Obama e o seu staff ideológico para a temática (Hillary Clinton, Susan Rice, Anne-Marie Slaughter, Samantha Power) cedo traçaram duas linhas de ação: restaurar a imagem diplomática norte-americana beliscada nos anos Bush e recolocar o Conselho de Segurança no centro da gestão das grandes questões de segurança internacional (Líbia, Síria, Irão).
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Cada vez que os sindicalistas da Justiça portuguesa dissertam sobre a separação de poderes, a campa de Montesquieu na Igreja do São Sulpício em Paris deve tremer com grande veemência.
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A verdade é que os BRIC sem a China não teriam qualquer impacto global. A China representa mais de 70% do PIB gerado na última década pelos BRIC, as suas exportações mais do dobro dos outros três juntos. Enquanto que Pequim tem uma quota de 9% do PIB mundial, Brasil, Índia e Rússia têm em conjunto 8% (vale a pena lembrar que os EUA têm 23%). Os BRIC são a China e mais três, não uma quadra entre iguais.
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Não me dou mal com o meu país. Portugal não me tem tratado mal, verdade seja dita. Não é que sejamos propriamente amigos muito chegados, não me esqueço da forma como ele tem tratado a maioria esmagadora dos meus irmãos de berço. Gente que lhe dedica um amor assolapado, uma paixão irracional. Cidadãos capazes de dar a vida por uma ideia que nunca se cumpriu e, mais do que certamente, nunca se cumprirá. Homens e mulheres que fugiram da miséria para terras onde puderam matar a fome aos filhos e se reúnem em cafés de lugares longínquos, que os tratam como nunca Portugal os tratou, a beber umas Sagres e a comer uns pastéis de bacalhau a suspirar por um pedaço de céu lisboeta, uma courela minhota ou a morrer de angústia por não verem a imensidão da planície alentejana. Pois é, não sou como aqueles tipos que dizem que um bandido qualquer é um porreiro porque o estupor uma vez lhes emprestou cinco tostões para comprar pão: “Bem sei que o Costa é um pulha mas a mim nunca me fez mal”. Para esse peditório não dou.
Seja como for, nunca me apeteceu emigrar. De qualquer maneira serei sempre português mesmo que fuja daqui para fora, que me esqueça da minha língua, que o espaço que ocupamos desapareça no oceano ou que um chinês qualquer leve o bacalhau, os pastéis de nata, o Pessoa e o futebol para a província de Heilongjiang (não procure, existe mesmo).
Tenho reparado, porém, que andam para aí uns rapazes com dúvidas sobre qual é de facto a sua nacionalidade, e vai daí resolveram espetar na lapela umas bandeirinhas com as cores pátrias. Estes cidadãos levantam-se de manhã, tomam banho, digo eu, e enquanto se esfregam, perguntam-se: “De onde é que eu serei?” Carregados de dúvidas, começam-se a vestir e vêm o pin verde e vermelho: “Oh pá, é verdade, sou português. Deixa-me cá pôr isto para ver se não me esqueço”. Será assim como um tipo que veste todos os dias uma camisa com um arco-íris para se recordar que é gay ou põe um papelinho no anel para não se esquecer de respirar ou um post it na carteira para que não se lhe varra que é do Sporting. O que é assim a atirar para o estranho, já que estes desmemoriados seres são todos ministros ou responsáveis governamentais ou estatais. Posso estar enganado, mas na minha ingenuidade tinha para mim que eram exactamente estes cavalheiros que nunca deviam ter dúvidas acerca de para quem trabalhavam.
Claro que posso estar a ser injusto. Às tantas, como somos um bocado distraídos, querem que não existam dúvidas que somos governados por portugueses e não por Alemães ou Liberianos. Há que dizer que se for essa a razão compreendo.
Também pode ser moda. Bem sabemos como às vezes aparecem modas cretinas, o que vale é que passam depressa.
Publicado na edição da Life de 29 de Março
Uma das qualidades que mais aprecio nos meus amigos é o seu total desinteresse pela política. Eu explico. A maior parte deles não tem, não quer e não perde dois segundos com qualquer assunto de congresso, de cozinha, de corredor ou de marquise política. Vivem há mais de três dácadas noutra. Ou seja, na sua. Na deles. É louvável. Às vezes acho mesmo que eu sou a única ligação que têm ao badalhoco mundo dos assuntos políticos, o que faz de mim uma ave absolutamente rara no meio deles. Seria ainda mais rara se eu fizesse alguma questão de falar de política (de cá ou de além mar) quando estou com eles. Não faço. Graças deus e a Millôr (mais ou menos a mesma entidade) que não faço. Nunca fiz. Deve ser por isso que somos todos bons amigos há tantos e bons anos. A política nunca conseguiu passar da ombreira da porta. E assim vai continuar. Amizade é coisa demasiado séria para ser perdida para assuntos menores.
Dizia o grande Millôr que "quando um baterista morre, deve-se fazer um minuto de barulho". Hoje não morreu um baterista. Morreu um grande artista. Dos maiores de sempre. Fazia o que queria da língua, da escrita, do traço. Usou fina ironia até ao fim. Dobrou o português como lhe apeteceu. Era um frasista como lhe chamaram. O maior dos frasistas. Como disse o Sérgio Sant'anna, pessoas como o Millôr deviam durar uns 200 anos. Pelo menos uns 200 anos.
Por fim, será uma cimeira com menos figuras carismáticas do pan-arabismo mas com mais nomes da islamização em curso. Esta cimeira da Liga Árabe mostrar-se-á tudo menos homogénea e coesa. Como, aliás, a região que representa.
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Michael Lind, em bom resumo na revista Salon, considera mesmo a sua grande estratégia uma revolução na política externa americana: corte com o internacionalismo liberal e o neoconservadorismo do pós-Guerra Fria e a defesa do velho jogo da política de poder estadual como matriz. Esta administração trabalha mais sobre uma perspetiva de equilíbrio de poder na grande região da Ásia-Pacífico e na contenção da China do que num modelo de intervenção humanitária permanente e marcadamente idealista. A retração presente na política externa de Obama é um corte com o wilsonianismo influente nos democratas e nalguns sectores à direita e um regresso à clássica escola realista que 1989 parecia ter evaporado.
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Isto é extremamente perigoso e a Europa, no seu todo, não tem sido capaz de o enfrentar. A França muito menos. Há demasiado silêncio no ar.
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Está a correr tudo bem. Era este o plano, não era?
Quando as empresas não tiverem lucros nenhuns e tiverem despedido os empregados todos aparece um santinho e pimbas fica tudo jóia. Enquanto o santinho não vem cortam-se mais salários na função públca e desta vez, para que haja justiça na nossa conhecida repartição de sacrificios, vai também o subsidio de Natal e o de férias dos trabalhadores do sector privado. Talvez não ajude muito a receita, mas a despesa ui ui. Também não temos nada com que nos preocupar, o santinho vai aparecer, oh se vai.
Calma, estamos nas mãos de gente muitíssimo inteligente.
Segundo o Ministro das Finanças, "estamos a aproximar-nos do meio da ponte".
Só ainda não sabemos bem se é para saltar da ponte ou se é para chegar ao outro lado.
Veremos...
Nos últimos cinco anos, Rússia e China usaram quatro vezes o duplo veto no Conselho de Segurança. Birmânia, Zimbabué e Síria (duas vezes) seguiram-se a outros exemplos do passado recente, como Kosovo, Sudão, Iraque ou Irão. Há aqui um padrão de cooperação para o futuro? Como pode ser definida uma relação tão influente na política internacional?
Hoje no Diário de Notícias
Amanhã e depois. Apareçam.
Já aqui disse por mais de uma vez que não sou frequentador de "redes sociais". Não tenho facebook nem conta no twitter. Conta só no banco e books só nas prateleiras cá de casa. Quando quero socializar recorro a métodos em total desuso e for de moda, como ligar a alguém, mandar um email e falar pessoalmente. Pode ser ao almoço, um simples café ou uma boa jantarada. Pode ser cá em casa, claro. Também não ando à caça de gente que não vejo há vinte anos, porque se eles fossem meus amigos não estávamos de certeza vinte anos sem nos falarmos. Conheço pessoalmente todos os meus amigos e amigas de há vinte anos e não quero engrossar a grupeta, obrigado. Vem isto a propósito do quê, que já não me lembro? Isso, do recurso permanente ao email para coisas de trabalho. Noto, desde que isto se tornou para mim uma ferramente imprescindível, que há uma crónica diferença entre o receptor tuga e, digamos, o receptor estrangeiro. Quando se envia um email a um académico, um cronista, um "gajo de alfama" qualquer americano, italiano, inglês, japonês ou o que seja, poucas horas depois há uma resposta na nossa caixa. "Sim", "não", "penso isto", "faça aquilo", "discordo", "concordo". É fácil chegar a qualquer tipo e conversar com ele. Já falei horas ao telefone com um autor americano que admiro depois de ele, simpaticamente, ter sugerido que por email dava demasiado trabalho. E um tuga, como é? Não é. Não responde. Não dá sinal de vida. Nunca tem tempo, nunca tem posição, não está para isso nem para nada. Estou obviamente a caricaturar, há excepções. Mas nota-se no trato. Na feitura do próprio email. Escreve-se um email a um yankee e a coisa vai educadamente simples. Envia-se a um tuga bem posicionado e perde-se uma tarde a pensar em cada linha, no cerimonial, na fórmula mágica de lhe chamar a atenção. Há uma arrogância de pacotilha, uma passadeira vermelha prévia a qualquer contacto. É triste, mas ainda é muito assim.
O primeiro está em saber o nível de reação que as reformas na justiça e na segurança provocam entre os feudos criados. Tendo em conta os últimos anos, é ver para crer o seu sucesso. Contudo, há dois outros fatores que podem ser vantajosos. O primeiro é o facto de Carlos Gomes Júnior reunir o apoio de Angola e de esta ser fundamental como parceiro de Bissau. Foi quem abriu uma linha de crédito importante no ano passado e quem sustenta basicamente a reforma do sector de segurança. Luanda tem duzentos militares na Guiné e mantém todo o interesse na estabilidade do país para melhor potenciar as contrapartidas económicas e geopolíticas.
Sábado no Diário de Notícias
A forma como evoluir o ano político ditará o quadro conjunto de transição pós-UNMIT. Talvez seja prudente que a ONU reavalie o calendário acordado com Díli. Portugal, no Conselho de Segurança, tem sobre isso uma palavra a dizer.
Sexta no Diário de Notícias
O meu artigo hoje no Económico.
Continua isto a fazer sentido? Talvez um plano B passe por rever três pontos: acelerar o calendário de retirada; passar a estratégia atual para uma de contraterrorismo com recurso aos drones; desconfiar da coesão e lealdade do exército para com o governo civil. A história do Afeganistão mostra-nos como ambas são um mito.
Hoje no Diário de Notícias
Tudo isto revela dois grandes detalhes: uma ausência de músculo diplomático ocidental e o esvaziamento da função humanitária da ONU através de impulso próprio. A Síria, como aqui tenho dito, é muito mais do que a queda de um ditador.
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