Parece que não é do conhecimento geral, mas eu ajudo: o melhor futebolista português de todos os tempos era madeirense. Não, não é o Cristiano Ronaldo, nem o Ruben Micael. Era o Artur de Sousa. O “Pinga”.
Para mim, rapazinho pequeno, a Madeira era um lugar mítico onde nasceria de novo um jogador que iria resgatar o meu amado clube da desgraça que na altura vivia.
O “homem que não pára” – como dizia um cronista da Stadium em 1932, depois do Porto assentar uns redondos três zero ao Benfica – havia de ressuscitar e conduzir-nos à terra prometida.
As vitórias do meu clube foram diluindo a necessidade dum profeta e só me voltei a lembrar do Pinga quando aterrei pela primeira vez na Madeira. E não, não foi a visão do Estádio dos Barreiros; a beleza das estrelícias , tão belas quanto os dribles do Pinga que nunca vi; o azul do mar, tão semelhante ao jersey do meu Porto; a recordação do Max a fazer um dueto com a Maria Amélia Canossa cantando – esta foi escrita em madeirense - o “Noites da Madeira”, se não o fizeram deviam ter feito; os copinhos de pinga que alcunharam o Artur de Sousa. Foi a recordação que me ficou cravada das histórias que o meu padrinho me contava acerca do Pinga, tipo fechado mas generoso. De poucas falas mas de muito coração. Desconfiado mas ingénuo. Tímido e espalhafatoso. Duro e muitas vezes violento, mas capaz de chorar por dá cá aquela palha. Um madeirense.
Vale a pena ir à Madeira porque aquilo está cheio de madeirenses. Mas ainda há um bónus especial: as abelhinhas.
Os homens e mulheres da terra do Pinga conseguiram um feito único no mundo – aqueles falando, andando, respirando e outros andos que tais também não são propriamente vulgares: desprezaram o horrível termo táxi e apelidaram os carros de praça de abelhinhas. Os condutores são tão chatos como em qualquer outra parte do mundo mas, há que convir, é muito mais doce apanhar uma abelhinha que um táxi.
A propósito, os madeirenses têm também um estranho sentido de humor. Quem é que se lembraria de apanhar uma abelhinha para ir beber um copo às vespas?
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