Para além dos cuidados redobrados da organização da Cimeira da NATO em não cruzar as comitivas da Geórgia e da Rússia, há imprevistos que fogem a qualquer protocolo. Um deles foi o encontro entre Medveded e Obama: delegações que se cruzam e os dois presidentes, sem agendamento prévio, trocam impressões durante vinte minutos a sós e sem tradutores por perto. Sarkozy, esse, teve de esperar mais do que estava previsto para se encontrar, com agendamento prévio, com Medvedev. O terceiro contemplado nos encontros bilaterais russos foi Hamid Karzai.
Se o Tratado de Washington perdura desde 1949 só com 14 artigos, as 11 páginas do novo conceito estratégico fazem crer que se pode ultrapassar a próxima década com a mesma credibilidade.
Hoje no Diário de Notícias
ps. Vou tentar escrever qualquer coisa nos próximos dias sobre os três dias que passei na Cimeira da NATO. Agora vou dormir até 2ª e nem a Taça de Portugal me vai tirar da cama.
O mundo está demasiado perigoso e imprevisível para que democracias possam prescindir de capacidades militares e de alianças com sucesso.
Hoje no Diário de Notícias
A recente cimeira do G20 em Seul mostrou que a ordem internacional está a ser redefinida através dos equilíbrios económicos. Os propósitos dos países emergentes focaram-se na alterção, em seu benefício, da ponderação de voto no FMI, uma forma de reformar uma instituição através do poder que hoje em dia efectivamente têm (reparem que há quase uma desistência global para reformar o Conselho de Segurança).
O que isto significa é que os equilíbrios estão a ser feitos não nos fóruns políticos em sentido estrito, ou nos fóruns militares em sentido clássico, mas nos fóruns económicos e financeiros, onde as potências emergentes têm uma capacidade de impor posições com clara naturalidade. Este raciocínio encerra duas conclusões: primeiro, poder económico vai implicar investimentos militares - como já está a acontecer na China, Índia e Brasil, ou na diversificação de mercados, como a Rússia em relação à América Latina e Médio Oriente -; segundo, implicarão respostas desejavelmente concertadas das potências tradicionais, como as europeias e norte-americana. As cimeiras da NATO e UE-USA em Lisboa merecem, por isso, atenção.
Aparentemente, a economia está determinada a abafar os debates político e de segurança internacionais. Mas é apenas uma aparência: o poder tem múltiplas dimensões e aqueles que estiverem melhor apetrechados em todos os seus domínios serão mais capazes de liderar.
The greater Middle East represents a big challenge for the Atlantic Alliance. Afghanistan, Iraq, Iran’s nuclear ambitions and the Israeli-Palestinian conflict, are all issues of great concern for the allies. The question is: Does NATO have the right approach to deal with all these different scenarios?
Do meu artigo deste mês na Majalla Magazine.
Recently, American diplomats and military men invoked the constant tensions in the Middle East, namely the Israeli-Palestinian quagmire, as a source of radicalization feeding, at least morally, the Taliban insurgency in Afghanistan, and consequently creating more problems for US and NATO troops on the ground. The logic behind this linkage is the following: It is impossible to look at the Afghan theater without highlighting the importance of stabilization across the Middle East. Apparently, from promoting defense reform and sound civil-military relations to preventing nuclear proliferation, NATO members have more interest in this region than in any other. Is this really the case?
Começa assim o meu artigo na Majalla deste mês.
Por que é que a estratégia de contra-insurreição desenhada por Petraeus não está a dar os resultados esperados? Sobretudo porque política e economicamente existe uma falta de acompanhamento às campanhas militares. Vejamos. Para que a estratégia tenha resultados são precisos sobretudo seis grandes condições: um controlo efectivo das fronteiras, um grande número de tropas no terreno, um apoio dos grupos étnicos maioritários, um compromisso duradouro entre o exterior e o estado em construção, um governo local credível e coesão político-militar nos EUA. Já percebemos que poucas ou nenhumas destas condições estão a ser cumpridas. A esmagadora maioria das províncias tem hoje governos-sombra, a autoridade de Karzai para negociar localmente está na rua da amargura, as verbas da NATO e do Congresso são cada vez mais difíceis de obter, compromissos políticos dos governos com tropas no Afeganistão estão reféns da coragem dos seus líderes, a economia do ópio não é combatida regionalmente como deveria e a fragilidade do cabinet war de Obama está em claro défice de confiança depois da entrevista do general McChrystal. David Petraeus conseguiu que a surge no Iraque fosse muito mais um sucesso para a América do que para os iraquianos. Se conseguir fazer o mesmo no Afeganistão já não será pouco.
O assunto nunca foi pacífico, mas não deixa de estar novamente no debate estratégico da NATO: que relação deve ser estabelecida com a Rússia. Por um lado, continua a existir uma percepção de insegurança em muitos aliados face a Moscovo. Por outro, a complexidade das ameaças e a presença da Rússia em muitas matérias de segurança euro-atlântica, tornam relevante o estabelecimento de um novo patamar bilateral.
Este conceito estratégico que sairá da Cimeira da NATO em Lisboa deve, em primeiro lugar, vincar a prevalência do Artigo V, dando corpo normativo a uma solidariedade interna na Aliança que não tem vivido (em boa verdade, nunca viveu) tempos de acalmia. Além disso, devemos ser capazes de colocar no debate a melhor forma da NATO colocar as questões a Moscovo, abrindo-lhe a porta da adesão – pondo-lhe pressão no cumprimento dos critérios e afirmando uma disponibilidade para dialogar que esfrie a tensão para futuros alargamentos -, ou mantendo-a numa parceria estratégica especial.
Ontem, o Parlamento sérvio deu um passo importante na normalização do país. É assim, quando a memória persegue as nações e não as deixa avançar nas suas escolhas. Quais? A adesão à NATO e à UE. Toda a região dos Balcãs vais estar integrada nas organizações estruturantes do espaço Euro-Atlântico na próxima década e só aí será possível ultrapassar o passado demasiado negro que a envolveu. Não interessa agora as causas nem as consequências. Todos as conhecem. O que é relevante é a solução encontrada e escolhida. Se a NATO e a UE não derem as estes alargamentos a prioridade e a importância que eles merecem, não estão a cumprir o seu papel. Neste curto-médio prazo, qualquer ultrapassagem por outras regiões no dossier do alargamento é um erro. E cometer mais um começa a ser uma estupidez e um preço demasiado alto a pagar.