Sou contra a aplicação de um tecto para o salário dos gestores públicos porque ser presidente da CGD num mercado competitivo e altamente qualificado não é o mesmo que gerir a REFER - sem nenhum menosprezo. Primeiro, defina-se o Estado que queremos ter, de onde queremos sair, para onde queremos ir. Só depois os salários. Tudo o resto é pura demagogia. Basta recordar a forma primária como o então candidato a primeiro-ministro, José Sócrates, numa entrevista à Única (aquela em que citou 19.8731 e tal autores) fez do salário de Paulo Macedo um caso "de vergonha nacional". Mais tarde, já no Governo navegou politicamente, entre 2005 e 2008, ao sabor dos recordes de receita que foram arrecadados...
"Sócrates jantou com Nobre em casa de Mário Soares".
"Nobre considera descida do défice excelente notícia".
Questionado dois séculos depois sobre o impacto da Revolução Francesa, o primeiro-ministro chinês Zhou Enlai terá afirmado ser "ainda cedo para o dizer". Sem exageros contemplativos ou optimismos imberbes, sigo o cepticismo: presenciamos mudança para que tudo fique mais ou menos na mesma ou há um dominó de liberdade no Médio Oriente suficientemente forte para aproximar 1989 de 2011?
Hoje no Diário de Notícias
Gostava que um primeiro-ministro qualquer, num momento qualquer, apoiado por um partido qualquer, com uma estratégia qualquer transformasse um dia Portugal numa Jerónimo Martins qualquer. Com excedentes e anúncios contentes. Eu gostava...
João Correia, ex-secretário de Estado da Justiça, ameaça recorrer para os tribunais para obrigar o seu ex-colega de Governo, José Magalhães, a dar um despacho favorável ao pagamento dos duodécimos do subsídio de férias e de Natal de 2010, ano em que se demitiu do Executivo. Isto é mentira! Não é verdade. Não pode ser verdade. Não pode....
Depois de uma ida mítica às Antas nas meias-finais - perda de travões na A1; chegada tardia às Antas; golo imediato de Barbosa - e de ganharmos ao Porto na segunda mão em Alvalade, a final perfeita só podia ser com o benfica. Lembro-me como se fosse hoje. Confusão, enchente, as cenas habituais nos arredores do estádio. Lá dentro, bancadas cheias: metade verde, metade aquela cor. O primeiro disparo foi para a mata do Jamor, perto da praça da maratona. O segundo acertou no meio do topo norte onde milhares gritavam bem alto o nome do grande Sporting. Segui com os olhos toda a trajectória do very light de um topo ao outro, empoleirado no clássico muro de pedra exactamente atrás da baliza de Costinha. O jogo tinha terminado ali. Houve tentativa de invasão ao campo, faixas roubadas, vedações partidas, muita raiva. Não vi mais nenhum dos golos. Mas vi um homem a passar à minha frente, carregado por outros, com um enorme buraco no peito a deitar fumo. Essa imagem nunca saiu da minha cabeça. Depois foi o que se sabe pelas ruas de Lisboa. Toda a gente sabia ao intervalo o que tinha acontecido e ninguém foi capaz de interromper o jogo. Lembro-me mais tarde de ver dois golos de João Pinto. Estas coisas não se esquecem. Também por isto nunca festejei nenhum dos que marcou de leão ao peito. E também me lembro de ver na televisão o Paulo Bento festejar em frente ao topo sul. O mesmo topo de onde tinha, pouco antes, saído um disparo em direcção a nós. Podia ter sido eu. Tive sorte. Estas coisas não se esquecem.
Desde quando é que a pop serve para pedir segurança e estabilidade, vidas burguesas e deprimentes, em escritórios e armazéns, com contratos vitalícios e subsídios de férias?
Esta semana, André Abrantes Amaral e Antonieta Lopes da Costa em debate com Francisco Proença de Carvalho e João Maria Condeixa.
Juntos, analisam alguns dos principais temas da actualidade:
- Moções de Censura - um prenúncio de morte ou um balão de oxigénio para o governo?
- Ministro Rui Pereira - depois dos blindados e das eleições - com pedidos de demissão - assistimos a uma espécie de trapalhada com a vigilância da costa portuguesa. Parece que agora é feita à base de binóculos, em vez de radares? Deverá ser Rui Pereira um dos remodeláveis, esse trunfo que Sócrates vai tentando adiar?
- Pacto de Competitividade - Merkel propôs medidas controversas para a uniformização das políticas fiscais dos Estados-membro da UE. É a única receita possível, ou uma machadada na soberania?
- Egipto - Depois de 18 dias de intensos protestos, Mubarak caiu, a 11 de Fevereiro. E agora? Será este acontecimento a queda do “muro de Berlim” dos países do Médio Oriente?
“Descubra as Diferenças”… Um programa de opinião livre e contraditório, onde o politicamente correcto é corrido a quatro vozes e nenhuma figura é poupada. No final de cada emissão, fique para ouvir a já clássica “cereja em cima do bolo”: uma música, em irónica dedicatória, ao político/figura/situação em destaque na semana.
Rui Pereira gere três coisas: eleições, segurança e protecção civil. Que não venha um sismo porque o senhor já se antecipou e passou de ministro a sinistro.
Ou seja, no Bahrain pede-se mudança dentro do mesmo regime, no Irão mudança e um novo regime. No Médio Oriente há um dominó de razões coincidentes, embora as peças em cima do tabuleiro se distingam na exacta medida das particularidades de cada Estado.
Hoje no Diário de Notícias
Em vez de um governador frontal há por aí quem prefira um INE à espanhola: "El INE corrige el crecimiento intertrimestral - la economia cayó un 0,0248846796326418% en el tercer trimestre".
"Desemprego cresce à custa das mulheres e dos mais qualificados" e "os jovens também estão entre os mais afectados pelo fenómeno em especial os mais qualificados". Não é um crítico de música pimba que o diz, é o INE.
Este governador tem um pecado capital: o seu antecessor. É como o Hélder Postiga... Ainda assim, nada, mesmo nada, justifica isto. As lições de economia deviam ter sido dadas até 2002, antes do pântano.
Victor Escaria, assessor económico do primeiro-ministro, disse hoje numa cerimónia pública que a Justiça é o grande entrave à competitividade. Tinha ideia que é por lá que um secretário de Estado saiu ha três meses e nunca foi substituído. Tinha ideia...
Tivemos o confronto com a PSP à porta do primeiro-ministro com festa no tribunal depois da absolvição. Tivemos as greves selectivas nos transportes. Segue-se uma greve geral da CGTP a 19 de Março. Teremos as manif´s do 25 de Abril e depois o 1º de Maio. O pê-cê aquece a rua para depois aquecer o hemiciclo. Cheira-se...
"Penso que [que a taxa de desemprego] vai ficar ligeiramente acima" dos 10,6% previstos pelo Governo, disse 0 Secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional, Valter Lemos, à Lusa". 17 Janeiro de 2011
"A taxa de desemprego no quarto trimestre de 2010 aumentou 1 ponto percentual em termos homólogos e 0,2 pontos percentuais em cadeia, para 11,1%, tendo acabado 2010 nos 10,8%, superando a meta do Governo de 10,6%".
16 de Fevereiro de 2011
Ou Portugal segue o exemplo americano ou segue o inglês. Nos Estados Unidos entra uma administração nova e, com ela, entram todos os dirigentes públicos de topo. Em Inglaterra, mudam os governos mas não mudam os principais directores. Por cá, os ministros dizem, com orgulho!, que não foram nomeados 41 "boys". Foram apenas promovidos 41 militantes do PS que já trabalhavam na Segurança Social há mais de 30 anos. Com que critério? Confiança política ou confiança técnica?
Foi ontem libertado pela justiça americana Mohammed Babar, o único cúmplice dos ataques terroristas de Londres até hoje detido. Sentença inicial, 70 anos; anos preso: quatro e meio. Não há muito tempo, o governo de Gordon Brown libertou o terrorista de Lockerbie, causando repúdio na Administração Obama. Hoje, só resta a David Cameron retribuir a franqueza.
Hoje no Diário de Notícias
O BE teve uma demissão na mesa nacional. Paulo Silva sai devido ao "profundo desrespeito" por este órgão que reuniu cinco dias antes de Francisco Louçã anunciar a dita moção da vergonha, ups! desculpem, censura. Parece que o assunto não foi à mesa...
Sócrates: "Queria chamar a atenção para o facto mais importante. Terminámos o ano de 2010 com um crescimento económico de 1,4 por cento. Quanto é que o Governo no seu orçamento previu de crescimento económico para 2010? 0,7 por cento. Temos o dobro do crescimento em 2010 do que o próprio Governo estimou".
Mercados: Juro de Portugal avança para 7,4%.
P.S. OCDE diz que as coisas vão melhorar.
Em 1969, na Universidade de Stanford, o Prof. Phillip Zimbardo realizou uma experiência de psicologia social. Deixou duas viaturas abandonadas na via pública, duas viaturas idênticas, da mesma marca, modelo e até cor. Uma deixou em Bronx, na altura uma zona pobre e conflituosa de Nova York e a outra em Palo Alto, uma zona rica e tranquila da California. Duas viaturas idênticas abandonadas, dois bairros com populações muito diferentes e uma equipa de especialistas em psicologia social estudando as condutas das pessoas em cada sítio. Resultou que a viatura abandonada em Bronx começou a ser vandalizada em poucas horas. Perdeu as jantes, o motor, os espelhos, o rádio, etc. Levaram tudo o que fosse aproveitável e aquilo que não puderam levar, destruíram. Contrariamente, a viatura abandonada em Palo Alto manteve-se intacta. É comum atribuir à pobreza as causas de delito. Atribuição em que coincidem as posições ideológicas mais conservadoras, (da direita e esquerda). Contudo, a experiência em questão não terminou aí, quando a viatura abandonada em Bronx já estava desfeita e a de Palo Alto estava há uma semana impecável, os investigadores partiram um vidro do automóvel de Palo Alto. O resultado foi que se desencadeou o mesmo processo que o de Bronx, e o roubo, a violência e o vandalismo reduziram o veículo ao mesmo estado que o do bairro pobre.
Porquê que o vidro partido na viatura abandonada num bairro supostamente seguro, é capaz de disparar todo um processo delituoso?
Não se trata de pobreza. Evidentemente é algo que tem que ver com a psicologia humana e com as relações sociais. Um vidro partido numa viatura abandonada transmite uma ideia de deterioração, de desinteresse, de despreocupação que vai quebrar os códigos de convivência, como de ausência de lei, de normas, de regras, como que vale tudo. Cada novo ataque que a viatura sofre reafirma e multiplica essa ideia, até que a escalada de actos cada vez piores, se torna incontrolável, desembocando numa violência irracional.
Em experiências posteriores (James Q. Wilson e George Kelling), desenvolveram a 'Teoria das Janelas Partidas', a mesma que de um ponto de vista criminalístico, conclui que o delito é maior nas zonas onde o descuido, a sujidade, a desordem e o maltrato são maiores. Se se parte um vidro de uma janela de um edifício e ninguém o repara, muito rapidamente estarão partidos todos os demais. Se uma comunidade exibe sinais de deterioração e isto parece não importar a ninguém, então ali se gerará o delito.
Se se cometem 'pequenas faltas' (estacionar-se em lugar proibido, exceder o limite de velocidade ou passar-se um semáforo vermelho) e as mesmas não são sancionadas, então começam as faltas maiores e logo delitos cada vez mais graves. Se se permitem atitudes violentas como algo normal no desenvolvimento das crianças, o padrão de desenvolvimento será de maior violência quando estas pessoas forem adultas. Se os parques e outros espaços públicos deteriorados são progressivamente abandonados pela maioria das pessoas (que deixa de sair das suas casas por temor aos gangs), estes mesmos espaços abandonados pelas pessoas são progressivamente ocupados pelos delinquentes.
A Teoria das Janelas Partida foi aplicada pela primeira vez em meados da década de 80 no metro de Nova York, o qual se havia convertido no ponto mais perigoso da cidade. Começou-se por combater as pequenas transgressões: graffitis deteriorando o lugar, sujidade das estacões, ebriedade entre o público, evasões ao pagamento de passagem, pequenos roubos e desordens. Os resultados foram evidentes. Começando pelo pequeno conseguiu-se fazer do metro um lugar seguro.
Posteriormente, em 1994, Rudolph Giuliani, mayor de Nova York, baseado na Teoria das Janelas Partidas e na experiência do metro, impulsionou uma política de 'Tolerância Zero'. A estratégia consistia em criar comunidades limpas e ordenadas, não permitindo transgressões à Lei e às normas de convivência urbana. O resultado prático foi uma enorme redução de todos os índices criminais da cidade de Nova York. A expressão 'Tolerância Zero' soa a uma espécie de solução autoritária e repressiva, mas o seu conceito principal é muito mais a prevenção e promoção de condições sociais de segurança. Não se trata de linchar o delinquente, nem da prepotência da polícia, de facto, a respeito dos abusos de autoridade deve também aplicar-se a tolerância zero. Não é tolerância zero em relação à pessoa que comete o delito, mas tolerância zero em relação ao próprio delito.
Trata-se de criar comunidades limpas, ordenadas, respeitosas da lei e dos códigos básicos da convivência social humana.
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