Sabendo que Bernardo se anda a sentir muito sozinho lá para a América, sabendo que parece que a coisa não se resolve sem que eu por lá passe, vou até lá. Bem sei que é muito perigoso deixar a pátria sem mim mas estou convencido que sobreviverá. Até ao meu regresso.
Chris Christie, estrela republicana e governador de New Jersey: “the president has been all over this and he deserves great credit.”
No meio de um furacão, há um erro que Romney não pode cometer: tentar tirar proveito político de todo e qualquer dano que ocorra nos swing states para culpabilizar o Governo federal e indirectamente Barack Obama. Não repetir a reação intempestiva ao assassinato do embaixador Stevens em Bengazi é uma lição a aprender. Até porque o republicano tem contra si o facto de ter proposto retirar funções e dinheiro à agência federal de gestão de emergências, para dar mais poder às agências e governos estaduais responsáveis. Em emergências desta magnitude, as duas esferas são precisas, uma não tem de ser evaporada em detrimento da outra. Ato contínuo, Obama, retirado da campanha para regressar à Casa Branca, já colocou a coordenação interestadual do Sandy como prioritária. Com cortes de energia previsíveis quando a pressão final das campanhas se centrava em mais anúncios televisivos, há um foco de atenção para o Presidente que não existe sobre Romney. Perder rotação era o último dos desejos republicanos.
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Veja museus com calma. E por vários dias. É raro o que se paga.
Há poucas mas boas livrarias. Mas não tente comprar livros. Arranje uma morada local e encomende no Amazon.
Excluíndo o presidente (que também não fala com mais de meia dúzia de tipos) é possivel chegar a qualquer um. Se lhe disserem o contrário, não acredite.
A happy hour não implica felicidade e um copo, mas pode fazer a diferença entre estagnar ou começar um projecto.
Não confundir rede social com network.
Está encontrada a segunda "surpresa de outubro": chama-se furacão Sandy, vai atingir estados decisivos e tornar ainda mais indefinida a reta final da campanha. A "surpresa de outubro" é um clássico nas eleições americanas: qualquer coisa que acontece numa corrida eleitoral muito disputada e que pode fazer a diferença. A primeira foi a prestação de Romney no debate inaugural, um fator determinante na projeção do republicano e da fragilidade de Obama. Mas o furacão Sandy tem efeitos conhecidos (cancelamento de ações de campanha na Virgínia e no Colorado) e indeterminados: nos números do voto antecipado e na forma como o Governo e o seu líder responderem aos danos provocados pela natureza. Obama tem aqui uma dupla oportunidade. Perde momentum no contacto com eleitores em estados críticos, mas assume o papel de Presidente quando ele é preciso. Terá isto impacto na campanha? Não sabemos. Mas tivesse o Katrina aparecido antes de 2004 e dificilmente George W. Bush teria sido reeleito.
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Seria a quinta vez, mas a primeira numa reeleição: o vencedor do colégio eleitoral perder a votação popular. Este cenário começa a ganhar alguma forma e Obama pode muito bem seguir as pisadas de John Quincy Adams, Rutherford Hayes, Benjamin Harrison e George W. Bush. É difícil olhar para cenário mais negativo para a reeleição. O debate, polarizado está e extremado ficaria. Com Congresso dividido nas maiorias e exigente com a Administração, as vozes republicanas erguer-se-iam contra a legitimidade de Obama (a memória em política costuma ser seletiva e 2000 esquecido taticamente). O sistema eleitoral e o edifício democrático seriam postos em causa sem fim à vista, monopolizando o debate em detrimento das grandes temáticas: economia, finanças e saúde. Teríamos uma Florida (2000) no Ohio ou Wisconsin, com recontagem de votos e dramatismo. O Supremo seria chamado a sentenciar a maratona à entrada de um ano com alterações no colégio de juízes. Obama quererá tudo menos isto. Mas pode vir a tê-lo.
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Há trinta anos (mais mês, menos mês) fui ao campo da Amoreira ver o meu FC Porto. Empatamos um a um, e Pinto da Costa fez o seu primeiro jogo como Presidente do clube.
O Porto era o terceiro clube nacional, a grande distância do segundo, e em termos europeus até o Vitória de Setúbal tinha palmarés semelhante.
Passados trinta anos, volto à Amoreira com os meus dois filhos homens. O meu muito amado FC Porto ganhou mais campeonatos que todos os outros clubes juntos, tem sete títulos internacionais e tornou-se numa enorme potência mundial futebolística.
Muito obrigado Presidente Pinto da Costa. Não te agradeceremos suficientemente.
Romney não é McCain: não se ficou pelo financiamento público, surpreendeu nos debates e tem narrativa económica. E Obama não é Obama: foi-se a surpresa, é "normal" em debate e fugiu-lhe o álibi Bush. É este duelo que está na arena nestes dez dias finais de campanha: um pragmático conservador contra um progressista pragmático. O que pode, então, fazer a diferença? Para Obama, a mobilização do voto antecipado e uma corrida súbita às urnas da sua palete de cores preferida: jovens, mulheres, latinos e afro-americanos. O voto antecipado não tem corrido mal, sobretudo no decisivo Ohio, mas a mobilização é uma incógnita. Mil milhões de dólares angariados podem dar o toque de caixa, mas esbarram num número igualmente astronómico e pornográfico: outros mil milhões no bolso de Romney. Aqui, o voto do americano branco e das classes trabalhadoras vai definir a aproximação ou, até, a vitória. Há quatro anos, dinheiro em falta foi voto fora da caixa. Mas Romney não é McCain e Obama já não é Obama.
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Mas a grande crise económica europeia obriga a afinar a agulha do nosso comércio externo e da máquina diplomática. Nos últimos anos, São Bento chamou a si a politica europeia porque simplesmente ela não é mais politica externa no sentido clássico, mas parte integrante da política interna dos estados membros. 80% da nossa legislação vem de Bruxelas e a federalização em curso pede mais chefe do governo do que chefe da diplomacia - um ministro para os assuntos europeus, na dependência do Primeiro-ministro seria uma solução. As Necessidades deviam estar concentradas em relações externas fora da Europa, diplomáticas, comerciais, de segurança. Não é mais possível fazer o trabalho europeu e extra-europeu ao mesmo tempo. Perde-se força na Europa e fica-se aquém em teatros como a CPLP e a Guiné-Bissau. A alteração orgânica do governo também devia passar por aqui.
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Bernardo, permite-me que te lembre que o previsível colapso europeu não teria apenas consequências económicas para os Estados Unidos. O cataclismo político que surgiria na Europa forçaria inevitavelmente os Estados Unidos a agir. Por inúmeras razões que nem preciso de referir, algumas tão aterradoras que até dão arrepios.
O Nuno toca aqui num ponto importante. Porque está a "Europa" afastada do debate eleitoral nos EUA? É isso mais um sintoma a acrescentar ao "declínio europeu"? Como diria o outro, concordo com a primeira parte da pergunta, discordos de três vírgulas e sou contra o ponto de interrogação. Por partes. Em primeiro lugar, o "declínio europeu" (e a perda de centralidade da Europa na política externa dos EUA) é um debate intelectual e geopolítico na foreign policy community norte-americana com pelo menos vinte anos. Basta investigar uns tempos as principais revistas e os principais scholars para chegar a essa conclusão. Começou em 1989 por razões evidentes e foi estimulante em grande parte da década de 90. Retomou o impulso após o 11 de Setembro, mas o argumentário da discussão pouco se alterou. Zakaria não inventou nada, muito menos os escuteiros que o tentaram imitar. Hoje, quando "culpamos" os EUA por não centrar uma parte do debate de política externa da campanha na Europa, falhamos na análise da percepção americana. Isto foi evidente há dois dias, num debate a que assisti, com Bruce Riedel, Bob Kagan e Martin Indyk aqui em DC. Quando um jornalista suíço lhes perguntou porque estava a Europa fora do debate, todos responderam: porque não há problemas de segurança na Europa que justifiquem a atenção de dois candidatos à Casa Branca. O ângulo é invariavelmente securitário, de hard power: se há ameaça de Moscovo, então é central (como foi durante décadas). Como não existe nenhuma grande ameaça (de dimensão nuclear) a não ser outras de dimensões controláveis pelos europeus, porque raio devem os candidatos à Casa Branca ter um discurso sobre a Europa?
Outro ponto diferente, e a meu ver mais próximo da pertinência, reside no efeito que o colapso da zona euro pode ter na economia americana. Para mim, este é um ponto válido e que nenhum candidato quer abordar. E, que, em última análise, é um problema de segurança nacional para os EUA por prejudicar a sua recuperação financeira e económica. E é válido por duas razões. Primeiro, porque nenhum dos dois tem peso nas decisões europeias - ora isto diz mais do "declínio dos EUA" do que do "declínio da Europa", para usar a mesma expressão. Isto foi evidente aquando das tentativas que Tim Geithner fez junto dos líderes europeus nos últimos meses. Segundo, porque não tendo peso, não vão fazer campanha no Ohio, na Flórida, no Colorado ou no Wisconsin dizendo, "eles ali no outro lado do Oceano estão a afundar-se, isso vai ser terrível para a nossa economia (e vai), mas eu (Obama ou Romney) não posso fazer nada". Era um tiro monumental em cada um dos pés.
Por fim, o argumento que olha, primeiro, para o desejo dos EUA de serem pivot no Pacífico e, segundo, disto estar a ser feito em prejuízo da Europa e do interesse de Washington no velhinho continente. Há factos que desmentem as duas premissas, mas volto a esse tema num outro post.
Mas... se nunca foi nem baixo, nem médio, nem alto quadro, nem duma empresa, nem do Estado, como diabo é um alto quadro? Desculpa insistir, mas não percebo. É provável que seja um génio absoluto, uma mente brilhante, um académico destacado assim como o Prof. Santos Pereira, mas alto quadro não estou a ver mesmo. Insisto, só se for mesmo pela altura.
Estive a tentar descobrir se eu ou alguém por mim teria dito ou escrito que o Manuel Rodrigues era um boy partidário, que usurpou dinheiros públicos ou que tem padrinhos (bom, padrinho deve ter sendo católico). Não consegui, mas imagino que um impostor qualquer tenha posto essas palavras na minha boca ou assinou um texto em que eu escrevia isso. Há para aí muita malandragem.
Para que não restam dúvidas vou voltar a repetir o que escrevi mas mais explicadinho: o Manuel Rodrigues pode ter muitas qualidades mas alto quadro nunca foi. Nunca geriu empresa nenhuma e nunca dirigiu nenhum organismo do Estado. Se alguém quiser a minha opinião, um rapaz de 32 anos por muito bom aluno que seja, por muitos doutoramentos fantásticos que tenha, que nunca tenha tido responsabilidades mínimas de gestão (em sentido lato, dou de barato) não serve para secretário de Estado das Finanças em nenhuma parte do mundo. É o que eu penso, só e apenas.
PS por favor Francisco, nunca mais insinues que eu disse coisas que eu não disse, nunca mais.
O Manuel Rodrigues foi alto quadro de que empresa? Tem experiência em que sector público?
Oh diabo. Tem razão. O rapaz é alto.
A partir de Domingo passo a assinar diariamente uma coluna no DN dedicada ao ringue eleitoral norte-americano. Regressarei ao modelo tri-semanal a 10 de Novembro.
Obama parece Bush pai à porta de Bagdad. Romney, o herdeiro da triunfal década de Clinton. E como se esperava, os ganchos de fora para dentro foram o mais relevante para a campanha: Obama focado no Ohio e Pensilvânia, Romney na Florida e Wisconsin. No final, toda a política externa é interna.
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