O meu artigo hoje no Diário Económico.
Ou seja, Berlim é hoje um actor consciente do seu poder, das suas relações e do seu estatuto. A federalização europeia em curso resulta do seu papel enquanto, digamos, potência reinventada pós-reunificação. Mesmo que pensemos em vários círculos de integração (finanças, defesa, fronteiras, etc), vamos ter de aceitar que Berlim liderará, provavelmente, todos eles. Para o bem e para o mal, é este o preço a pagar pela integração europeia. Com o Reino Unido em fuga, a França prostrada e a Turquia de fora, o vazio e a desagregação estariam aí à porta. Não há almoços grátis.
Hoje no Diário de Notícias
Não são só a Europa e os EUA que atravessam uma frente fria, também os BRIC arrefeceram os seus motores. Desde que esta crise financeira rebentou, a China passou de um crescimento do PIB a dois dígitos para 7%, a Rússia caiu para metade (3,5%), a India baixou de 9% para 6% e o Brasil anda nos 2%. Estas grandes potências alavancaram a sua projeção global de poder à custa das economias, de reformas estruturais e de apostas arriscadas. Quer isto dizer que um arrefecimento económico restringe o comportamento político de cada um?
Hoje no Diário de Notícias
Quando me fazem aqueles interessantíssimos inquéritos de verão, onde se parte do princípio que alguém está interessado em saber os meus gostos culinários, os livros que estou a ler ou se preferia ir jantar com a Selma Hayek ou o António José Seguro, ás vezes vem uma pergunta assim mais a atirar para o sofisticado. No último que respondi perguntavam-me se eu era conservador.
Confesso que perco tanto tempo a pensar se sou conservador ou liberal como o que gasto a reflectir se sou de esquerda ou de direita. Como bom preguiçoso deixo esse trabalho a quem me ouve ou lê e tem a pachorra de pôr as minhas opiniões num qualquer aparelho que depois informa de que cor são as minhas ideias.
Bom, desta vez perdi uns minutos a pensar e, pronto, não há nada a fazer: sou conservador.
Podia dizer que cheguei a esta conclusão que deixava até agora, com certeza, milhões de pessoas inquietas, mergulhadas na dúvida sobre a minha personalidade, através duma reflexão profunda sobre o mundo e os meus valores. Pensamentos do tipo “para as coisas terem sido duma determinada maneira durante tanto tempo existiriam com certeza boas razões para assim serem”, muita leitura de Burke e outros pensadores que tais. Mas não, o que me iluminou foi a minha relação com os chinelos, agora conhecidos como hawaianas (provavelmente o nome mais idiota que se podia dar aos chinelos de meter o dedo, apesar de eu ter de reconhecer que qualquer termo com “meter o dedo” não será propriamente comercial).
O conservador é o que começa a andar de chinelos quando a moda já são os paez. Para quem não saiba os paez são uns sapatitos de pano que agora andam nos pés dos que dantes andavam de chinelos, os rapazes que estão sempre na moda.
Andei anos a fio a recusar-me a calçar chinelos utilizando argumentos duma racionalidade imbatível tipo “tenho uns pés feios”, até ao também muito defensável “essas coisas horríveis que têm banda sonora e tudo” (o chlep, chlep ainda me incomoda, admito). Quando adiro e realizo a vantagem dos ditos, pimba, saem de moda. É que nem vale a pena explicar o disparate que é no pico de Agosto um cidadão andar de pés entrapados, nem explicar o cheiro que aquelas coisas devem produzir depois duma caminhada de cinco minutos.
Isto está-me sempre a acontecer. Eu sou o tipo que delira com uma música quando já ninguém a ouve, o que fala dum filme que já toda a gente foi ver há meses, que aconselha livros que já vão na centésima edição.
Se calhar havia melhores termos para definir esta minha característica, mas, que diabo, conservador dá um certo panache e está sempre na moda.
crónica publicada na revista Life de Novembro
Jardim abriu os trabalhos e pediu uma pausa de 2 anos e 26 dias.
Porque Barcelona, por mais ambição que tenha, deve estar ciente do risco que acarreta um passo destes: o crescimento da incerteza, gerada pela fragilidade do "plano" de Artur Mas, o previsível não reconhecimento internacional, a falta de almofada europeia, a perda de canais de financiamento, até a debandada empresarial. Catalunha, Espanha e UE carregam o peso do momento. É argumento de sobra para se sentarem à mesa.
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O Cairo, elevado à categoria de "mediador", cavalga a onda regional. Vale a pena sublinhar que há também aqui uma competição (Egito, Turquia, Irão, Arábia Saudita) para, por um lado, emergirem como fiéis depositários da "desgraça palestiniana" e, por outro, elevarem o seu estatuto no "confronto" direto com Israel. Por isso, os EUA vão continuar a ser a "nação indispensável" no Médio Oriente, porque são a única garantia de segurança credível para Israel. Pergunta: e se o Hamas tivesse neste momento o apoio do Irão com armas nucleares, que força teria o "regresso" dos EUA à região e como atuariam os países europeus?
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A senhora Lagarde lembra-me aqueles maratonistas que, pelo prazer de participar na prova, acham que o importante não é chegar primeiro à meta, o importante é pelo menos lá chegar. Nem que seja 2h.45m.32 segundos depois de todos os outros. A senhora Lagarde tem dito uma belas verdades mas, primeiro, ninguém a parece ouvir e, segundo, di-las com pelo menos um ano de atraso. Já tinha defendido a "concertação com os credores" - uma renegociação que ninguém no governo quer assumir, mesmo que já tenha percebido que é a melhor das hipóteses -; agora é o pânico das consequências pela "perda de uma geração qualificada" em Portugal. O que me espanta não é a origem das declarações, mas que salientem uma evidência tão grande e tão fora do prazo. O que foi não volta a ser.
Se o rumo se mantiver, 2015 pode ser para a Birmânia o que 1989 foi para a Polónia: a transição para um regime civilista, plural e aberto ao mundo. Ao "Ocidente" (Japão e Austrália incluídos), mas também à Índia, país com que partilha história mas poucos laços económicos. A fuga à dependência chinesa é o objetivo e a Birmânia pode ser o grande legado da diplomacia de Clinton: um país que altera a sua posição face à China com base em reformas económicas e sociais inspiradas no modelo "ocidental". Um feito.
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Uma análise sobre um conflito desta profundidade deve partir de uma premissa e a minha é esta: ninguém está isento de culpas. Mas também deve chegar a uma conclusão: um Estado move-se por regras, pressões, responsabilidades (internas e externas), um grupo terrorista não. Por mais "trabalho cívico" que faça, o Hamas é um corpo maligno na pacificação regional. Enquanto vizinhos e "comunidade internacional" interessada divergirem neste ponto, muito mais sangue correrá.
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O meu artigo hoje no Diário Económico
A Ordem dos Advogados e Amnistia Internacional criticaram a intervenção da PSP, depois de terem estado uma hora a levar com pedras. Só podem ter mudado as siglas. Porque a Polícia, ainda bem, continua a ser de Segurança Pública.
O Sina Weibo (o Twitter chinês) passou de 50 milhões de utilizadores para 300 milhões em dois anos. Disputa as teses oficiais, contorna a censura e afina o gatilho. Xi Jinping não tem só a tarefa de manter o consenso na cúpula estatal: vai ter de garantir o aparente consenso social para que o seu modelo tenha sucesso. Veremos se o deixam.
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Assino por baixo. E já que estou com a mão na massa acrescento: o portugalzinho salazarista está de volta, ou melhor, nunca morreu. Está entranhado na nossa comunidade que vibra com a caridadezinha e que adora a esmola; que acha que não se pode mostrar "coisas" aos pobres que eles depois também as querem; que destesta o sucesso individual,a praga dos novos-ricos, esses seres horríveis que não percebem que só há duas formas dignas de se ser rico, a herança ou o jogo; que se dedica a criticar o Estado enquanto vive dele; que, no fundo, abomina a classe média porque estes querem ser doutores e depois não se arranja um caseiro, um carpinteiro ou uma sopeira decente.
E o que me irrita é que são este tipo de infelizes que se confundem com a direita, que, se calhar e para mal dos nossos pecados são a maioria da nossa direita. Vade retro.
Esta gente vive no calvário dos tempos modernos. Tem saudades do antigamente, vê o dinheiro como fonte dos males, mas no fundo no fundo gosta de cravar uns valentes trocos a quem pode, mesmo que seja o Estado. Sobretudo, gostam muito de ditar as regras do bom comportamento, do estilo de vida perfeito, das virtudes individuais. Em Portugal, permeável que é à converseta de capela, viver bem é crime publico. Querer o melhor para os filhos um pecado de sacristia. Trabalhar e ter sucesso uma virtude privada. Assim não vamos lá. Hitchens vive.
Com o que tem acontecido na fronteira sírio-turca, os avisos de Israel nos Montes Golã e o recuo nos negócios militares entre Bagdad e Moscovo, está montado um cerco ao Irão. Mudar o rumo da Síria com astúcia política é a melhor forma para isolar o Irão. Mas também um bom motivo para acelerarem o programa nuclear.
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Os Portugueses têm obrigação de a receber com civismo.
Os responsáveis políticos que a acolhem têm obrigação de lhe dizer umas verdades.
Este é o primeiro desafio da nova geração de líderes: tornar o mercado interno na nova alavanca de "de-senvolvimento pacífico". A questão é que pode não ser tão pacífico quanto isso.
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Hoje foi Petraeus. Querem apostar nos nomes que se seguem? Aqui vai a minha lista: Panetta, Geithner, Clinton. Novo mandato, novos nomes.