Ser forte em casa, para ser mais forte no exterior. É este o mote da Estratégia de Segurança Nacional de Barack Obama e pretende articular as várias dimensões do poder norte-americano para uma melhor acção externa do país. Primeira ideia a fixar: a crise económica (dimensão interna) é uma ameaça à influência internacional dos EUA e à sua capacidade para projectar poder nas diversas regiões onde os seus interesses se jogam. Ou seja, tal como o 11 de Setembro marcou a Administração Bush e motivou o desenho da sua doutrina estratégica, a crise económica e financeira marca o tempo e o modo de actuação da actual Administração. Neste quadro, Bush tentou alterar o status quo internacional através do hard power, enquanto Obama se adapta ao mundo que encontrou, procurando liderá-lo com mais e melhor soft power. Mas há mais na actual estratégia da Casa Branca.
A doutrina Bush - "guerra preventiva", "guerra global ao terror", "exportação da democracia" - é abandonada nesses termos, uma distância necessária ao projecto de Obama e que ocupa definitivamente estes seus primeiros 16 meses de presidência. No entanto, a sua doutrina passa por distinguir uma "campanha global" contra a Al-Qaeda de uma "guerra global contra uma táctica" (terrorismo) ou "contra uma religião" (Islão). Isto faz toda a diferença e revela o benefício de olhar com distância sobre os acontecimentos de 2001, como os efeitos perversos da frágil sofisticação política e militar da Administração Bush. Mais, se o modelo de Bush tentou ser de "exportação democrática", o de Obama quer ser de "boas-vindas aos movimentos democráticos e de apoio às instituições nas frágeis democracias". Não há nada como o senso político para dizer praticamente o mesmo com palavras que parecem música aos nossos ouvidos.
Mas é sobretudo no mapa global que esta doutrina se quer impor: deixou de ser possível continuar a liderar a ordem internacional sem aceitar o estatuto de outras potências, co-responsabilizando-as na resolução dos problemas. Se Bush não soube como acomodá-las, Obama parece confortável com o G20 e com as alianças tradicionais, com a busca de consensos que impõe maior protagonismo à diplomacia e menos às Forças Armadas. Mas ele também sabe que o seu approach exige a pujança militar e económica da América para chegar a resultados diplomáticos. Os seus dramas serão os imponderáveis (desastre natural no golfo do México) ou graves crises a que terá de acudir (Irão). Para isso não chegam doutrinas sofisticadas. É na bravura e equidade das acções que ele será avaliado. E em breve.
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