Vejo muitos chocados com o escândalo das escutas jornalísticas no Reino Unido. Acho muito bem! Parece que as coisas têm de acontecer em países civilizados para os democratas deste país entenderem que no jornalismo (mesmo no de investigação) não vale tudo e que, até para as ditas personalidades públicas, o direito à intimidade e à privacidade e segurança nas comunicações telefónicas, são absolutamente inalienáveis em qualquer sociedade democrática que se preze.
Bem sei que as situações são diferentes, no entanto, vai tudo dar ao mesmo... E, assim, tal como em Inglaterra, a publicação de escutas telefónicas nos meios de comunicação portugueses sob o pretexto de uma cínica defesa do interesse público (o que quer que isso signifique), não é mais do que um vergonhoso atentado ao Estado de Direito e aos direitos fundamentais de qualquer cidadão que pretenda viver num país livre.
O mesmo se diga da proliferação de escutas “legais” promovidas pelas entidades judiciárias, muitas vezes sem critério, sem justificação e sem o devido controlo. É evidente que as escutas telefónicas são, por vezes, um relevante meio de obtenção de prova. No entanto, não podem ser a regra, mas sim a excepção. Caso contrário, sob o disfarce de uma democracia moderna, viveremos efectivamente num sociedade pidesca refém dos interesses obscuros de alguns voyeurs. Pessoalmente, prefiro viver numa sociedade com alguns criminosos, do que numa sociedade cheia de “novos pides”...