Juros da dívida sobem...
Cavaco leva 16 anos de cargos políticos. Fez uma campanha no fio da navalha, dramatizou tanto a primeira volta que até foi buscar o papão dos juros, acusou o Governo de mentir, de falhar e de fazer apostas erradas. Usou a direita para ganhar votos, afastou-o para tentar ganhar ainda mais. Podia ter saído da política eleitoral (depois de cinco vitórias) pela porta pequena, daí ter tido ontem uma vitória boa. Uma vitória boa expressa num mau resultado. Ganhou em todos os distritos e Alegre teve menos de metade dos votos de PS e BE. Verdade. Mas perdeu meio milhão de votos face a 2006 e, mais do que isso, não cresceu a sua base eleitoral depois de 5 anos como Presidente. Como teria sido a noite de ontem com um candidato mais à direita?
Mesmo com eleições a grafonola toca
Amanhã vou estar atento às taxas de juro.
Houve dois discursos ressabiados: o de Louçã e o de Cavaco
Eu esperei
mas o dia não se fez melhor
e o sujo não se quis limpar
inventou mais flores em meu redor
como se eu não fosse olhar!
Enfeitou as ruas para cobrir
terra seca de não semear
deram-me água turva a beber
dizem cura e força e solução
como se eu não fosse olhar!
Eu esperei
mas o fumo não saiu da estrada
Arde o sonho em troca de nada
Dizem festa, mas é solidão
como se eu não fosse olhar!
A mentira não se fez verdade
e a justiça não se fez mulher
A revolta não se fez vontade
Braços novos sem educação
sangue velho chora de saudade!
Eu esperei
dizem luta mas não há destino
dão-me luzes mas não é caminho
dizem corre mas não é batalha
como quem não quer mudar!
Esta corda não nos sai das mãos
esta lama não nos sai do chão
esta venda não deixa alcançar.
cantam “armas” mas não é amor
mão no peito mas não é amar
fato justo mas sem lealdade
cavaleiro mas já sem moral
braços sujos que se vão esconder
braços fracos não são de lutar
braços baixos não se querem ver
como se eu não fosse olhar!
Eu esperei
pelo tempo transparente em nós
pelo fruto puro de escolher
pela força feita de alegria
mas o povo dorme na ilusão!
e a tristeza é forma de sinal
Liberdade pode ser prisão...
Meu Deus, livra-nos do mal
e acorda Portugal...
Letra e música de Tiago Bettencourt.
Calma, minha gente. Não virei cavaquista de última hora. Em rigoroso exclusivo para o União de Facto, publicamos a letra da música que marcou o último comício da candidatura de Cavaco Silva. O autor é o meu amigo Tiago Bettencourt. Este post serve apenas e só para dizer que sou amigo dele há vinte anos. Um abraço, Tiago.
Alegre + Louçã + Soares = 40,35
PS + BE = 46.37
SIC
Cavaco 51.6 - 56
Alegre 17 - 20.9
Nobre 13.1 - 16.3
Lopes 6.3 - 7.5
Coelho 3.3 – 4.5
Moura 1.1- 2.1
RTP
Cavaco 52 - 58
Alegre 21 – 18
Nobre 13.5 - 16.5
Lopes 5 - 8
Coelho 2 - 4
Moura 1 - 2
TVI
Cavaco 51.4 – 55.4
Alegre 17.2 – 21.2
Nobre 12.4 – 16.4
Lopes 5.8 – 8.8
Coelho 3.1- 5.1
Moura 0.7 – 2.7
A confirmarem-se os dados da abstenção, não representam qualquer surpresa. Há muito que é notório o afastamento entre o povo e a política, mas, mais do que isso, os candidatos ao mais alto cargo da nação pouco fizeram para o aproximar. O calculismo político sem ideias de Cavaco, a inexistência política retrógada de Alegre, a demagogia populista de Nobre, o mesmo de sempre de Lopes, o provincianismo bacoco de Defensor e a patetice de Coelho, não mereciam mais do que isto.
Foi a pior campanha de sempre num dos momentos políticos mais importantes de sempre.
E já agora, deixem-se de desculpas: a culpa não é do cartão do cidadão.
Ainda tenho o meu velho e gasto cartão de eleitor...
Pedro Mexia
O cartão de cidadão é sofisticadíssimo, tem chip e tudo. Depois tem um autocolantezinho com o número de eleitor escrito à mão. Só dá para rir.
Uma participação de 13,4% até ao meio dia é um péssimo sinal. Pela democracia, não pelo que dela podem fazer os seus protagonistas. Sampaio que o diga. Reeleito em Janeiro com uma abstenção recorde de 50,29%, em Dezembro provocou eleições com um Governo de maioria absoluta.
A Comissão Chilcot foi criada por Gordon Brown sem uma natureza jurídica. A questão põe-se sobre as suas consequências judiciais, dado que o impacto político tende a afectar pouco protagonistas já afastados da vida pública. Como há um ano lhe chamei é, até ver, um extraordinário exercício de justiça diletante. Mas há dois novos pontos revelados entretanto.
Hoje no Diário de Notícias
Antes do pagamento de impostos, o gasóleo em Portugal é 4 cêntimos mais caro do que a média da UE. A gasolina 3 cêntimos.
"A minha candidatura é a única que não tem compromisso com este Orçamento de cortes salariais, de congelamento das pensões, de ataque aos direitos sociais”.
Francisco Lopes, o promotor do regresso das nacionalizações
"Posso contribuir para uma segunda volta porque vou dividir os votos de Cavaco Silva".
José Manuel Coelho, ex-comunista candidato a presidente
“Dêem-me um tiro na cabeça porque sem um tiro na cabeça eu vou para Belém”.
Fernando Nobre, doutor em medicina e cirurgia
"Não tenho informação [sobre os confrontos entre a polícia e sindicalistas à porta do primeiro-ministro] mas critico na mesma como é óbvio".
Manuel Alegre, ex-vice-presidente do Parlamento
Uma segunda volta seria “desviar as atenções do essencial” e causaria “uma contracção do crédito e uma subida das taxas de juros" com consequências para as “empresas e famílias”.
Anibal Cavaco Silva, doutorado em Finanças Públicas
Vieira da Silva e Silva Pereira.
Nem a visita de Hu Jintao a Washington é a mais importante desde que há mais de 30 anos Deng Xiaoping visitou a Casa Branca, nem é uma mera fotografia para a posteridade. É na medida intermédia que este encontro deve ser visto.
Hoje no Diário de Notícias
Portugal pagou 11 mil euros por minuto em juros nos primeiros dez meses de 2010.
"Sei que tenho dito isto todos os dias mas os combustíveis podem voltar a aumentar".
Rodrigo Guedes de Carvalho, jornal da noite da SIC
Sondagens são sondagens, valem o que valem as sondagens. Mas é já um clássico: quando os resultados não são bons das duas uma - ou é culpa da comunicação social ou é culpa das sondagens. Vital Moreira que o diga...