O meu sobrinho mais velho tinha hoje um teste de Geografia do 7º ano. A matéria era sobre as fronteiras na Europa. Parece-me bem. Aliás, parece-me tão bem como fundamental. Acontece que o mapa supostamente usado para o estudo tinha duas Alemanhas, a Ocidental e a de Leste. Ou há um saudosismo incontrolável nos autores destes livros ou estamos mesmo na twilight zone.
PS diz que, quando for Governo, quer fazer acordos com todos, da esquerda à direita.
O que é absolutamente condenável é o silêncio de Lisboa em relação ao que vive a nossa comunidade na Venezuela. São constantes as notícias de assassinatos, raptos e torturas. Só este ano foram doze portugueses brutalmente mortos sem que Lisboa emitisse um só sinal de repúdio público junto das autoridades locais. Caracas é a cidade mais violenta do mundo e se há coisa que não atrai investimento e gera maus pagadores é um país inseguro. Houve mais assassinatos na Venezuela em 2012 (16 mil) do que mortes civis nos últimos seis anos de guerra no Afeganistão (14 mil). O mínimo que a nossa diáspora merecia era que Lisboa fosse tão firme nesta matéria como tem sido a defender as empresas portuguesas. Há silêncios ensurdecedores.
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Acontece que as importações portuguesas de petróleo africano cresceram 25% no último ano, fazendo agora 53% do total. À cabeça estão Nigéria, Angola, Argélia e Líbia. Tirando aparentemente Angola, nenhum outro está imune ao terrorismo e à desagregação, expondo-nos a uma fragilidade que não controlamos e a um impacto económico nesta altura de recessão. Se lhe juntarmos o risco crescente do trânsito petrolífero naval às mãos da pirataria e que percorre toda a costa ocidental africana até Sines, percebemos que a Nigéria está mais próxima do que parece. Pena é que estas opções de profunda dependência estratégica nunca sejam discutidas e avaliadas no debate político português.
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...já a censura do Gaspar não encaixo.
Espero serenamente a manifestação em frente ao Palácio de Belém dos mártires da liberdade de expressão. Como as alvas vestes ainda não devem ter sido comidas pela traça, sugiro que as voltem a envergar orgulhosamente.
O problema destes seis meses de Obama II é que ele perdeu a iniciativa política. As reformas fiscal e da imigração continuam a marinar no Congresso e essa espera revela, para muitos, o programa presidencial: expectante, indeciso, com autoridade auto-congelada. Para ter sucesso (já nas midterms de 2014) Obama precisa de remarcar a agenda e focar-se na grande estratégia política. E arrumar, por liderança sua, os escândalos que o assolam.
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Já vi (e censurei) chamarem-se as coisas mais ignóbeis aos políticos, inventarem-se as mentiras mais escandalosas e,de repente, o problema está no palhaço? De facto, Portugal está um circo.
Assim, preparemo-nos: para a revolta de uma imensa geração nascida depois da guerra Irão-Iraque, sem a mínima identificação política com candidatos, órfã de representação e asfixiada politicamente. Uma geração, sobretudo urbana, cujos líderes políticos da anterior eleição (2009) continuam presos. Uma geração que volta a assistir ao bloqueio das redes sociais, dos email e dos sites de imprensa estrangeira. Uma geração que percebe a ligação entre intransigência negocial no dossier nuclear e o impacto direto das sanções na crise económica. Vai ser este o tema da campanha: como melhorar a economia sem abdicar do programa nuclear?
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Que nos diz isto? Que a confiança regressou à Alemanha uma década depois das reformas impopulares de Schröder (cortes na saúde, pensões e subsídios). Que quanto mais se mistura "momento europeu" com "momento unipolar" alemão, menos credibilidade têm as instituições comunitárias na avaliação popular, porque mais evidente se torna a renacionalização das políticas dos Estados. Que a re-hierarquização dos Estados membros é a inversão das expectativas criadas pelos cidadãos na adesão à UE, o esvaziamento das suas instituições políticas e a assunção inequívoca de que não é parte da solução, antes coautora do problema. A ver pelos indicadores, a Alemanha vai bem e recomenda-se. O paciente europeu é mesmo a União Europeia.
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Futebol não é desporto, é peregrinação. É culto clubístico, não ópera. É território de amor e ódio, não um passatempo de domingo à tarde, cheio de bons sentimentos primaveris. É bifana e não bife, é imperial e não vinho, é escárnio, maldizer e não uma mesa bem posta com toalha de linho branco. Futebol é choro nas derrotas do nosso clube e êxtase nas derrotas do nosso rival. É crença em dias melhores e tristeza que nos cala quando passamos por uma época como esta. Sou completamente racional em tudo na vida, menos na bola. Com a bola. A ver a bola. Aliás, para memória futura aqui vos digo: eu nem gosto de bola. Só gosto do Sporting e em particular que o clube do outro lado da rua perca sempre. São duas faces da mesma moeda. Duas almas gémeas. Separá-las é tirar futebol ao meu futebol. Até consigo dizer que os outros jogam melhor, apontar-lhes grandes jogadores, conceder a sua dimensão. Não me peçam é mais do que isto. Jamais lhes darei os parabéns pelo que quer que seja ou desejar-lhes boa sorte num jogo internacional. Recuso-me a ver jogos na televisão entre eles, quanto mais ir à bola com um deles. Não tenho peças de roupa daquela cor e abandonei o leite parmalat no dia em que o resolveram estampar nas camisolas. Está já em curso a mudança de operador de electricidade e, evidentemente, sou alérgico a sagres. Sou mais feliz quando perdem, quando choram e quando andam calados. No dia em que me tirem esta rivalidade tiram-me um dos lados bons da vida: o meu futebol.
Há quem fique muito espantado por pessoas que trabalham em gabinetes ministeriais passarem a vida a criticar o Governo. Não acho nada surpreendente, apenas se confirmam duas coisas em relação a esse tipo de pessoas: os seus chefes e demais responsáveis não lhes ligam nenhuma, ou seja, são absolutamente irrelevantes e não passam duns pobres coitados que, não tendo outra alternativa, trabalham em projectos com que não concordam. Em resumo, uns tristes.
Ao mesmo tempo que EUA e Rússia apostam em novo roteiro político para gerir a guerra civil síria, o primeiro-ministro turco foi a Washington dizer duas coisas: primeira, que há uma crise humanitária no território turco provocada pelo fluxo de refugiados cada vez mais incontrolável (quase meio milhão); segunda, que o apoio financeiro americano aos refugiados e a uma fação da oposição a Assad já não é suficiente. O resultado é, para a Turquia, duplo: por um lado, um risco de insegurança no seu território por via dos refugiados e pela circulação incontrolável de jihadistas; por outro, uma vitória de Assad que leve a retaliações futuras à Turquia (com ajuda do Irão e do Hezbollah), por via do apoio a parte da oposição síria.
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Bem sei que estás com uma cabeça do tamanho da barriga do Barbas, mas deixa o dr. Totti fora disto porque ele está para lá do futebol. De qualquer forma, vejo que conseguiste resumir tudo num título: sempre são 35 capelas e não 35 pontos aquilo que distingue os nossos clubes.
E ainda falas. Nem o Totti te safa. Lazio sempre!
No Capela, no party.
Olha, eu na NBC (aqui). Embora o thanks do meu título fosse mais pela vitória contra o comunismo.
Para os meus amigos deste blog que vão ver competições europeias pela Tv e jogar grandes derbies com o Arouca.
A"Europa" continua fraturante na política inglesa. Ao contrário do que acontece na maioria das capitais da UE, os termos da relação entre Londres e Bruxelas motivam quedas de governo (Wilson, Thatcher, Major), rebeliões (a Maastricht Rebellion contra Major, p.ex.) e cisões partidárias (a origem do SDP de Jenkins, vindo do Labour), início de recuperações eleitorais (Labour nas europeias de 1989), transformações programáticas (do Old para o New Labour), ou até na influência direta que Blair teve ao lançar Barroso para a presidência da atual Comissão Europeia. Ou seja, há muito que a "Europa" é factor preponderante na política inglesa. O que Cameron tem feito é dar um passo em frente: de preponderante a decisivo.
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Se Deus quiser chego lá.
Sobretudo, e isto também interessa a Portugal, porque a retirada da NATO do Afeganistão vai dever parte do sucesso e dos custos ao apoio e segurança que o Governo paquistanês garantirá até ao porto de Carachi. Estamos a falar em custos previstos de retirada na ordem dos 5,5 mil milhões de dólares: a saída feita pela Ásia Central será muito mais cara e demorada do que pelo Paquistão. O Paquistão é a fronteira oriental da Aliança Atlântica. Razão mais do que suficiente para que os decisores ocidentais olhem para o que lá se passa com outra seriedade.
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O peso da França depende da sobrevivência da UE, tal como o do Reino Unido depende da manutenção da NATO. Dos grandes da UE, só a Alemanha tem uma estratégia pensada e autónoma à implosão das duas instituições berço da Europa pós-45 e 89: chama-se aliança com a Rússia. É esta autonomia estratégica que lhe permite actuar na UE mais ou menos como entende, sabendo que essa ligação lhe garantirá no futuro o peso e a influência que a sua dimensão pede no quadro das grandes potências internacionais.
Ainda bem que é irrepetível. O outro momento fundador chama-se reunificação alemã e só agora estamos a perceber o seu verdadeiro impacto. Ou seja, o que estamos a presenciar é outra ideia de UE porque o seu momento fundador é distinto do primeiro. E é distinto para o bem e para o mal.
O momento fundador de uma certa ideia de UE foi a destruição provocada pela II Guerra Mundial. Como escreveu Tony Judt em meados dos anos 90, isso é irrepetível.