A futebolização do debate sobre o Médio Oriente inibe-nos, muitas vezes, de vermos outras variáveis no debate. Por exemplo, a Autoridade Palestiniana. Não é perfeita, está fragilizada desde a guerra civil com o Hamas, tem demasiadas facções, mas foi nos últimos anos o interlocutor válido encontrado por Israel e pelas potências mediadoras internacionais no processo de paz. Primeira ideia sobre isto: só reforçando a AP na Cisjordânia e em Gaza é possível inverter o declínio da situação. Aparentemente, é o que se pretende com as recentes visitas de Abbas à Turquia (2ª feira) e a Washington (hoje): a AP teme o reforço do Hamas em Gaza - por via do desbloqueio egípcio para o qual não foi tida nem achada -, um eventual apoio turco à sua reorganização, e uma vontade em capitalizar a folga política de Obama na região, conquistando para a AP uma posição que lhe renove o protagonismo na Palestina. Vale a pena sublinhar este ponto: tanto Israel como a AP olham para o Hamas como o agente provocador, criador de insegurança e perpetuador de conflitualidade.
Ainda além disto, admitindo como provável que Israel flexibilize o bloqueio nos próximos tempos - sem deixar de se proteger de eventuais rearmamentos ao Hamas - podem rolar cabeças na coligação. Se isso significa a entrada do Kadima no governo ou eleições antecipadas, veremos. O que é certo é que a responsabilização das autoridades israelitas - seja por uma pressão internacional célere e concertada; seja pela natureza do regime - será feito. Pena é que a responsabilização pública internacional, concertada, célere e implacável, não se tenha feito nem se faça ao órgão que mais mina todo o processo de paz e que mais gera instabilidade entre as partes, o Hamas. Quando o fizermos, certamente que dormiremos todos melhor.