Já aqui disse por mais de uma vez que não sou frequentador de "redes sociais". Não tenho facebook nem conta no twitter. Conta só no banco e books só nas prateleiras cá de casa. Quando quero socializar recorro a métodos em total desuso e for de moda, como ligar a alguém, mandar um email e falar pessoalmente. Pode ser ao almoço, um simples café ou uma boa jantarada. Pode ser cá em casa, claro. Também não ando à caça de gente que não vejo há vinte anos, porque se eles fossem meus amigos não estávamos de certeza vinte anos sem nos falarmos. Conheço pessoalmente todos os meus amigos e amigas de há vinte anos e não quero engrossar a grupeta, obrigado. Vem isto a propósito do quê, que já não me lembro? Isso, do recurso permanente ao email para coisas de trabalho. Noto, desde que isto se tornou para mim uma ferramente imprescindível, que há uma crónica diferença entre o receptor tuga e, digamos, o receptor estrangeiro. Quando se envia um email a um académico, um cronista, um "gajo de alfama" qualquer americano, italiano, inglês, japonês ou o que seja, poucas horas depois há uma resposta na nossa caixa. "Sim", "não", "penso isto", "faça aquilo", "discordo", "concordo". É fácil chegar a qualquer tipo e conversar com ele. Já falei horas ao telefone com um autor americano que admiro depois de ele, simpaticamente, ter sugerido que por email dava demasiado trabalho. E um tuga, como é? Não é. Não responde. Não dá sinal de vida. Nunca tem tempo, nunca tem posição, não está para isso nem para nada. Estou obviamente a caricaturar, há excepções. Mas nota-se no trato. Na feitura do próprio email. Escreve-se um email a um yankee e a coisa vai educadamente simples. Envia-se a um tuga bem posicionado e perde-se uma tarde a pensar em cada linha, no cerimonial, na fórmula mágica de lhe chamar a atenção. Há uma arrogância de pacotilha, uma passadeira vermelha prévia a qualquer contacto. É triste, mas ainda é muito assim.