Parece que Obama encorajou Lula e Erdogan a mediarem o problema do nuclear iraniano, um mês antes do aparente sucesso diplomático (e comercial, diga-se) entre Brasília, Ancara e Teerão. Hoje, Obama e Clinton discordam do rumo dado e tentam esvaziar o acordo. Se ele foi o candidato 2.0, saberá certamente que a internet pode ser fatal nos dias de hoje.
Convém não esquecer que não é apenas Israel que mantem o bloqueio a Gaza. O Egipto também o conduz.
O pacifismo está para o Hamas, como a democracia estava para a RDA e para a Coreia do Norte, oficialmente conhecida como República Democrática Popular da Coreia.
Tenho para mim que a geografia não é menos importante hoje do que era há três ou quatro séculos atrás. E há países que sabendo disso, aproveitam com mestria a ignorância cartográfica dos demais.
Tenho as minhas dúvidas que a Turquia não tenha acelerado a sua importância para a União Europeia com a política externa que tem mantido no último ano. Passo a explicar a ideia. Primeiro, ao nitidamente secundarizar o processo de adesão à UE e que tinha sido cavalo de batalha nos últimos anos do seu governo, ganha espaço de manobra para ressurgir geopoliticamente. Já percebeu que com Merkel e Sarkozy não se acelera a coisa, por isso mais vale esperar e deixar de aparecer na fotografia como um actor menor face a Paris e Berlim. Recorde-se, por exemplo, que o SPD alemão não é contra a adesão. Segundo, por assumir um papel hostil a Israel na região, contrariando o que vinha sendo feito anteriormente. Passou a contar nos equilíbrios do Médio Oriente, a desejar papéis de interlocutor e mediador na região (nuclear iraniano) e a ser o porta-voz sunita do descontentamento face a Telaviv. Desta forma, retira espaço à liderança xiita do Irão e coloca-se como a grande potência da região no desbloquear de alguns assuntos que exasperam o Ocidente: Irão, Iraque, Afeganistão, Israel-Palestina. No domínio "palestiniano", este papel é bem aceite por muitas capitais europeias e respectivas opiniões públicas.
Com isto tudo, a Turquia revela ser cada vez mais importante para a afirmação internacional da UE; para a estabilidade das operações da NATO na zona de vizinhança do espaço euro-atlântico; e, face à crise na sustentabilidade dos modelos sociais europeus, uma garantia de rejuvenescimento de mão-de-obra nas suas economias.
E agora digam lá se para Cavaco Silva não é melhor não ter estes apoiantes.
Ser forte em casa, para ser mais forte no exterior. É este o mote da Estratégia de Segurança Nacional de Barack Obama e pretende articular as várias dimensões do poder norte-americano para uma melhor acção externa do país. Primeira ideia a fixar: a crise económica (dimensão interna) é uma ameaça à influência internacional dos EUA e à sua capacidade para projectar poder nas diversas regiões onde os seus interesses se jogam. Ou seja, tal como o 11 de Setembro marcou a Administração Bush e motivou o desenho da sua doutrina estratégica, a crise económica e financeira marca o tempo e o modo de actuação da actual Administração. Neste quadro, Bush tentou alterar o status quo internacional através do hard power, enquanto Obama se adapta ao mundo que encontrou, procurando liderá-lo com mais e melhor soft power. Mas há mais na actual estratégia da Casa Branca.
A doutrina Bush - "guerra preventiva", "guerra global ao terror", "exportação da democracia" - é abandonada nesses termos, uma distância necessária ao projecto de Obama e que ocupa definitivamente estes seus primeiros 16 meses de presidência. No entanto, a sua doutrina passa por distinguir uma "campanha global" contra a Al-Qaeda de uma "guerra global contra uma táctica" (terrorismo) ou "contra uma religião" (Islão). Isto faz toda a diferença e revela o benefício de olhar com distância sobre os acontecimentos de 2001, como os efeitos perversos da frágil sofisticação política e militar da Administração Bush. Mais, se o modelo de Bush tentou ser de "exportação democrática", o de Obama quer ser de "boas-vindas aos movimentos democráticos e de apoio às instituições nas frágeis democracias". Não há nada como o senso político para dizer praticamente o mesmo com palavras que parecem música aos nossos ouvidos.
Mas é sobretudo no mapa global que esta doutrina se quer impor: deixou de ser possível continuar a liderar a ordem internacional sem aceitar o estatuto de outras potências, co-responsabilizando-as na resolução dos problemas. Se Bush não soube como acomodá-las, Obama parece confortável com o G20 e com as alianças tradicionais, com a busca de consensos que impõe maior protagonismo à diplomacia e menos às Forças Armadas. Mas ele também sabe que o seu approach exige a pujança militar e económica da América para chegar a resultados diplomáticos. Os seus dramas serão os imponderáveis (desastre natural no golfo do México) ou graves crises a que terá de acudir (Irão). Para isso não chegam doutrinas sofisticadas. É na bravura e equidade das acções que ele será avaliado. E em breve.
Hoje no DN
É um pouco triste ver políticos empenhados em perpetuar a infância. De um momento para o outro, depois dos raspanetes dos pais e de anos a recusar arrumar os brinquedos, mostram com a maior candura que afinal estava ao alcance de um pano do pó limpar a porcaria entranhada. Num assomo de maturidade e sem grande burocracia, cortou-se nos gastos principescos que alimentavam a corte desde que a engorda começou. No fundo, eles é que não estavam para isso.
Das duas uma: ou o homem queria tramar a coligação ou a incompetência chegou cedo ao novo governo britânico.
Voltar a ver as séries que marcaram a nossa infância é como ver hoje ao vivo bandas que foram grandes nos anos 70: deprimente.
Além disso, Pedro, faz mexer a sua candidatura: não há vitórias garantidas, nem apoios cegos. É uma forma de dizer que se quer algo em troca. E para breve.
Cavaco Silva é um homem de sorte. Como se não bastasse ter Alegre como adversário, agora tem também a direita beata e Santana Lopes. É sorte a mais.
Hits (2003)
Pulp
Foi hoje tornada pública a estratégia de segurança nacional de Obama. Um documento que enquadra o comportamento dos EUA no mundo e que procura liderar o debate na segurança, defesa, diplomacia e alianças nos próximos anos. Em 2002, o documento de Bush falava de "preemptive war" e "preventive war" - que não são exactamente a mesma coisa - e "war on terror". Obama abandona toda esta terminologia e desenha uma estratégia mais consensual. Não sei se vai resultar ou não. Querer ser amigo de todos ao mesmo tempo não dá normalmente bom resultado em humanos quanto mais em estados. Mas a praxis política e os imponderáveis logo avaliarão o seu sucesso. Uma coisa Obama diz-nos com clareza: no seu quadro de alianças a fortalecer, os "european allies" aparecem à cabeça. Mas, claro, já não contam para nada, não é?
Parece que a sondagem da Marktest que sai amanhã é muito interessante.
A minha opinião sobre a crise entre as Coreias no TVI24.
Há dias, na estreia do programa Negócios Estrangeiros, no Económico TV, discutia com João Marques de Almeida, Vasco Rato e Miguel Freitas mais esta crise europeia. Um dos raciocínios em cima da mesa - e muito em voga - indicava como deveria a UE ser (nunca aceitando o que ela é) e como teria ela que decidir e agir (sempre a um ritmo acelerado). Às tantas, alguém dá o exemplo das discussões minuciosas sobre marcas de vodka ou tamanho da chouriça para mostrar o ridículo a que o processo de decisão europeu pode chegar. Parece que, se há um preço a pagar por estabilidade, segurança e paz, que seja este. Não há perfeições em política, muito menos numa realidade como a União.
Os coveiros de serviço já trataram de tudo: depois de declarado o óbito, colocam o corpo em jazigo de família. A actividade tem séculos mas ainda não aprendeu grande coisa com a passagem do tempo. Agora o corpo chama-se União Europeia, embora muitos, já de pá ao ombro, gostem de chamar Europa. Até ver, não são bem a mesma coisa. Mas adiante. Esta servilusa da política não quer perceber uma evidência da história europeia: foram as crises que a obrigaram a corrigir, a adaptar e a moldar. Crises, por vezes, com extrema brutalidade, outras com enorme sofisticação. Diga-se, de passagem, que se outras regiões do mundo tivessem sabido adaptar-se aos tempos com essa sofisticação, talvez hoje vivessem um pouco melhor. O meu ponto é este: a história recente da Europa (entre europeus, por um lado, e entre europeus e norte-americanos, por outro) é feita de crises constantes e nenhuma deu cabo das instituições criadas no pós-guerra. Pelo contrário, foram as dificuldades que obrigaram as democracias a fazer uso dos instrumentos criados para resolver problemas políticos e económicos sem o recurso às armas. Mais uma vez, os coveiros de serviço terão muito provavelmente que ir salivar para outras bandas, porque de crise em crise e com mais ou menos relevância no plano internacional, os europeus cá estarão daqui a uns anos para mostrar como se ultrapassam complicações sem disparar um tiro. Pudessem outras partes do mundo fazer o mesmo e estes coveiros tinham os dias contados.
Que interesse pode ter um Mundial se o melhor jogador do mundo não vai estar presente?
Uma das coisas boas nesta altura em Itália é a reedição de toda a obra da Oriana Fallaci. A minha mochila veio cheia e a minha opinião sobre o Khomeini não mudou. Ao invés, passei a gostar do Berlinguer, do onorevole Berlinguer.
Então não é que me armei em masoquista e fui para as bandas de Milão nestes últimos dias? Então não é que vim de lá a detestar ainda mais o Mourinho? Deve ser inveja.
Parece que sábado não cantou esta. Shame on you, Sir Elton John.
Parklife (1994)
Blur