Onde é que eu gostava de estar agora? Em Nápoles. Não sei dizer porque a sinto como a minha cidade. Em princípio, é só uma cidade caótica, com problemas com a recolha do lixo e com umas quantas famiglias. Não é seguramente pelas pizzas (embora não se consiga comer outras depois de provar as "originais"). Nem pelo Vesúvio, que olha, ameaçador, de todo o lado - como um prenúncio de morte, dirão alguns, como um prenúncio de revolução, prefiro eu. E as pizzas e o Vesúvio são fortes razões.
Goethe, que sabia todas as coisas, escreveu que lhe faltavam os orgãos certos para falar de Nápoles. É capaz de ser isso: não consigo falar do fascínio que Nápoles exerce sobre mim. Só senti-lo.
Quando cheguei a Nápoles, sozinha, que é como se viaja bem, quase fui atropelada quando atravessei a primeira rua. E então?
Quando fui a Pompeia, meti-me no comboio errado e vi-me numa carruagem com gente de nariz adunco e aparência duvidosa. Também não teve mal.
Quando quis ver uns Caravaggios, a ala do museu estava fechada por falta de pessoal. E nem isso me desmobilizou.
Tive a impressão instantânea de ali poder viver, mudar-me logo no dia seguinte. Deve ser a parte de mim que gosta de ser arrebatada. Chamo-lhe Aventura?
A razão principal porque eu gostava de estar em Nápoles neste momento é porque me apetecia entrar no Museu de Arqueologia. Onde está o melhor de Pompeia. O mosaico com Alexandre, vibrante. O fresco com a Safo. O Hércules gigante que amedronta Ingrid Bergman na "Viagem a Itália".
Não por acaso, é um dos filmes da minha vida. É verdade que fui dar a Nápoles muito por causa desse filme. E por causa de Totó, que papei na infância até à exaustão.
Bom, sejamos realistas: tenho 12 horas de trabalho pela frente. A grande frustração é que não posso sequer roubar duas horas para ver o filme no dvd! Enquanto isso, posso sonhar com Nápoles.
Como diz o ditado, "Ver Nápoles, e depois morrer."
Nápoles dá-me vontade de viver.
Anabela Mota Ribeiro