A zelosa ERC está no terreno e até bastante indignada com o "caso TVI". Se está indignada é porque suspeita de alguma coisa. Ou então não se indignava com nada e fazia como o Dr. Soares que acha tudo normal porque foi uma decisão do foro interno de uma empresa privada. De repente, temos duas entidades nacionais, ambas reguladoras dos seus meios, a ERC e o Dr. Soares, com comportamentos antagónicos ao que nos têm habituado: uns, subitamente defensores da liberdade de expressão; o outro, subitamente encantado com o capitalismo selvagem das decisões empresariais.
Viste o debate entre Louçã e Jerónimo?
Qual debate?
O debate.
Qual debate?
O debate.
Qual debate?
Acho que alguém devia substituir o nome da série Batanetes por Tiranetes.
Em boa verdade, se a "europeização partidária" tivesse chegado a Portugal, o debate de ontem seria aquele onde os dois candidatos a primeiro-ministro se confrontavam: de um lado o "socialismo moderno", do outro "o conservadorismo-liberal-possível" no país que temos. De um lado, alguém que considera a liberdade de escolha na educação ou na segurança social pura conversa fiada; alguém que para fugir da criminalidade violenta apanha um TGV imaginário para Bagdad; alguém que defende que o investimento público é tudo e que nega que a "asfixia fiscal" é o caroço na garganta dos portugueses. Do outro lado, alguém que chegou a horas ao debate; que apresentou um raciocínio económico alternativo e em cuja discussão pública se deveria centrar nestas eleições; alguém que sublinhou a "liberdade de escolha" como uma das grandes lacunas da vida quotidiana dos portugueses; alguém que tentou explicar ao primeiro-ministro que a avaliação do anterior governo foi feita em 2005 e que chegou a hora de se avaliar a legislatura mais longa da democracia portuguesa, que beneficiou de uma maioria estável e de um presidente cooperante na maior parte do tempo.
Eu sei bem o que este governo fez no verão passado. E no anterior. E no anterior a esse. Sei e é sobre esse filme que farei a avaliação. Lamento, mas não leva mais que duas estrelas.
Da entrevista de ontem, poucas linhas. Quanto ao político, devo dizer que há na forma de estar de Sócrates algo que aprecio: o homem é firme, gosta de ir à luta, anda nisto como vontade, não está a fazer "nenhum sacrífico pessoal". Quanto ao conteúdo do político: três ou quatro chavões de "modernidade", muitas olhadelas para os papéis, grande confusão entre poder político e poder judicial, fiquei mesmo com a sensação que o primeiro-ministro já sabe como vai terminar o caso Freeport. Como em tudo na vida, a forma não ofusca o conteúdo.
Tenho visto salas à cunha quando os principais líderes partidários falam. Gente que se acotovela, que bate palmas efusivamente mesmo que não concorde com as propostas, malta que ambiciona a primeira fila, o aperto de mão ao barão, um ângulo que lhe permita aparecer nos directos. Estes "eventos" tornaram-se subitamente apetecíveis para muitos. No fundo, são autênticos centros de emprego em altura de crise. Já há mesmo uma nova profissão: o "emplastro político". Quem nunca os viu atrás e bem colados aos líderes a dizer sim com a cabeça? Surpresa era dizerem não. O poder é déspota.
Na última vez que o Benfica foi campeão passei essa tarde no cinema a ver filmes só para não os ouvir. Se isso voltar a acontecer esta época, emigro na véspera. Fica aqui escrito.