fez um mau negócio. O Lucho é um jogador de outra galáxia. Tem lugar em qualquer clube de topo mundial. Vendê-lo por 18 milhões a um clube como o Marselha (mesmo que seja um clube anti-benfiquista e, por isso, credor da minha simpatia) soa a pouco. Muito pouco. Se pensarmos nos milhões que andam por aí... Que dizes sobre isto, Pedro?
Toda a análise emite uma opinião. Mas nem toda a opinião é fruto de uma análise.