Quarta-feira, 26 de Outubro de 2011

Pedro, percebo o que te chateia. Concordo com parte, discordo de outra parte, mas o ponto inicial não era esse (no texto da Raquel Abecassis) - era o regresso infeliz de Teixeira dos Santos, impoluto, como se nada fosse com ele. Vamos ao que dizes. Concordo que o anterior Governo se deparou com a maior crise dos últimos 100 anos e que ela foi tremendamente ignorada, tanto pelo próprio Governo como pelo Presidente da República. Eu não me esqueço que andámos a investir em betão, a crédito, como se não houvesse amanhã quando, desde 2008, já erá óbvio que a tempestade iria ficar por muitos e bons anos. Lembraste de ver Sócrates a assinar o contrato do TGV para Madrid num sábado e na quarta-feira seguinte a pedir a Passos para assinarem um pacote de austeridade? Foi em Maio de 2010. Lembraste do debate entre Sócrates e Ferreira Leite em Setembro de 2009? Ela, dizia Sócrates, só queria "parar, adiar, recalendarizar", ele só queria fazer coisas boas. Não culpo o anterior Governo por tudo, fez muitas coisas bem feitas, mas a crise internacional mais dura de que há memória não explica que não nos tenhamos preparado para ela.

Nada disto tem que ver com qualquer 'spin partidário' que se oiça ou com qualquer crítica - com ou sem justificação - que se faça ao actual Governo.

Por fim, a estratégia do "empobrecimento". Ouvi o primeiro-ministro do princípio ao fim, ontem na conferência do Diário Económico. Não sei se a estratégia dele é a correcta, sei que o caminho é estreito e arriscado, ainda não ouvi uma única alternativa consistente, mas sei que nunca tinha ouvido um primeiro-ministro falar tão claro sobre coisas tão duras.

 



publicado por Francisco Teixeira às 09:02 | link do post | comentar

12 comentários:
De Rui Felício a 26 de Outubro de 2011 às 22:07
Começando pelo fim, não me interessa que o ministro seja "claro sobre coisas tão duras". Interessa-me que seja competente, mesmo que gagueje, ou seja, interessam-e aquilo que o Francisco despacha de forma sumária: que as medidas sejam correctas. Isso, se não o sabe o Francisco, alguém tem de saber. Ao contrário de muitos,não me atingiu até agora o encantamento daquele olhar e daquela voz de académico severo e lacónico.
Quanto à crise internacional, lembro que poucos a previram. Parece-me um pouco estranho que diga que o governo se devia ter preparado para a crise, ainda por cima uma crise que reconhece ser a mais dura desde há cem anos. Nenhum governo o previu.
Quanto ao betão e o crédito barato de que fala tem a ver com a dívida privada. O problema da dívida privada é mais grave do que o da dívida pública,aqui e em Espanha, na Islândia,etc. ao contrário do que aconteceu na Grécia. Convinha que todos aprendessem a diferença entre o que se passou na Grécia e o que se passou em Portugal,ao nível do Estado e da despesa pública. Aprenderiamos a relativizar um pouco certas coisas.
O anterior governo fez obras públicas,uma boas,outras más, como qualquer um. Devo-lhe ter substituído os barracões onde davam aulas ao meu filho,por uma escola nova,por exemplo. Muitos dos que se insurgem agora contra os custos da construção (fundadamente, muitas vezes) de certeza que nunca escreveram sobre as condições em que dezenas de milares de crianças tinham aulas: em salas onde chovia e fazia frio, ou onde nem sequer havia recreios. Muito há ainda por fazer aqui.
Um dia a táctica de diabolizar o governo anterior acaba-se. Mesmo o cidadão comum vai farta-se de ouvir dizer que o anterior governo foi o pior de que há memória e que o Sócrates é o belzebu em pessoa. Isso não dura para sempre. Então,vai começara pensar neste governo,finalmente, se o que este governo faz é correcto, ou não é correcto.


De Francisco Teixeira a 27 de Outubro de 2011 às 09:41
Meu caro, a crise era mais do que óbvia quando tivemos eleições em Setembro de 2009 ou em Janeiro desse ano quando o Governo decidiu aumentar a função pública em 2,9%. Já ara não falar na redução do IVA em 1% decidida em 2008, ou nos cerca de 16 mil milhões de euros de dívida da Estradas de Portugal - uma empresa pública, com dinheiros públicos. Investimentos em escolas? Uma boa medida - só pecou por terem sido atribuídas as obras a grandes construtoras e não a operadores locais, descentralizando o investimento. Quem me dera que o anterior Governo tivesse feito uma coisa tão simples quanto esta: em vez de apostar em 10 auto-estradas, outros tantos túneis e etc tivesse feito uma verdadeira recuperação dos centros históricos de todo o país. Aqui, na recuperação urbana, ao contrário das grandes obras, há uma verdadeira criação de emprego.
Quanto ao actual Governo, a pergunta de fundo é: qual é a alternativa ao caminho seguido? Ainda não vi nenhuma...


De Rui Felício a 27 de Outubro de 2011 às 10:52
Francisco, agora, retroativamente, tudo é óbvio e clarinho como água.
Tem razão nos erros que aponta ao anterior governo (menos no caso do aumento dos funcionários públicos, que o anterior governo para além desse aumentozeco, foi até bastante zeloso no congelamento das carreiras, nos anos sem aumentos, etc, etc. Qualquer funcionário público deve mais ao Cavaco Silva, como se sabe, adiante). Dizia eu que tem razão e poderíamos encher uma enciclopédia só com erros do anterior governo. Até na Suécia o poderíamos fazer.
Quanto a soluções e alternativas, não sendo economista ou perito em finanças públicas só posso dar uns palpites. O que não me entra na cabeça é que a única solução possa ser o empobrecimento súbito e generalizado da população. Há aqui qualquer coisa que não bate certo. Já há demasiadas pessoas a repetir o mantra do “tem que ser, tem que ser, tem que ser” e a mim espanta-me, acho estranho. A minha solução, se se lhe pode ser chamado assim, é distribuir os encargos por toda a população, um bocadinho para cada um, e fazer incidi-los mais em quem é mais rico, ou nos rendimentos de capital, o combate à evasão fiscal e ao mercado paralelo, na reforma do Estado, com o mínimo de incidência nas pessoas, precisamente porque são pessoas. Sabe o que vai acontecer com a retirada dos subsídios aos funcionários públicos: a grande maioria dos funcionários, que já ganha mal (sim, senhor), vai deixar de fazer despesas que fazia nos locais do costume, passar uma semanita ou quinze dias de férias na praia, etc. O resultado é que pequenas empresas (o que sustenta o pais) vão á falência, mais desemprego, mais empobrecimento, mais mercado paralelo, mais fuga aos impostos, etc.


De Francisco Teixeira a 27 de Outubro de 2011 às 14:13
Rui era clarinho como água á época....basta ver o que disse Manuela Ferreira Leite e a então direcção do PSD. Era clarinho como água. Quanto ao aumento, em ano de eleições e quando tudo e todos aconselhavam cautelas foi um erro. Os 2,9% - na sua opinião "aumentozeco" - foram na verdade um aumento de mais de 4% tendo em conta a evolução da inflação e sem ter em conta a produtividade. Se existia um sistema de avaliação tão bom como nos diziam (SIADAP) porque os aumentos não foram selectivos?
Quanto à alternativas só um aspecto (genérico, por sinal) permite uma redução da despesa: a "reforma do Estado". Espero que a façam e, da leitura que faço do OE, a necessidade de suspender os 13º e 14º meses na função pública já incorpora as poupanças dessas reformas do Estado. Veja que 80% do que o Estado gasta é Saúde (onde já existe contestação aos cortes, por sinal, apoiada pela ex-ministra), na educação (onde já existe contestação) e na segurança social (onde a contestação chegará com o aumento brutal do desemprego e um não aumento do apoio a quem perde emprego).


De Rui Felício a 27 de Outubro de 2011 às 17:04
Eu não me lembro de ninguém de peso da oposição nessa altura falar da crise do subprime, da falência da lehman brothers, do caos que aí vinha por causa disso. Mas posso estar enganado. Nem sequer sei o que poderia ter sido feito desde essa altura para evitar o choque da crise e o que terá sido recomendado pela Manuela Ferreira Leite sobre isso. O que sei é que a Europa toda foi toda apanhada, e os Estados Unidos, pelo que com certeza não terão ouvido a manuela Ferreira Leite.
Pronto, vamos seguir em frente. O governo é outro e diz que as medidas que está a tomar são boas e, de qualquer maneira, inevitáveis, não há outras possiveis, etc. Vamos ver. Eu, como digo, não percebo como se chega lá com estas medidas. Mas espero vir cá daqui a quatro anos engolir tudo, muito satisfeito.


De anónimo a 27 de Outubro de 2011 às 17:52

Também era melhor que em seis anos e meio não arranjasse escolas dando as melhores condições às crianças …
O que está francamente mal, entre outras coisas, é não ter apoiado os casais com filhos, retirou-lhes sem dó, o abono. Um inconsequente.


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