Os coveiros de serviço já trataram de tudo: depois de declarado o óbito, colocam o corpo em jazigo de família. A actividade tem séculos mas ainda não aprendeu grande coisa com a passagem do tempo. Agora o corpo chama-se União Europeia, embora muitos, já de pá ao ombro, gostem de chamar Europa. Até ver, não são bem a mesma coisa. Mas adiante. Esta servilusa da política não quer perceber uma evidência da história europeia: foram as crises que a obrigaram a corrigir, a adaptar e a moldar. Crises, por vezes, com extrema brutalidade, outras com enorme sofisticação. Diga-se, de passagem, que se outras regiões do mundo tivessem sabido adaptar-se aos tempos com essa sofisticação, talvez hoje vivessem um pouco melhor. O meu ponto é este: a história recente da Europa (entre europeus, por um lado, e entre europeus e norte-americanos, por outro) é feita de crises constantes e nenhuma deu cabo das instituições criadas no pós-guerra. Pelo contrário, foram as dificuldades que obrigaram as democracias a fazer uso dos instrumentos criados para resolver problemas políticos e económicos sem o recurso às armas. Mais uma vez, os coveiros de serviço terão muito provavelmente que ir salivar para outras bandas, porque de crise em crise e com mais ou menos relevância no plano internacional, os europeus cá estarão daqui a uns anos para mostrar como se ultrapassam complicações sem disparar um tiro. Pudessem outras partes do mundo fazer o mesmo e estes coveiros tinham os dias contados.