Pois claro, há quem queira ouvir as escutas porque está muito preocupado com o estado da nação. Não tem nada a ver com estratégias pessoais, nem com tentativas de mostrar que uma estratégia errada e iníqua era a certa.
Quer-me parecer que os mártires, desta vez, vão ficar a falar sózinhos. Nem todos ajudam como Sócrates ajudou.
Que vão falando.
Tudo isto existe, tudo isto é lindo, tudo isto é metal.
A ver se eu percebi. Pedro Passos Coelho, "para salvar o país", deu cobertura à solução única encontrada pelo governo. Uma semana depois, afirma junto de empresários que os problemas do país só se resolvem com eleições, presumo que depois das presidenciais. Entretanto, abstem-se na moção de censura do PC, mas antecipa uma consequência política se as conclusões da comissão de inquérito indicarem habitar em São Bento um mentiroso. Ou seja, por um lado apoia-se o governo, por outro acena-se com eleições antecipadas duas vezes numa semana. É obra.
Hoje, às 23.30, na Edição Internacional da Renascença, estarei com o Andrés Malamud a analisar o acordo entre Irão, Turquia e Brasil e ainda a Cimeira UE-América Latina.
O CDS não teve a excelente votação nas últimas eleições pelas suas propostas relativas ao subsídio de desemprego e à diminuição dos salários dos políticos. Teve-a porque o PSD estava sem liderança.
Por muito que custe aos dirigentes centristas, o CDS depende da capacidade do PSD se afirmar como alternativa ao PS.
Há distracções que podem sair muito caras.
José Sócrates, tentando provar que não havia insensibilidade social no plano de austeridade, argumentou que um milhão de portugueses não seriam afectados pelo aumento do IRS. Pois é, não havia melhor maneira de exibir o verdadeiro estado do país.
Hoje, no Atlântico, uma merecida homenagem a Ronnie Dio. E eu vou lá estar.
Sabemos ou não sabemos que entrámos no Euro no limite do cumprimento dos critérios? Sabíamos ou não sabíamos que teríamos que cumprir critérios rigorosos de política orçamental? Fomos ou não fomos avisados, durante a última década, que estávamos no mau caminho e que mais tarde ou mais cedo pagaríamos um preço elevado? Por que estamos surpreendidos por "2010" ter finalmente chegado? Somos inconscientes ou perdemos a memória? A questão é muito simples: a entrada no Euro exige obrigações.
Resolvi fazer um anúncio ao país para dizer que estou muito chateado. Estou mesmo muito chateado.
Não há direito. Há para aí uns tipos que mandam mais do que eu. Parvos, estúpidos.
Pronto. Agora vou amuar.
Christopher Hitchens na Slate
Soup (1995)
Blind Melon
David Cameron e Nick Clegg caminharam ontem juntos pelos jardins de Downing Street. Era importante defenderem uma imagem dinâmica e segura que vincasse o mote da sua coligação: recuperar a economia e reduzir os 12% de défice. O desafio é tal que ambos foram obrigados a concentrar-se nos pontos de convergência, retirando das prioridades negociais o que manifestamente os afasta. Ora, isto só é possível porque as lideranças são bem mais pragmáticas que ideológicas e perceberam, sem grande dificuldade, que uma governação de sucesso a termo certo (2015) lhes pode trazer mais benefícios do que uma mera prestação de serviços mútuos. Do lado conservador, seria um argumento extra para pedir aos eleitores a desejada maioria absoluta; aos liberais-democratas, uma forma eficaz de promover a alteração do sistema eleitoral e aproveitar as fraquezas do Labour para captar eleitorado.
O argumento de uma coligação contranatura ou politicamente irreconciliável só tem validade caso a coligação entenda fazer cavalos de batalha das diferenças. Ora, para haver acordo é porque elas ficaram para segundo plano ou a necessitar de afinação (imigração, Afeganistão, nuclear, sistema eleitoral). O que estes líderes dizem ao país é que as prioridades dos britânicos não passam por aí, mas sim pelo combate ao desemprego, à despesa pública, à injustiça fiscal, à insegurança e à imoralidade de muitos desempenhos políticos. Esta coligação tem um carril montado para iniciar uma viagem difícil, um novo líder trabalhista implacável e uma difícil disciplina partidária. Catalogar o quadro como “nova política” não é mais do que um chavão vazio. Tudo isto é apenas política. E da velha.
Hoje no DN
José Sócrates anuncia o aumento de impostos de gravata laranja. Aguardo que Pedro Passos Coelho declare a sua solidariedade mostrando uma gravata rosa.
William Hague vai a Washington na próxima Sexta já como Foreign Secretary, antes que a relação deixe de supostamente ser especial e passe a mais uma no quadro das relações relevantes da actual administração. Que Hague não dá grande importância à União Europeia já o sabemos há muito; ficar sem uma grande âncora internacional era o pior dos quadros no início de mandato. É também uma forma de marcar posição na coligação com os euroentusiastas de Nick Clegg.
O dia desportivo de hoje é do Frederico Gil. Apesar de lampião, o seu lema de trabalho só pode ser esforço, dedicação, devoção e glória (uma filosofia que devia ser prescrita aos portugueses desde o berço). É assim com os grandes campeões. Os verdadeiros campeões, seja em que desporto for. É assim com o Gil, com o Tiago Pires no surf, com o João Pina no judo e com muitos outros que vão dando a Portugal títulos internacionais a cada ano que passa. Não ganham milhões. Não cospem nos adversários. São saudáveis e disciplinados. Trabalhadores e companheiros. Passam dificuldades, muitos certamente estudam ou trabalham antes e depois dos treinos. Raramente têm um foco de atenção nos media relevantes e nem sequer pensam em horário nobre. O futebol nunca foi um desporto.
Nunca imaginei ficar tão contente por ficar retido numa ilha por causa das cinzas de um vulcão. Não faço ideia quem ganhou o campeonato. Não sei o que se passa em Lisboa. O ar aqui é limpo e as pessoas que estão nas ruas são civilizadas. Nunca uma tão grande contrariedade me pareceu tão perfeita. Obrigado, Eyjafjallajkul.
Hospice (2009)
The Antlers
Esta análise eleitoral não sofre da síndroma da vitória perpétua do partido comunista português: neste caso, todos perderam. Os conservadores, por não terem maioria absoluta após 13 anos de poder trabalhista; o Labour, porque perde legitimidade para liderar o novo Governo; o Lib-Dem, por defraudar todas as sondagens. Se a Grã-Bretanha sai também derrotada com estes resultados é o que fica ainda por explicar.
Se o voto útil derrotou Nick Clegg, não o inutilizou para a política. Provado que vitórias televisivas não garantem conquistas eleitorais, o Lib-Dem continua a marcar um território suficientemente forte para garantir uma solução maioritária nos Comuns, necessariamente com os conservadores, e com um programa de estabilidade política e crescimento económico de difícil adaptação mútua e certamente polémico. Se as conversas fracassarem, Gordon Brown piscará o olho a Clegg, prometendo-lhe outro destaque e a garantia de uma agenda que satisfaça os seus objectivos. Em qualquer dos casos, Brown teria os dias contados: na oposição será descartado pelo partido; no Governo não durará meia legislatura e verá os liberais conquistar-lhe eleitores. Sair de cena com dignidade é uma arte na política.
Hoje no DN