Tenho as minhas dúvidas que a Turquia não tenha acelerado a sua importância para a União Europeia com a política externa que tem mantido no último ano. Passo a explicar a ideia. Primeiro, ao nitidamente secundarizar o processo de adesão à UE e que tinha sido cavalo de batalha nos últimos anos do seu governo, ganha espaço de manobra para ressurgir geopoliticamente. Já percebeu que com Merkel e Sarkozy não se acelera a coisa, por isso mais vale esperar e deixar de aparecer na fotografia como um actor menor face a Paris e Berlim. Recorde-se, por exemplo, que o SPD alemão não é contra a adesão. Segundo, por assumir um papel hostil a Israel na região, contrariando o que vinha sendo feito anteriormente. Passou a contar nos equilíbrios do Médio Oriente, a desejar papéis de interlocutor e mediador na região (nuclear iraniano) e a ser o porta-voz sunita do descontentamento face a Telaviv. Desta forma, retira espaço à liderança xiita do Irão e coloca-se como a grande potência da região no desbloquear de alguns assuntos que exasperam o Ocidente: Irão, Iraque, Afeganistão, Israel-Palestina. No domínio "palestiniano", este papel é bem aceite por muitas capitais europeias e respectivas opiniões públicas.
Com isto tudo, a Turquia revela ser cada vez mais importante para a afirmação internacional da UE; para a estabilidade das operações da NATO na zona de vizinhança do espaço euro-atlântico; e, face à crise na sustentabilidade dos modelos sociais europeus, uma garantia de rejuvenescimento de mão-de-obra nas suas economias.