Não está em causa a bondade das palavras do 1.º Ministro, mas sim uma apreciação sobre os termos em que esta função deve ser exercida, nomeadamente quanto ao discurso. Parece-me que Pedro Passos Coelho ainda não percebeu bem a diferença entre ser um bom amigo e um 1.º Ministro de uma nação. De um amigo nós queremos ouvir bons conselhos, queremos ouvir sempre a verdade, por mais dura que ela seja. De um 1.º Ministro nós precisamos de saber um caminho, que nunca pode passar pela desistência de viver no nosso país. Passos Coelho é claramente boa pessoa, homem sério e com valores, mas na política isso não basta. A política é suposto também ser um instrumento de transmutação da realidade. Com isto não quero dizer que deve ser exercida com mentira, mas deve ter a capacidade de mobilizar um povo para ultrapassar as dificuldades, por maiores que elas sejam. E para isso é necessário psicologia colectiva. Portanto, por mais sério que esteja a ser, um 1.º Ministro não pode dizer que temos que empobrecer ou emigrar.
Se Churchill fosse um bom amigo, aquando dos sistemáticos bombardeamentos da poderosa aviação alemã sobre Londres, teria dito aos ingleses para se pirarem dali para fora ou teria entregue as chaves da cidade a Hitler. Mas era 1.º Ministro...